Cozinha Bruta https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br Comida de verdade, receitas e papo sobre gastronomia com humor (bom e mau) Mon, 13 Dec 2021 21:07:14 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 80 razões para detestar o Natal https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/12/21/80-razoes-para-detestar-o-natal/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/12/21/80-razoes-para-detestar-o-natal/#respond Sat, 21 Dec 2019 05:00:09 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2018/12/thanksgiving-3837327_1920-320x213.jpg https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=1915 O panetone murcho. A rabanada oleosa. O espumante doce. O tender doce. A farofa doce. O arroz doce que não é sobremesa. O peru sem gosto de nada. O lombo árido. Passar a meia-noite com a família do conje. Ou pior, passar com a própria família. O tio reaça. O primo reaça. O sobrinho reacinha. Os rojões do vizinho demente. Quebrar nozes. Comer nozes nos doces. Comer nozes nos salgados. Descascar castanhas portuguesas até sangrar embaixo da unha. Os filmes cretinos reprisados na TV. No telejornal do almoço do dia 24, a notícia de que já Natal na Austrália. A vinheta de fim de ano da Globo. A árvore de Natal do parque Ibirapuera. O trânsito causado pela árvore de Natal do parque Ibirapuera. A rua Normandia. A Disneylândia natalina de Gramado. Doces com ameixa. Doces com damasco. O Bolsonaro com gorro de Papai Noel. O Bolsonaro sem gorro de Papai Noel. Os santos do pau oco. A metamorfose do supermercado, que faz surgir tender e panetone onde antes havia comida. A muvuca no supermercado. A muvuca no shopping. Estacionar no shopping. O shopping. O infeliz suadão, de pijama vermelho e barba postiça, que faz um bico no shopping e pega seu filho no colo. A trilha sonora do comércio. A música da Simone. O maldito do John Lennon, por ter composto a música da Simone. As matérias requentadas do jornal. A maratona de retrospectivas inúteis. Papai Noel descendo de helicóptero em algum estádio nos cafundós do Brasil. A padaria fechada. O boteco fechado. O restaurante fechado. Tudo fechado na cidade. O sumiço dos táxis. O preço (abre aspas) dinâmico (fecha aspas) do Uber. Os concidadãos bêbados. Os concidadãos bêbados que pegam o carro e vão fazer merda na rua. O tio do pavê. O jovem lacrador que faz piadas dignas de tio do pavê sobre o tio do pavê. O pavê. Fingir que gostou do pavê. As frutas cristalizadas. As frutas secas. As frutas em calda. O salpicão. O frango defumado. O vinho do porto ordinário que o pai abriu no Natal de 1983 e ainda serve como se fosse um tesouro. A mãe dizendo que você engordou. O fato de ser verdade o que a mãe disse. Desembaraçar os fios do pisca-pisca da árvore de Natal. O amigo secreto. A troca de presentes sem amigo secreto, que sai muito mais cara. Os presentes sem serventia. Usar a camisa medonha que o tio deu no Natal passado, porque a mãe pediu para você usar. Precisar sorrir. A geladeira lotada, que não gela a cerveja direito. O primo mala, que rouba as cervejas que você escondeu no freezer. O outro primo mala, que tira as cervejas da geladeira para colocar o refrigerante de 2 litros. A sobremesa indecifrável que a tia trouxe num tupperware. A visita que nunca vai embora. A carona que não te deixa ir embora da casa dos outros. A after party da depressão. Acordar de ressaca. O sorvete de panetone. O panetone de sorvete. As 500 modalidades criativas de panetone gourmet. Almoçar os restos da ceia no dia seguinte. Alimentar-se dos restos da ceia pelo resto do ano. Por último, mas não menos importante, as montanhas de louça suja.

E olha que eu não falei das uvas passas.

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Cerveja homofóbica exibe a face boçal das micro-cervejarias https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/09/12/cerveja-homofobica-exibe-a-face-bocal-das-micro-cervejarias/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/09/12/cerveja-homofobica-exibe-a-face-bocal-das-micro-cervejarias/#respond Thu, 12 Sep 2019 16:04:21 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2019/09/cervereaca-320x213.jpg https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=1709 Quando o movimento da cerveja artesanal começou a ganhar corpo no Brasil, lá por 2010 (ou um pouco antes), acompanhei com entusiasmo. Sempre gostei de beber cerveja e, além do mais, aquele pessoal parecia ter um espírito inovador, progressista, contestador… também sempre fui da turma dos revoltadinhos.

“Revolução” era uma palavra usada com leviandade excessiva pelos cervejeiros. Isso me irritava um pouco, mas eu relevava. Tínhamos uma cena realmente excitante de gente que se contrapunha ao massacre dos gigantes do dinheiro graúdo.

Cerveja, rock e contestação, tudo parecia combinar. Cheguei a fazer curso de sommelier e peguei alguns trabalhos no setor –com a turma da grana grossa, pois os outros lutavam para sobreviver, e eu também.

Meu interesse murchou na mesma medida em que conheci melhor o setor. Os interesses individuais mesquinhos. As intrigas de vilão de HQ. A pose de punk de butique daqueles que só estavam a fim de faturar num filão inexplorado do mercado.

Perdi totalmente o tesão com as eleições do ano passado, quando muita gente influente na cena cervejeira explicitou suas convicções reacionárias.

Eis que agora aparece algo surpreendente até para o panorama direitista que predomina na cerveja artesanal: uma cervejaria declaradamente homofóbica, vinculada a uma seita católica fanática.

A Saint Arnulf, de Montes Claros (sertão de Minas Gerais), publicou em sua página de Facebook um manifesto de repúdio aos movimentos GLBT (sic). Assim, do nada, sem ninguém lhes perguntar a opinião sobre o assunto.

Foram trollados e –ai, tadinhos!– começaram a se queixar da intolerância religiosa dos internautas.

A cervejaria é ligada a uma certa Sociedade Santíssima Virgem Maria, uma confraria de carolas ultraconservadores que pretende instalar na Terra um reino divino, a começar pela pulsante Montes Claros.

Como resumiu muito bem o mestre Contardo Calligaris, em seu artigo de hoje, aqui na Folha:

“É uma regra da sociologia dinâmica: os boçais querem impor aos outros as normas que eles mesmos não conseguem respeitar. Da mesma forma, o catequizador exige dos outros uma fé que ele não tem.”

Tempos sombrios. Tempos boçais.

Quanto à cerveja dos mineiros, ela é só uma hipérbole da cara feia que a cena artesanal não precisa mais esconder.

Se é boa? Não quero nem saber.

P.S.: Sei que serei criticado por pessoas de pensamento semelhante ao meu, por ajudar a divulgar o obscurantismo. Perdão, eu sou jornalista. Tenho poucas convicções: uma delas é a certeza de que o conhecimento é sempre melhor do que a omissão.

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Cerveja com gosto de picles arromba os limites do bom senso https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/09/05/cerveja-com-gosto-de-picles-arromba-os-limites-do-bom-senso/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/09/05/cerveja-com-gosto-de-picles-arromba-os-limites-do-bom-senso/#respond Thu, 05 Sep 2019 17:23:18 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2019/09/pickled-cucumbers-1520638_1920-320x213.jpg https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=1696 Fui ontem conferir a primeira noite do Mondial de La Bière Rio, megafestival de cervejas que ocupa três galpões gigantes do Pier Mauá, na zona portuária.

Recomendo o passeio a qualquer um que goste de cerveja e tenha interesse em conhecer as novidades do setor. Eu acompanho os festivais de cerveja há quase dez anos: a coisa nunca esteve tão profissional e bem organizada. Tem muita cerveja boa. Sem falar que o espaço, à margem da baía de Guanabara, é sensacional.

Agora, falando em novidades: o pessoal da cerveja artesanal passou de qualquer limite razoável na criatividade dos lançamentos. Vamos a alguns exemplos.

A cervejaria Three Monkeys, aqui do Rio, tem cinco torneiras de chope apenas para as gose –estilo alemão ácido e salgado. Sim, salgado. Algo que deveria ser nota de rodapé na literatura cervejeira foi transformado em tendência global.

Se não bastasse, as tais gose têm as seguintes especificidades: al mare (tinta de lula, ostras e limão), thai curry (curry e leite de coco), oriental (shoyu, wasabi e gengibre). Perto delas, a honey mustard (mostarda e mel) parece normalzinha. Eu provei a gazpacho (picles de pepino e tomate). O gosto é perturbador, igual ao da água que sobra no pote de picles depois que você tira os pepinos.

Outros expositores vendiam IPA com baunilha, stout com paçoca, cervejas com melancia, com suco de abacaxi… A Noi, de Niterói, trouxe uma cerveja chamada O Cupuaçu Abunda. O trocadilho é bom, a cerveja eu não quis provar.

O pessoal perdeu a mão, não entendeu que inventividade é só um dos atributos desejáveis a qualquer negócio que se pretenda inovador.

As cervejas citadas acima não lembram em nada o sabor que classicamente remete a “cerveja” –isso não chega a ser um problema, já que há dezenas de estilos cervejeiros com características muito diferentes entre si.

O problema é: algumas dessas bebidas são intragáveis. De que adianta você inventar um troço que vai chocar e surpreender, mas que ninguém vai passar do primeiro gole?

Não é conservadorismo, é puro bom senso. Eu entendo só um pouquinho de cerveja –fiz curso de sommelier e escrevo há bastante tempo sobre o assunto, mas tenho uma preguiça monstruosa de acompanhar o setor. Já não é de hoje que os cervejeiros estão desesperados para criar novidades e sacudir artificialmente um mercado com sinais de estagnação.

Eu entendo um pouco mais de cozinha. Sei que um prato deve ser equilibrado e, em última análise, agradável. O mesmo vale para as bebidas. Uma receita genial no papel pode se revelar um desastre na boca. E isso tem um agravante no caso das cervejas: o criador da tal receita só vai saber o resultado depois de semanas do início da produção, que nunca é muito pequena.

Eu quero beber cerveja gostosa. Se eu quisesse beber água de picles, eu comprava picles.

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Que venha a cerveja 100% milho https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/07/13/que-venha-a-cerveja-100-milho/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/07/13/que-venha-a-cerveja-100-milho/#respond Sat, 13 Jul 2019 05:00:51 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2019/07/pop-corn-785074_1920-320x213.jpg https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=1606 Fez muito barulho a assinatura, pelo presidente Jair Bolsonaro, do decreto 9902 –a gritaria se deveu à supressão, na fabricação da cerveja, do limite da adição de milho e de outros cereais supostamente menos nobres do que a cevada maltada.

A imprensa saiu berrando porque conhece superficialmente o negócio cervejeiro, e a questão “puro malte” versus “cerveja de milho” virou assunto de botequim –de forma duplamente literal– nos últimos anos.

O entusiasmo da mesa de bar não compensa a falta de conhecimento específico. O texto do decreto atende a demandas antigas do setor. É uma raríssima convergência de interesses da indústria monstra e dos produtores menores –os autoproclamados artesanais.

Até o Bolsopresidente, figura que eu adoro detestar, é inocente no caso. Sua participação se limitou a autografar o documento.

Em resumo, o setor cervejeiro se queixava das amarras da legislação. Mel não podia na cerveja nacional –ingredientes de origem animal obrigavam a indústria a rotular o produto como “bebida alcoólica mista”. As cervejas importadas, contudo, já chegavam rotuladas da origem. Tivessem mel, leite, presunto, formiga ou bicho-de-pé.

Não cabe à Presidência da República legislar sobre a composição da cerveja. Por isso, o texto vago e genérico do decreto (tiny.cc/gd2m9y) foi celebrado por todos –ou quase todos– no meio da cerveja. As minúcias normativas devem ficar por conta de órgãos técnicos especializados.

Ou assim deveria ser. No Brasil, nunca se sabe.

De qualquer modo, o problema da cerveja não é o milho nem o arroz.

Que venha a cerveja 100% milho. A cerveja de risoto. De batata frita.

O problema da cerveja é a frouxidão e as idiossincrasias nas regras que definem a rotulagem.

Tal cerveja é “extra”. Que diabo é isso? Diz a lei: “Na cerveja extra o teor de carboidrato (açúcar) não poderá exceder a dez por cento do extrato primitivo.”

Excelente. Mas o que é “extrato primitivo”? Então…

Em compensação, vá tentar saber o que realmente existe na cerveja que você compra. A lista de ingredientes da Skol, fabricada pela Ambev, diz: “água, malte, cereais não-maltados, lúpulo e estabilizante INS 405”

Cereais não-maltados podem ser milho, arroz, aveia, quinoa, trigo para quibe, alpiste ou painço. Em que proporção eles entram?

Já a Schin, produzida pela Kirin (Heineken) acrescenta carboidratos e antioxidante INS 216 à receita. Carboidratos, gente. Pode ser simplesmente açúcar. Ou algum xarope que fermenta que é uma maravilha, mas não deixa a cerveja pesada.

Com os rótulos que a gente tem hoje, ninguém sabe de fato o que está bebendo na cerveja.

Que venha a cerveja de bosta, desde que a quantidade de bosta esteja detalhada na embalagem. Aposto que muita gente vai gostar.

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Beber cerveja atrai o mosquito da dengue para a mesa do bar https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/01/31/beber-cerveja-atrai-o-mosquito-da-dengue-para-a-mesa-do-bar/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/01/31/beber-cerveja-atrai-o-mosquito-da-dengue-para-a-mesa-do-bar/#respond Thu, 31 Jan 2019 12:54:50 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2019/01/beer-820011_1920-320x213.jpg https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=1202 Beber cerveja atrai mosquitos sugadores de sangue. Essa é a conclusão de dois estudos citados em uma reportagem da BBC publicada ontem.

Disso eu sempre soube.

Quando viajo à praia ou ao mato, sou eu o alvo preferencial de pernilongos e borrachudos. Já fui devorado na Amazônia Ocidental e na Ilhabela Oriental. No norte do Rio Grande do Sul e no sul do Rio Grande do Norte. O repelente parecia não funcionar. Algo me dizia que o consumo colossal de cerveja tinha algo a ver com isso.

Faltava descobrir a razão do fenômeno.

Eu cheguei a pensar que o álcool eliminava, na urina e no suor, substâncias naturalmente repelentes. Tomei cápsulas de complexo vitamínico. Além de continuar sendo picado, fiquei fedorento.

Eis que, de acordo com os estudos citados no texto –um feito no Japão, e outro em Burkina Faso– é o inverso que acontece. O problema não está naquilo que o álcool elimina: a birita atrai os insetos lazarentos.

Os pernilongos acham apetitosas as peles besuntadas de suor alcoólico. E mais: os cairomônios, sustâncias também encontradas no suor dos cervejeiros, podem ser outro fator de atração dos bichos.

Ou breja: beber na praia aumenta o risco de dengue. Mas para que ir à praia sem poder tomar cerveja.

Esse é um dilema que cabe à ciência resolver.

E, AGORA, O MERCHAN: agora você tem receitas exclusivas da Cozinha Bruta no Instagram. Acompanhe também os posts do Facebook  e do Twitter.

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Comida e cerveja na barbearia: uma ideia de jerico https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2018/11/06/comida-e-cerveja-na-barbearia-uma-ideia-de-jerico/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2018/11/06/comida-e-cerveja-na-barbearia-uma-ideia-de-jerico/#respond Tue, 06 Nov 2018 12:51:35 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2018/11/barbearia-320x213.jpg https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=964 Algumas coisas definitivamente não combinam.

Sunga com sapato social. Açaí com vinho tinto. Camisa branca com restaurante japonês.

Fico aqui matutando por que diabos alguém achou que seria legal combinar comida e bebida com barbearia.

O pior é que as massas adoram. Não que isso conte pontos para a “bar-bearia”: o Brasil tem vocação inequívoca para abraçar ideias de jerico.

Existe um motivo para que cozinheiros sempre usem o cabelo curtinho – ou touca, turbante, boné… qualquer coisa que cubra a cabeça. Fios de cabelo caem, voam e vão parar no prato do cliente.

Numa barbearia, a atmosfera é cheia de fragmentos de cabelo, de barba e de outros pelos. Eles estão pelo chão, no ar, nos móveis, nas roupas dos profissionais. Por que comer em um lugar assim?

As operações são separadas, alguém pode argumentar. Beleza: salão de barbeiro no térreo e restaurante na sobreloja. Os bastidores estão fora do campo de visão do cliente, esse é o ponto.

Mesmo que não haja contaminação, a ideia é bizarra por si. Você dormiria num hotel que também é funerária? “Nenhum defunto deitou nesta cama, posso lhe garantir.”

Há a questão da bebida também. O conceito de barbearia hipster e gourmet envolve sempre uma cervejinha grátis. Além de rock, objetos que remetem ao motociclismo, às vezes até um hambúrguer com muito bacon. Tudo para fazer o freguês levitar de tanta virilidade.

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Você já tentou beber enquanto alguém lhe faz a barba?

Para os seres humanos de ambos os sexos que nunca sentaram na cadeira de barbeiro, vou explicar como a coisa funciona.

O sujeito põe um babador em você e reclina o encosto até quase deitar. Aí cobre seus olhos com uma toalha, pois vai voar barba para todo lado. Com uma tesoura ou com a máquina elétrica, vai aparando os pelos. A boca fica cheia de fiapos.

Imagine tomar um bom drink nessa situação.

Eu já passei por isso. Fui a um evento de coquetelaria que presenteava os convidados com um tapa na barba. Pão-duro que sou, aceitei e levei meu gim tônica comigo.

Precisava pedir para o chefia interromper o trabalho sempre que eu queria dar um gole. Engoli cabelo até dizer chega.

Como último argumento, tente enxergar a cena pelo outro lado: o do barbeiro.

Uma vez, o cara que fazia a minha barba reclamou que a freguesia arrota na cara dele quando toma cerveja. É natural. Você engole uma bebida gasosa e deita de barriga para cima. O gás tende a sair.

Você não quer arrotar na cara do seu barbeiro, quer? Por mais chato que seja o papo do cara, é muita sacanagem. Ou não?

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Jantar harmonizado? Passo https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2018/09/29/jantar-harmonizado-passo/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2018/09/29/jantar-harmonizado-passo/#respond Sat, 29 Sep 2018 05:00:40 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2018/09/harmonizacao-320x213.jpg https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=873 Vou revelar algo que não me enche de orgulho: quando como fora, escolho o vinho pelo preço. Costumo pegar o segundo vinho mais barato da carta. Meus brios me impedem de pedir o mais barato de todos –e assumir o papel de pobretão absoluto. Ridículo, mas verdadeiro.

Não sou um completo ignorante na matéria. Estudei, li, fui a dezenas de degustações, escrevi. Uma pena que minha verba seja insuficiente para torrar na bebida que me der na telha. Jantar em restaurantes é um esporte caro, e o vinho tem o mágico poder de multiplicar esse custo.

O mercado das bebidas –vinho e, mais recentemente, cerveja– exerce uma pressão para que o consumidor aprenda a harmonizar seus goles com a garfada certa. Totalmente compreensível: há uma montanha de empregos em jogo, do sommelier ao sujeito que produz a rolha lá em Portugal. É preciso fazer a máquina girar e gerar grana.

Duas coisas me incomodam na compra casada de comida e bebida.

Primeiro: achar o par ideal pode ser uma tarefa penosa, quiçá impossível. Relativamente fácil quando há somente um prato a combinar, mas as pessoas raramente jantam sozinhas – e é mais rara ainda a situação em que todos de um grupo pedem a mesma comida. Como proceder? Pedir taças de vinhos diferentes? É levar a coisa a sério demais.

Segundo: a degustação e a harmonização exigem um certo esforço intelectual. É justamente o que eu não quero quando eu saio para jantar. Quero uma noite divertida, sem ter que pensar sobre o que há na mesa. Profissionais da área gostam da brincadeira. Eu não.

Esses profissionais podem, sim, ajudar o cliente. Nada contra o sommelier, tenho amigos e inclusive fiz um curso, mas nada me convence de que ele não vai tentar vender um vinho caro. Para que o sujeito é pago, afinal? Sou turrão, prefiro me estrepar sozinho.

Idealmente, a harmonização de um alimento com uma bebida resulta em um terceiro sabor, que deve proporcionar prazer intenso. Algo sublime e esotérico demais para a minha compreensão.

Eu me contento quando não existe desarmonia. Cabernet sauvignon com sardinha, por exemplo. Ou bolo de chocolate com Coca-Cola. Carne com vinho branco não mata ninguém.

Para quem tem medo de errar, existem três curingas que não estragam nenhuma refeição: água, espumante brut e cerveja ordinária.

Cerveja aguada é o champanhe das cervejas, já disse o chef norte-americano David Chang. Mais fraco o gosto a bebida, menor a chance de uma interferência desagradável na comida. E é a comida a estrela da maioria dos jantares – a não ser que se trate de uma degustação, fica reservado ao vinho o papel de coadjuvante. Ou à cerveja vagabunda.

 

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Cerveja congelada é a nova moda nos botecos https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2018/08/24/cerveja-congelada-e-a-nova-moda-nos-botecos/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2018/08/24/cerveja-congelada-e-a-nova-moda-nos-botecos/#respond Fri, 24 Aug 2018 12:57:11 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2018/08/chope-320x213.jpg https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=756 Aconteceu pela primeira vez no Rio. Estava com um grupo de amigos do Cachambeer, o bar mais ogro deste universo – em breve, farei um post sobre o boteco e suas porções pantagruélicas. Bebíamos chope, é claro (Rio de Janeiro, afinal).

Antes de servir a rodada seguinte, o garçom pergunta:

— Chope normal ou frozen?

P-p-peraí. Que diabos é chope frozen?

Fico sabendo que o tal chope frozen, como se deduz facilmente, é parcialmente congelado. A espuma e o topo do líquido chegam com pequenos cristais de gelo que derretem em contato com a boca do bebedor.

Aparentemente, isso é apreciado no Cachambi.

Mas não apenas lá.

Semanas depois, viajei para Vitória, no Espírito Santo. Em pelo menos três bares, serviram-me a cerveja gelada demais. O primeiro copo ganha raspadinha, os outros bebida líquida.

Em todas as vezes, chamei a atenção do garçom – em nenhuma delas, ele cogitou por conta própria a possibilidade de trocar a garrafa. Só ouvi palavras tranquilizadoras: “tenha calma, vai derreter logo”.

Pelo jeito, Vitória também gosta de cerveja congelada.

Qual é o problema, Brasil? Sei que moramos numa fornalha, na antessala do inferno. Sei também – e empatizo com a ideia – que, para aplacar o calor, o povo bebe alguns graus abaixo dos recomendados nos manuais de degustação.

Mas cerveja congelada não dá. Primeiro, porque eu vou no bar para beber, não para tomar sorvete. Segundo, porque a cerveja perde quase todo o gás quando congela e derrete de novo.

E você, o que acha de tomar a cerveja assim?

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O dia internacional da desculpa esfarrapada para beber https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2018/08/03/o-dia-internacional-da-desculpa-esfarrapada-para-beber/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2018/08/03/o-dia-internacional-da-desculpa-esfarrapada-para-beber/#respond Fri, 03 Aug 2018 05:00:19 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2018/08/cerveja-320x213.jpg https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=724 Hoje é o dia internacional da cerveja. Que coisa, não? Até o ano passado, quando fiz um trabalho para uma cervejaria, eu não conhecia essa data tão importante para o calendário global.

Sei que você não está nem aí, mas vou contar assim mesmo: o dia internacional da cerveja foi inventado em 2007 por um fulano chamado Jesse Avshamolov, prodígio em marketing digital no Vale do Silício. Em seu perfil do LinkedIn, Jesse descreve a ideia como “um experimento sobre viralização que dá terrivelmente certo”.

Ele estipulou que a data deve cair na primeira sexta-feira de agosto, por duas razões: 1) porque é sexta-feira e; 2) porque é verão na Califórnia.

Aqui estamos no meio do inverno, mas… sei, você nem quer saber. Tampouco querem saber as cervejarias interessadas. Muito menos o comércio. Os colunistas sem assunto, então… Se temos uma desculpa para beber cerveja, o que importa que essa desculpa seja esfarrapada?

O ano está cheio de festas inventadas para o pessoal gastar dinheiro. Dia das Mães, Dia dos Pais, Dia das Crianças, Dia dos Namorados, Dia da Secretária, Dia do Amigo, Dia do Concunhado, Natal. Ops, desculpe, a última é uma data religiosa. Mal aí.

O setor de alimentação adora a brincadeira. Temos o dia do churrasco (24/4), o dia do sushi (18/6), o dia da pizza (10/7) e o dia do macarrão (25/10), para citar alguns. Estou pensando em criar o Dia Internacional do Blogueiro de Gastronomia, mas ainda não encontrei uma fórmula para monetizar a parada.

E os cervejeiros? O que não falta é festa tirada da manga: Oktoberfest, dia de São Patrício (17/3), o fim-de-semana da cerveja belga, em setembro (ou você acha que os belgas iriam se contentar com um dia apenas?), o dia da IPA (em novembro), a festa da cerveja do sindicato dos ascensoristas de Coqueiral do Brejo.

Quem gosta de cerveja também gosta de gim (segundo sábado de junho), de cachaça (13/7), de malbec (17/4), de absinto (5/3) e de sidra (3/6).  O 4 de outubro marca a celebração do Dia do Vinho Georgiano, com eventos em Tiblisi, Telavi, Batumi, Kutaisi, Zugdidi, Ambrolauri, Ozurgeti e Gori. Uma festa regional de um país do Cáucaso –por que não a adotar aqui também?

Se somarmos o Carnaval, o Ano Novo, as férias de verão e de inverno, todas as sextas-feiras e fins-de-semana, todos os feriados e respectivas pontes, todos os casamentos, batizados e aniversários, todas as vésperas de feriado, todas as alegrias a celebrar e todas as decepções a entorpecer, estou certo de que completaremos a folhinha com desculpas perfeitas para encher a cara.

Sem falar nos anos bissextos, quando ocorre a celebração quadrienal do 29 de fevereiro, o 366º. dia. A próxima é em 2020 e acontece numa quarta-feira. Excelente, porque dá para enforcar a semana inteira. Anote já na sua agenda.

 

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Cerveja belga é a melhor do mundo… para tomar porre https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2018/07/05/cerveja-belga-e-a-melhor-do-mundo-para-tomar-porre/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2018/07/05/cerveja-belga-e-a-melhor-do-mundo-para-tomar-porre/#respond Thu, 05 Jul 2018 15:22:03 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2018/07/beer-1063779_1280-320x213.jpg http://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=685 Acabo de ver um anúncio de Instagram que transformava a partida de amanhã (6/7) pela Copa, entre Brasil e Bélgica, numa combinação mágica para o churrasco perfeito: nós temos a melhor carne, eles têm as melhores cervejas do mundo.

Sei que todo marketing é empulhação, mas não consigo me segurar. Não vou nem discutir o mérito da carne. Fiquemos só com as cervejas do oponente.

Dizer que a Bélgica faz as melhores cervejas do mundo equivale a dizer que a Itália faz o melhor macarrão. Sério? Existe uma comparação objetiva possível entre a massa italiana e a chinesa? Claro que não. Também não dá para comparar, em termos de qualidade, cervejas belgas, alemãs e inglesas. São escolas completamente diferentes.

Para começar, é difícil definir o que é uma cerveja belga. O país produz lager clara e refrescante, como o resto do mundo: nela, é tecnicamente correto, mas não se destaca. Faz a lambic à moda antiga –uma cerveja que fermenta em tanques abertos, coletando micro-organismos do ambiente, com produto final ácido. É famoso pela maluquice da saison, estilo rústico que admite quase qualquer ingrediente.

O que as pessoas costumam entender como “cerveja belga” é meia dúzia de estilos de ale bastante alcoólica, com forte aroma de especiarias e levemente adocicada. Duvel, Karmeliet, Chimay, Delirium Tremens, Leffe, essas coisas.

Pois então, essas bebidas são relativamente recentes. Trata-se de receitas do século 19, quando o trago favorito dos belgas era o jenever, destilado primo do gim. O reino da Bélgica tinha um grave problema de saúde pública com os alcoólatras. Para controlar a epidemia de pinguços, impôs sobretaxas e restrições às bebidas fortes de um lado. Do outro, estimulou o consumo de cerveja.

Mas os bebuns da Bélgica não estavam contentes em pular de 40 graus alcoólicos para 5. Assim, os cervejeiros deram um jeito de acrescentar açúcar à receita antes da fermentação: o teor de álcool dobrou, sem deixar a cerveja encorpada demais. São ótimas bebidas, apenas que essa é a história delas.

Resumindo, as cervejas belgas são as melhores do mundo… para quem quer ficar bêbado rapidinho.

 

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