Cozinha Bruta https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br Comida de verdade, receitas e papo sobre gastronomia com humor (bom e mau) Mon, 13 Dec 2021 21:07:14 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Jamais nos libertaremos dos horríveis sachês de ketchup https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2020/09/03/jamais-nos-libertaremos-dos-horriveis-saches-de-ketchup/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2020/09/03/jamais-nos-libertaremos-dos-horriveis-saches-de-ketchup/#respond Thu, 03 Sep 2020 13:45:42 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2020/09/sache-320x213.jpg https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=2454 Outro dia, voltando de viagem, cheguei a SP um pouco antes das 15h, sem almoçar. Se fosse cozinhar ou pedir comida, a demora seria torturante. Perto de casa tem uma hamburgueria dessas de rede, mas com qualidade bastante razoável. Estava vazia. Parei para comprar um sanduíche, algo marcante em 2020 –havia vários meses que eu não levava meu pesado corpinho a nenhum bar ou restaurante.

Reparei em algo enquanto, do lado de fora, esperava o pedido ficar pronto: as bisnagas de ketchup, mostarda e molho barbecue haviam sumido. Óbvio e correto. Se você não pode apertar a mão de ninguém, melhor não pegar um tubo de ketchup com a baba de um corongado desconhecido.

Pensando bem, muito bem de verdade, o tubo de ketchup compartilhado é um lance bem eca.

Quando eu cresci, nos anos 1980, as lanchonetes serviam os condimentos em bisnagas genéricas: vermelha para o ketchup, amarela para a mostarda. Os adolescentes espírito-de-porco deixavam frouxa a tampa, para que o cliente seguinte causasse um desastre imundo. Os adolescentes mais escrotos ainda cuspiam lá dentro e encaixavam de volta a tampa.

Mas… só para lembrar que existiu um mundo anterior à pandemia, eu os adoro. Não os adolescentes-diabos. O tubo de ketchup. A garrafa de azeite. O saleiro.

Todos vão sumir dos restaurantes, se as autoridades sanitárias forem minimamente competentes.

Serão (foram) substituídos pelos pavorosos sachês. Um horror de design, funcionalidade e estética. Necessários para frear a contaminação, porém.

Fico imaginando como um restaurante de luxo justifica a presença de sachês de sal Lebre sobre suas toalhas de linho egípcio de um bilhão de fios.

É mais uma das pegadinhas de 2020… sermos reféns dos horríveis sachês. Jamais nos libertaremos deles.

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Feijoada com sabor de broxada https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2020/07/11/feijoada-com-sabor-de-broxada/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2020/07/11/feijoada-com-sabor-de-broxada/#respond Sat, 11 Jul 2020 05:00:24 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2020/04/feijoada.jpg https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=2319 Meu filho de 7 anos adora comida de avião.

Eu, na idade dele, ainda não havia viajado pelo ar. Sonhava poder traçar um macarrão a 36 mil pés de altitude.

Ainda caio, de vez em quando, no conto do avião. Poucos anos atrás, num voo da Singapore, fui fisgado por um menu de meia dúzia de coquetéis no serviço da classe econômica.

Pedi um singapore sling, em homenagem à bandeira da companhia e, óbvio, ele estava intragável. A fórmula original leva gim, licor de cereja e outras bebidas doces. Já deve ser enjoativa o bastante. O copo plástico que eu recebi da comissária continha algo parecido com Ki-Suco.

Também, o que eu esperava? Que houvesse um barman, cortando limões para a caipirinha, ao lado da cabine de comando? Aquele era o drinque possível, e o possível nem sempre é aceitável.

Serviço de bordo só tem um ponto positivo: a expectativa com a viagem. O misto-morno da Latam, para o meu Pedro, equivale a encontrar a avó em Vitória.

Analisada friamente, a experiência de comer dentro de um avião é um lixo. A refeição em si é pífia, mas o que pega mesmo é o canhestro da coisa. Falta de espaço para as pernas, para os braços e para os alimentos na bandeja; sachês e talheres plásticos e potinhos disso e daquilo e um marmitex com o prato principal; a tripulação passando com um carrinho de lixo para recolher tudo no final.

As refeições em bares e restaurantes tendem, na ressaca da pandemia da Covid-19, a ficar parecidas com o jantar de avião.

O rigor sanitário mata a espontaneidade de uma saída para comer ou tomar todas com os amigos.

Hoje, no almoço, teremos o primeiro teste paulistano em horário de pico. Como a prefeitura vetou a operação após as 17h, o que houve durante a semana foi a frequência utilitária de quem trabalha na rua.

Será uma estreia de gala, com a sagrada feijoada do sábado. A primeira feijoada na nova era.

Vila Madalena em furor. Talvez dê ruim, como deu no Leblon. Espero que não. Se tudo der certo, o almoço terá sabor de broxada, de frustração.

Para começar, há o medo. Não há como deixá-lo em casa.

No restaurante/bar, há de se lidar com: garçons paramentados como especialistas em desarmar bombas químicas, sal em sachê, pimenta em sachê, azeite em sachê, mesas interditadas ao redor, tira máscara para dar um gole, põe máscara de volta, tensão quando o garçom se aproxima demais, limpeza hospitalar quando cai um grão de arroz na mesa, uma força-tarefa para desempestear a mesa na sua saída. E o pavor de ir ao banheiro.

Um boteco tradicional do Rio instalou divisórias de acrílico no pequeno balcão, tornando-o parecido com aqueles parlatórios de presídio que a gente vê nos filmes gringos.

Vale a pena?

A tal da feijoada da nova era, a nova feijoada possível, me parece uma experiência mais desenxabida do que jantar numa poltrona de avião.

Porque é um avião que não nos leva a lugar algum.

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Coronavírus vai transformar o sushi em artigo de alto luxo https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2020/06/23/coronavirus-vai-transformar-o-sushi-em-artigo-de-alto-luxo/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2020/06/23/coronavirus-vai-transformar-o-sushi-em-artigo-de-alto-luxo/#respond Tue, 23 Jun 2020 12:12:20 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2020/06/murakami.jpg https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=2269 Claro que você é jovem demais para lembrar como era o sushi no Brasil dos anos 1980.

Deixe-me explicar.

Foi nessa década que a comida japonesa começou a se popularizar. Tenho memórias geograficamente privilegiadas: minha mãe trabalhava como coordenadora pedagógica no Colégio São José, que funcionava na rua dos Estudantes, bem no miolo da Liberdade.

No início dos 1980, quase só a comunidade nipo-brasileira se aventurava para dentro das portinhas, que já eram muitas na região. Eram lugares discretos, com maquetes das comidas numa vitrine voltada para a rua e nenhuma explicação no alfabeto latino.

Nós gaijins sequer sabíamos o nome dos estabelecimentos. Sabíamos que eram restaurantes por causa do cheiro de peixe e nabo ralado que vazava para a calçada. E por causa das tais maquetes, é óbvio.

Havia um caminhão de preconceitos que nos distanciava da cultura japonesa. Felizmente, foi nessa mesma época que a barreira começou a ruir.

São Paulo tinha muitos milhares de descendentes de japoneses. Eu, criado no Cambuci (bairro vizinho à Liberdade), sempre estudei com crianças das comunidades orientais. Era uma questão de poucos anos para que essas turmas mistas crescessem para se tornar uma geração menos intolerante –nesse ponto específico, que fique claro.

Enquanto isso, nos Estados Unidos, a comida japonesa virava moda. Os almofadinhas de Wall Street, então denominados “yuppies”, adotavam uma estética meio nipônica, modernosa para a época –quando o Atari era o suprassumo da tecnologia gamer.

Com a numerosa comunidade japonesa de São Paulo, a tendência migrou quase instantaneamente para cá. O hardware já estava instalado.

Por volta de 1985, comer sushi já era cool nos Jardins (chamados, mui provincianamente, de “Manhattan paulistana”). E era uma aventura para dentro dos cenários de “Blade Runner”. E era caro. Caro, caro, caro. Uma extravagância ocasional, a menos que você fosse o yuppie Mickey Rourke de “9 e ½ Semanas de Amor”.

Sushi –e especialmente sashimi, que dispensa o arroz– sempre foi um artigo de luxo. Só a melhor parte do peixe melhor e mais fresco, cortado por um mestre sushiman que estudou o ofício por sabe-se-lá quantos anos. Durante muito tempo, eram as lendas atrás do balcão que escolhiam os clientes dignos de desembolsar uma fortuna por seus sushis. Não o inverso. A empáfia de Jun Sakamoto é uma reminiscência fóssil dessa época.

Época que está voltando, já adianto. Antes, porém, falta contar como o sushi se tornou uma comida banal no Brasil.

São dois os fatores principais.

Um deles foi o surgimento do salmão chileno de cativeiro, que fez desabar o preço (e a qualidade) do peixe adequado (ou mais ou menos, ou um pouco menos do que isso) para o sushi. Não importa: nos brasileiros amaram, e os restaurantes abraçaram com fervor o peixão laranja.

O segundo, mais importante, foi justamente esse amor do paulistano pelo sushi. O povo gostou demais da brincadeira. Com a explosão da demanda, caiu por terra o mito de que o sushiman precisava ser treinado por monges de Hokkaido durante sete anos antes de enrolar o primeiro hossomaki. Os donos de restaurantes cuidaram de capacitar mão-de-obra para atender toda aquela gente.

Logo, tínhamos sushimen mooquenses, lapeanos, cearenses, baianos, paraibanos. Alguns mantiveram o rigor e o método nipônicos; outros, naturalmente, fizeram adaptações e concessões. Num movimento orgânico, isso resultou na exportação do hábito para a Mooca, a Lapa, para o Ceará, a Bahia e a Paraíba.

O crescimento da oferta achatou o preço médio. E a maior parte do público estava pouco se lixando para a autenticidade da coisa, o que abriu mercado para a comida japonesa sub-ótima.

Assim nasceram os rodízios de salmão e as temakerias de posto de gasolina.

Essa farra do peixe cru, sinto dizer, será aniquilada pela pandemia. Comer sushi e sashimi voltará (está voltando) a ser um hábito para os poucos que podem pagar muito.

Qualquer comida crua oferece risco sanitário maior do que, digamos, uma pizza que vai direto do forno a 500 ºC para a caixa de papelão. No caso da culinária japonesa, como agravante, temos o fato de que o alimento é manipulado imediatamente antes do serviço.

Certamente é possível desviar-se dos riscos. “Um sushiman de boa formação sempre tomará todos os cuidados”, diz Telma Shiraishi, dona do restaurante Aizomê. “Ele sabe sobre a importância e a meticulosidade no cuidado ao lidar com alimentos crus e altamente perecíveis.”

Mas não é nada fácil. Um obstáculo extra é a cultura peculiar dos restaurantes de sushi. Para a experiência ser realmente bacana, o ideal é trocar uma ideia com o sujeito que prepara a sua comida enquanto ele trabalha.

“No Japão, os pequenos restaurantes de sushi que dependem dessa interação direta (e têm apenas uns poucos lugares de balcão) não conseguirão se adequar”, contou Telma após conversar com o japonês Hirotoshi Ogawa, uma das maiores autoridades mundiais em sushi. “É um desafio enorme.”

A tal adequação passa necessariamente pela redução no número de serviços, o que implica queda no faturamento do restaurante, o que na outra ponta da gangorra joga o preço lá para o alto. Quem paga a conta é sempre o consumidor.

Apesar da proliferação das temakerias e salmonerias e do sushi em pote, a alta gastronomia japonesa seguiu altiva e praticando preços conformes. O Aizomê, de Telma, é um dos melhores representantes dessa estirpe em São Paulo.

Essa cozinha luxuosa não somente sobreviverá, como também se tornará ainda mais exclusiva.

Quanto aos rodízios e quetais, fica a dúvida se resistirão à inevitável alta nos custos. Eu apostaria um rolinho primavera que não.

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Live de chef de cozinha: qual a necessidade disso? https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2020/05/12/live-de-chef-de-cozinha-qual-a-necessidade-disso/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2020/05/12/live-de-chef-de-cozinha-qual-a-necessidade-disso/#respond Tue, 12 May 2020 15:39:11 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2020/05/paodequeijo.jpg https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=2186 Vivemos a era –tomara que breve– das lives, apresentações ao vivo transmitidas pelas redes sociais da internet.

Meio que dá para entender as lives de músicos. Meio que. Há ali um show, com direito a improvisos e outros eventos inesperados, mas nem de longe a experiência se assemelha a uma apresentação num teatro ou estádio. Pelo lado bom, importante frisar, já que você tem acesso ao próprio banheiro e uma geladeira para assaltar quando quiser.

Um número musical pré-gravado não equivale à reprise de um jogo de futebol. Não existe a surpresa do resultado de uma competição. Por que, então, furtar-se da comodidade de assistir quando melhor lhe convier? É pela catarse coletiva de compartilhar a experiência com milhões de janelinhas lá fora? Para mim, esse argumento não cola.

A falta de conveniência é ainda mais aguda nas lives dos chefs de cozinha, algo que se tornou frequente no Instagram.

Ensinar uma receita ao vivo só tem valor com a presença física do aprendiz, que pode acompanhar o mestre e ser avaliado por ele. No ambiente virtual, é sempre melhor uma aula gravada.

O aluno pode pausar e retroceder, voltar a trechos que não entendeu bem, ver tudo antes de começar e retomar o vídeo a bel-prazer. Seguir a toada do chef ao vivo, sem orientação, é um mato sem cachorro.

Eu tenho a impressão, às vezes, de que os chefs fazem lives para mitigar o próprio tédio na quarentena.

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Restaurantes entregam comida crua para o cliente cozinhar https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2020/05/07/restaurantes-entregam-comida-crua-para-o-cliente-cozinhar/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2020/05/07/restaurantes-entregam-comida-crua-para-o-cliente-cozinhar/#respond Thu, 07 May 2020 15:33:17 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2020/05/noodles-2150272_1920.jpg https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=2180 Quem costuma pedir entrega de comida sabe que alguns pratos viajam bem, outros não.

Sushi chega inteiraço, por razões óbvias. Pizza sofre alguns atropelos, mas todos havemos de concordar que pizza é algo bom mesmo quando é ruim. O diabo é quando o entregador resolve dar grau, empinar a moto, e a cobertura escorrega toda para uma das metades da pizza.

Hambúrguer viaja mais ou menos. A batata frita amolece, esfria e murcha na proporção direta da lonjura do percurso. E tem alguns nefelibatas que teimam em pedir delivery de sorvete.

Já nos longínquos anos 1990, a rede de lanchonetes America tinha um cardápio para entrega com ícones para indicar o que viajava bem e o que nem a pau.

Com a epidemia da Covid-19 e o decorrente encerramento dos salões dos restaurantes, a entrega de comida se tornou a única possibilidade de o setor manter um faturamento mínimo.

As refeições para viagem se tornaram a tábua de salvação de todos os restaurantes. Até daqueles que se acham chiques demais para fazer quentinhas. Até daqueles especializados em comidas incompatíveis com o esquema de entrega em domicílio. Churrascarias rodízio, para dar um exemplo gritante.

Tais estabelecimentos precisaram de contorcionismos e malabarismos para adaptar seus, digamos, conceitos ao delivery. O pessoal está tateando no escuro. Chutando alto na tentativa de sobreviver.

Um expediente bastante comum é separar os elementos do prato em recipientes individuais, para que o comprador junte tudo antes de comer. A pizzaria Bráz, por exemplo, manda mozarela de búfala fresca e manjericão em potes à parte para um de seus sabores –de outra forma, esses ingredientes cozinhariam sobre a pizza quente.

O ponto negativo desse artifício é o aumento do volume de plástico e de papelão no lixo. Pior ainda porque o esquema de reciclagem, que já não era 100%, também entrou em colapso no Brasil.

Quando nem isso garante um padrão de qualidade que preserve a reputação da casa, a ousadia vai além. Tem restaurante que entrega comida crua –ou minimamente preparada– para o cliente cozinhar em casa.

Numa rede social, vi outro dia o kit curioso de uma churrascaria –não vou dizer qual porque sei que é uma solução emergencial, quiçá desesperada.

O combo continha uma peça de carne apenas selada na brasa, para o comprador assar no ponto desejado em casa. Uns cubos de provolone num recipiente próprio para as provoletas que, novamente, seriam feitas pelo cliente em seu próprio forno. Um pote de molho chimichurri industrial. Por fim, discos de massa crua para empanadas, com o recheio em outra embalagem. Cabia ao freguês não somente assar a empanada, como também montá-la.

Reitero que empatizo com os comércios em dificuldade. Mas não faz sentido, para mim, pagar preço de restaurante por comida crua.

Quando quero cozinhar, eu cozinho; quando eu peço comida, quero receber comida pronta. O pessoal há de achar uma saída melhor para essa enorme enrascada.

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Coronavírus vai acabar com o restaurante por quilo https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2020/04/29/coronavirus-vai-acabar-com-o-restaurante-por-quilo/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2020/04/29/coronavirus-vai-acabar-com-o-restaurante-por-quilo/#respond Wed, 29 Apr 2020 14:01:37 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2018/11/kg-320x213.jpg https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=2169 Um dia essa desgraça toda vai terminar. Assim a gente espera.

Quando as normas de distanciamento social forem relaxadas, o mundo que vai emergir será um tanto diferente daquele que conhecíamos antes da pandemia. No setor de alimentação, as mudanças prometem ser drásticas.

Para não esticar demais o texto e a paciência do leitor, vou me limitar a um aspecto que me chamou muito a atenção: a provável extinção dos bufês.

O self-service é o playground dos micróbios, germes e agentes patogênicos em geral. As pessoas tocam a comida, cospem nela. Clientes e funcionários, indistintamente. Sem falar que o alimento fica exposto no meio do salão por horas, enquanto o bufê funcionar.

Quando restaurantes voltarem a funcionar, é sensato presumir que apenas o serviço de mesa será permitido.

Isso vai afetar restaurantes universitários, refeitórios corporativos e bandejões em geral.

Os hotéis precisarão repensar o esquema do café-da-manhã.

Bufês de luxo como o Ráscal e o Santinho terão de bolar algo diferente para atender à clientela.

Mais relevante do que tudo isso, o restaurante por quilo corre o risco de sumir da face da Terra.

Como se diz nas redes por aí, o quilão representa o Brasil mais do que o futebol e o samba. É nele que o trabalhador monta o próprio prato, paga um preço justo e faz tudo rapidinho para dar tempo de jogar conversa fora antes de voltar ao batente.

Os quilos costumam ser negócios familiares, sem muito fôlego para atravessar longos meses de faturamento pífio. Quando a reabertura dos salões for autorizada com rígidas restrições sanitárias, esses restaurantes devem mudar o modelo de funcionamento.

Os que sobreviverem até o relaxamento total –se é que isso um dia ocorrerá– terão diante de si um dilema: retomar o esquema antigo (que funcionava em uma realidade distinta) ou manter a nova solução (que, mal e mal, os trouxe até este ponto).

Arrisco um palpite. Com a clientela ainda traumatizada pela peste, o bufê deve ser aposentado até cair no completo esquecimento.

Num arroubo de futurologia tosca, chuto que o mundo pós-pandemia será regido pelo signo do prato-feito, nosso glorioso PF.

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Cozinha de quarentena: 9 erros que podem estragar uma refeição https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2020/04/23/cozinha-de-quarentena-9-erros-que-podem-estragar-uma-refeicao/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2020/04/23/cozinha-de-quarentena-9-erros-que-podem-estragar-uma-refeicao/#respond Thu, 23 Apr 2020 15:09:59 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2020/04/steak-2292901_1920.jpg https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=2152 Todo mundo em casa, quase todo mundo sem grana, um monte de gente se arriscando na cozinha. Esse é o lado bom da pandemia, se é que dá para bancar a Poliana nessa tragédia toda.

Erros fazem parte de qualquer aprendizado, e não é diferente na cozinha. O cozinheiro iniciante toma muito na cabeça antes de corrigir algumas falhas. Eu –amador, chinelento e pereba– ainda estrago um monte de refeições por falta de noção.

Para tentar acelerar a aprendizagem, listo a seguir algumas mancadas comuns no fogão. Para todas, a solução é a mesma: prestar mais atenção e se organizar direitinho antes de começar a cozinhar.

 

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Calcular mal o tempo de preparo

É o erro mais comum e o mais difícil de corrigir, porque o tempo indicado numa receita nunca bate com a realidade. A receita não leva em conta o tempo que você leva para encontrar ingredientes, panelas e utensílios. Não considera a dificuldade que você encontra para picar cebola, descascar batata e tirar a espinha do peixe.

A receita ignora, sobretudo, o tempo que você perde bebendo e conversando enquanto prepara a comida. Aí acontece a tragédia. Você marca com os amigos à 20h, eles chegam às 21h e o jantar fica pronto à 1h da madrugada. Todo mundo emburrado, bêbado e com sono, ninguém desfruta direito da refeição.

O jeito é incorporar essa demora ao cálculo inicial. Deixe tudo quase pronto antes da chegada dos convidados. Aí, quando o pessoal quiser comer, é só finalizar.

 

Esquecer de descongelar a bagaça

Está tudo nos trinques para começar a cozinhar, menos uma coisinha: a picanha ainda está congelada, dura feito granito. Velho, nessas você perde algumas horas. E não recorra ao micro-ondas: essa é a receita para estragar de vez a comida.

 

Não fazer mise en place

Essa expressão francesa diz respeito à preparação prévia dos ingredientes de uma determinada receita. Antes de ligar a boca do fogão, deixe tudo –tudo mesmo– lavado, descascado, cortado, picado, temperado, porcionado, separado. Você vai ver como as coisas fluem muito melhor assim. Esquecer de fazer o mise en place pode resultar em tragédias como, por exemplo, carbonizar o alho enquanto você pica a cebola.

 

 

Aquele ingrediente que falta…

Antes de se meter a fazer qualquer comida, verifique se você tem todos os ingredientes pedidos. Às vezes dá para improvisar e adaptar a receita. Outras vezes, não dá: tente consertar a massa de bolo quando você descobre que não há fermento em casa.

 

Mão pesada no sal

Falta de sal é algo fácil de corrigir; é impossível consertar um prato salgado demais.

Deixe para acertar o tempero da comida nos momentos finais, quando ela estiver quase pronta. Salgar um molho ou ensopado no começo do preparo vai dar caca: a evaporação da água no cozimento vai concentrar o sal. E leve em conta ingredientes que já são salgados: shoyu, missô, parmesão, gorgonzola, aliche, azeitona, alcaparra, molho inglês, extrato de tomate.

 

Esquecer de ligar o forno

A receita pede: “Pré-aqueça o forno a tantos graus por sei-lá-quantos minutos”. Você vai lá e liga o forno. Na hora de meter a comida para assar, percebe que o diacho do forno está frio. Você esqueceu de ligá-lo à tomada ou fechou a porta antes de acender direito o gás. Dependendo da receita, você pai precisar recomeçar do zero (pense num suflê).

 

Desligar a boca errada do fogão

Essa me aconteceu outro dia. Eu tinha duas bocas ligadas: uma com arroz e outra com carne ensopada. O arroz ficou pronto, e eu desliguei… a boca da panela com carne. O arroz, óbvio, queimou. Um mínimo de atenção resolve essa questão.

 

Caos no timing

Quando você tem várias comidas sendo preparadas ao mesmo tempo, pense no tempo de preparo de cada uma delas. Algumas coisas, como farofa, podem ficar prontas para reaquecer depois; outras, não. O caso mais típico é o trivial bife com fritas. Ambos precisam ficar prontos ao mesmo tempo. Caso contrário, você pode acabar comendo bife estorricado e/ou batatinha murcha.

 

Errar na quantidade

Se você fizer comida a mais, beleza. Se faltar o que comer, o jeito é pedir desculpas aos convidados. Pode pedir pizza, também.

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Cozinha de quarentena: ontem passei álcool em gel no pão https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2020/04/21/cozinha-de-quarentena-ontem-passei-alcool-em-gel-no-pao/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2020/04/21/cozinha-de-quarentena-ontem-passei-alcool-em-gel-no-pao/#respond Tue, 21 Apr 2020 17:11:15 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2020/04/baked-1239259_1920.jpg https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=2149 Ontem eu ensaboei a banana.

Não se trata de uma expressão grosseira de duplo sentido. Foi literal. Lavei uma banana com água e detergente –com casca, é claro– antes de dá-la ao meu filho.

A etiqueta alimentar-sanitária da quarentena nos leva a fazer coisas ridículas. Como passar álcool em gel na embalagem do pão de forma. E deixá-lo secar no escorredor de louça.

Tudo o que chega em casa, vai para o quartinho dos fundos, o cantinho do castigo e fica lá uns três dias. Mexericas, tomates, cebolas, batatas, verduras em geral, sem falar no material de limpeza.

Você já tentou higienizar uma cabeça de repolho? Tira uma camada de folhas, outra… até chegar ao núcleo impenetrável. A saída que encontrei foi partir o negócio em gomos e deixar mergulhado numa solução de água sanitária. Se a cândida não chegar às entranhas do repolho, devo presumir que o vírus também não chega.

E a comida que chega por entrega? Adianta tentar fazer algo com a caixa da pizza? É o pavor. Cada rodela de calabresa nos assombra como um foco acebolado de morte.

Você nunca sabe se o pizzaiolo tem os mesmos hábitos higiênicos do incendiário de Brasília, que limpa o nariz e vai cumprimentar pessoas.

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A última feijoada https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2020/04/07/a-ultima-feijoada/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2020/04/07/a-ultima-feijoada/#respond Wed, 08 Apr 2020 00:09:58 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2020/04/feijoada.jpg https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=2129 Alguns sábados atrás, acordei e recebi a notícia de que o governador decretara quarentena para a terça-feira seguinte. Já recluso havia alguns dias, resolvi tocar o f*-se. Desci para comer uma feijoada no boteco que fica exatamente embaixo do meu prédio. Talvez fosse a última feijoada da minha vida.

Era cedo, e a única mesa ocupada tinha quatro belgas, suíços, sei lá, gente cor-de-rosa que falava francês com um sotaque engraçado. Ou talvez seja eu o burro incapaz de reconhecer o sotaque de um francês.

O bar fica numa esquina e é aberto para os dois lados que dão para a rua. Bem ventilado. Sentei-me numa mesa ao ar livre, sobre um tablado com grama sintética que o dono instalou para compensar o suave declive do terreno. Bem longe dos gringos.

Era a primeira vez que eu punha a cara para fora em vários dias.

“Cardápio, senhor?” Respondi que não, iria comer a feijoada, mas queria beber cerveja antes de fazer o pedido. “Deixa que eu mesmo abro a garrafa, tá?”. Tenho um chaveiro-abridor que já me socorreu em muitos apuros.

A moça veio com a cerveja. Segurava a garrafa pelo topo do gargalo, com a mão em contato com a tampinha. Coroooooonga! “Obrigado”, disse para a gentil funcionária (eles fazem assim porque, se pegarem uma garrafa muito fria pelo corpo, a cerveja pode congelar). Passei álcool em gel na garrafa, abri, servi, bebi.

Chegou uma família. Três pessoas e três gerações, presumo. A matriarca idosa, o filho de meia-idade e o neto jovem. Com o bar inteiro vazio, eles resolveram ocupar a mesa exatamente atrás de mim. Os estrangeiros pagaram e foram embora.

A senhorinha, grupo de risco, exalava um perfume doce e intenso. O vento soprava na minha direção. Precisei mudar de mesa.

Fui para o salão, numa mesa junto ao canteiro que dá para a rua. Na TV, uma longa e insuportável coletiva do governador. A mesa familiar recebeu duas feijoadas individuais para dividir em três. Uma cumbuquinha pequena, triste de feijão. Duas, a bem da verdade.

Terminei de beber e fui encerrar a conta. Não queria nem pensar que aquela poderia ser, por alguma zica do destino, a última feijoada da minha vida.

Prefiro ficar com a lembrança da feijoada que compartilhei, alguns dias, antes, com amigos. Espero que não tenha sido a última. Ops, penúltima: na loucura da quarentena, cometi a insanidade de comer uma feijoada pronta dessas de supermercado. E estava boa.

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A peste e o apocalipse dos restaurantes https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2020/03/21/a-peste-e-o-apocalipse-dos-restaurantes/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2020/03/21/a-peste-e-o-apocalipse-dos-restaurantes/#respond Sat, 21 Mar 2020 05:00:22 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2020/03/coqueiro.jpg https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=2099 Foi coisa de um mês atrás, talvez menos. Eu estive em um pequeno restaurante tailandês na Liberdade, no lado de lá da Conselheiro Furtado, rumo aos cortiços do Glicério.

Uma porta estreita e baixa, que os donos insistiam em fechar, era a única entrada de ar. Todas as mesas, cobertas com plástico grosso sobre uma toalha bonitinha, estavam ocupadas. Barulho e calor. Equipe monoglota (não era o português que eles falavam), comida fabulosa, preços ridiculamente baixos.

O tipo de lugar que desperta suspeitas quanto à higiene na cozinha, algo que a gente releva porque ninguém nunca morreu de comer num restaurante encardido e baratex.

Será?

Depois de uma semana de isolamento voluntário em casa, a pequena esbórnia asiática me parece uma recordação de priscas eras.

No sururu do surto de coronavírus, é implausível que alguém saia de casa e se exponha à epidemia por um mero prato de comida.

A gastronomia levou uma estocada potencialmente fatal na crise desencadeada pelo Covid-19. Ela está na vanguarda da economia, no sentido militar do termo: a infantaria que se submete primeiro ao fogo inimigo, com numerosas baixas.

As razões para isso são duas:

1) Com o perdão pela obviedade, bares e restaurantes são espaços destinados à socialização e ao consumo de bebida e comida. A saliva, que carrega o vírus, está nos pratos, nos talheres, nos guardanapos, nos copos, no vidro de azeite, nas folhas do cardápio, nas mãos de todos. Está no ar. É o cenário perfeito para o contágio.

2) Bares e restaurantes são supérfluos.

Dói escrever isso, mas é fato que ninguém precisa de um restaurante para se alimentar. Mesmo que a pessoa não entenda necas de cozinha, ela se vira em casa com miojo e pizza congelada.

O setor percebeu rapidamente que seria o boi-de-piranha da crise. Minha timeline está repleta de postagens de restaurantes anunciando rigor reforçado nas medidas de assepsia. Alguns resignados já optaram pelo fechamento total, porém (presume-se) temporário. A maioria vê uma nesga de esperança no serviço de entrega em domicílio.

Não creio que vá funcionar. As prováveis benesses fiscais dificilmente terão o efeito desejado, tampouco.

Enfim, a quebradeira promete ser avassaladora. Os representantes da categoria tentam estimar números, mas a verdade é que ninguém sabe direito o que está acontecendo. A hecatombe, por simples lógica, parece inevitável.

Quando a pandemia passar, teremos um cenário de terra arrasada. Quando a população acordar do pesadelo do apocalipse zumbi, o mundo será um lugar bem pior.

Ninguém passa incólume por meses de privação do convívio social. A alegria está nas coisas supérfluas –o resto é necessidade fisiológica.

Em tempo: a palavra “restaurante” vem do verbo “restaurar”. Restaurar é se recuperar das feridas físicas e espirituais. Para os que conseguirem atravessar a tormenta, um alento essencial.

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