Cozinha Bruta https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br Comida de verdade, receitas e papo sobre gastronomia com humor (bom e mau) Mon, 13 Dec 2021 21:07:14 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Jamais nos libertaremos dos horríveis sachês de ketchup https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2020/09/03/jamais-nos-libertaremos-dos-horriveis-saches-de-ketchup/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2020/09/03/jamais-nos-libertaremos-dos-horriveis-saches-de-ketchup/#respond Thu, 03 Sep 2020 13:45:42 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2020/09/sache-320x213.jpg https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=2454 Outro dia, voltando de viagem, cheguei a SP um pouco antes das 15h, sem almoçar. Se fosse cozinhar ou pedir comida, a demora seria torturante. Perto de casa tem uma hamburgueria dessas de rede, mas com qualidade bastante razoável. Estava vazia. Parei para comprar um sanduíche, algo marcante em 2020 –havia vários meses que eu não levava meu pesado corpinho a nenhum bar ou restaurante.

Reparei em algo enquanto, do lado de fora, esperava o pedido ficar pronto: as bisnagas de ketchup, mostarda e molho barbecue haviam sumido. Óbvio e correto. Se você não pode apertar a mão de ninguém, melhor não pegar um tubo de ketchup com a baba de um corongado desconhecido.

Pensando bem, muito bem de verdade, o tubo de ketchup compartilhado é um lance bem eca.

Quando eu cresci, nos anos 1980, as lanchonetes serviam os condimentos em bisnagas genéricas: vermelha para o ketchup, amarela para a mostarda. Os adolescentes espírito-de-porco deixavam frouxa a tampa, para que o cliente seguinte causasse um desastre imundo. Os adolescentes mais escrotos ainda cuspiam lá dentro e encaixavam de volta a tampa.

Mas… só para lembrar que existiu um mundo anterior à pandemia, eu os adoro. Não os adolescentes-diabos. O tubo de ketchup. A garrafa de azeite. O saleiro.

Todos vão sumir dos restaurantes, se as autoridades sanitárias forem minimamente competentes.

Serão (foram) substituídos pelos pavorosos sachês. Um horror de design, funcionalidade e estética. Necessários para frear a contaminação, porém.

Fico imaginando como um restaurante de luxo justifica a presença de sachês de sal Lebre sobre suas toalhas de linho egípcio de um bilhão de fios.

É mais uma das pegadinhas de 2020… sermos reféns dos horríveis sachês. Jamais nos libertaremos deles.

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No apocalipse da Covid-19, só vão sobrar o hambúrguer e a pizza https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2020/05/28/no-apocalipse-da-covid-19-so-vao-sobrar-o-hamburguer-e-a-pizza/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2020/05/28/no-apocalipse-da-covid-19-so-vao-sobrar-o-hamburguer-e-a-pizza/#respond Thu, 28 May 2020 12:31:22 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2020/05/nomaburger.jpg https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=2220 – Galeteria Imperador do Poleiro, boa noite.

– Boa noite, eu gostaria de encomendar dois galetos e uma porção de farofa, por favor.

– Infelizmente não será possível. O galeto está em falta.

– Uma picanha, então.

– Desculpe, senhor, mas não estamos servindo carnes durante a epidemia de Coronavírus.

– O que vocês podem me entregar?

– Pizza. Mais de 20 sabores.

– Que mais?

– Contratamos um chapeiro ontem. Agora também fazemos hambúrguer.

– Nada diferente disso?

– Temos ainda a pizza de hambúrguer. E o hambúrguer à pizzaiola.

 

Enquanto a pandemia avança, e os restaurantes –com os salões fechados há mais de dois meses– perdem fôlego, transcorre a devastação silenciosa da variedade gastronômica brasileira.

Compreensivelmente, os cardápios foram reduzidos para simplificar a operação, enxugar custos e aumentar a eficiência do sistema de entrega de comida –o único possível neste momento.

À medida que cresce o desespero, muitas casas têm radicalizado ainda mais. Restaurantes italianos chiques (como o Evvai) deslocam o foco para as pizzas, enquanto outras casas passam a servir hambúrgueres.

Pizza e hambúrguer são dois clássicos da comida de entrega e, sobretudo, operações de baixíssima complexidade com margem particularmente alta.

Ambos os modelos de negócio, entretanto, demandam uma venda volumosa para que o faturamento pague as contas. Aí está o risco da aposta dos restaurantes: será que os clientes vão se comportar como eles esperam?

Outro estrago colateral é a saturação dos nichos de pizza e de hambúrguer, que pode contaminar estabelecimentos tradicionais nessas especialidades.

Parece que o all-in do ramo da alimentação é um fenômeno global, já que até o übermegabadalado Noma, de Copenhague, passou a oferecer um hambúrguer no cardápio.

Esperemos que a tática funcione para manter o setor respirando. Ainda assim, o dano na gastronomia será avassalador e de difícil recuperação.

Aliás, múltiplos e-mails me avisam que hoje é o Dia do Hambúrguer. Um efusivo parabéns a você, hambúrguer!

Como diz a cantora Kátia, não está sendo fácil.

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Por que as pessoas gostam de comer mal em fast food? https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2020/01/09/por-que-as-pessoas-gostam-de-comer-mal-em-fast-food/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2020/01/09/por-que-as-pessoas-gostam-de-comer-mal-em-fast-food/#respond Thu, 09 Jan 2020 22:55:21 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2020/01/mac-320x213.jpg https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=1948 Meu filho tem 7 anos e hoje comeu pela primeira vez no McDonald’s. Todos os coleguinhas dele já haviam feito isso; eu e a mãe dele estávamos sob pressão. O Pedro insistia e insistia. Se continuássemos a negar, aquilo viraria um desejo proibido; e tudo o que é proibido é mais gostoso. Cedemos, portanto.

Enquanto o pivete se deleitava com o tal lanche feliz –o objetivo sempre foi o brinquedo, nunca a comida– eu resolvi provar um dos sanduíches de picanha que o, aham, Méqui agora oferece.

Pedi o bacon crispy, que, devo confessar, parece bem atraente nas fotos que decoram os pontos de ônibus de SP. Vocês podem conferir a imagem aí embaixo. O preço, meu povo: R$ 32, com bebida e batata (ninguém me perguntou se eu queira algo além do sanduba). Com duas carnes sai R$ 37. Velho, uma só carne já é mais que suficiente.

Comparem esta foto com a aparência real do sanduíche, lá em cima (Divulgação)

 

Como dá para ver na foto do topo do post, o produto real é algo completamente diferente. Eu já esperava por isso: desde que o mundo é mundo, as redes de fast food vendem uma foto linda e entregam uma gororoba cinzenta e amarrotada.

Elas se protegem de acusações de fraude com o aviso “imagem meramente ilustrativa”. Mas… seriamente, engodo tem limite. Fora o hambúrguer cinzento de praxe, o sanduíche não exibe o bacon que transborda do pão na foto publicitária. Nas primeiras mordidas ele também não aparece. Calma, espere: uma modesta porção de bacon está toda concentrada no centro do sanduba.

O queijo não tem gosto de absolutamente nada. A carne se parece com a ds outras opções do cardápio –ressecada e nada picanhuda–, só que maior (o que não é necessariamente uma vantagem). O sabor que predomina e o da maionese “caseira” (dá para colocar dois ou mais pares de aspas nesta expressão?). Enjoativo.

Ok, não é justo atacar só o McDonald’s. Todas as redes de fast-food atraem consumidores com comida de má qualidade. Na única vez em que comi Burger King (assim que ele chegou ao Brasil, só para experimentar), comecei gostando do sabor de churrasco do hambúrguer. Acabou que eu não consegui dar cabo do sanduíche, de tanta tranqueira enjoativa que vai lá dentro.

Temos também as redes 100% nacionais, como Giraffa’s e Habib’s. Do primeiro, eu sempre mantive distância –o cheiro que emana para a praça de alimentação é uma barreira invisível. Do segundo, devo admitir que já pedi esfihas e pizzas quando dava plantão em redações (toc toc toc na madeira).

A esfiha do Habib’s é até folclórica. Todos no Brasil sabem que ela causa azia, mas tem gente que gosta mesmo assim.

Não é esta ou aquela lanchonete. É o diabo da fast food. Por que as pessoas perdem suas vidas com comida ruim, ambiente deprê, atendimento zero? A tal picanha das galáxias sequer é mais barata do que um bom hambúrguer numa boa hamburgueria.

“Ah, porque é rápido.” Para que a pressa? Coma uma fruta, um pastel, uma salada, sei lá. O tempo que o pessoal gasta nessas lanchonetes é mais perdido do que a espera em um restaurante legal.

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P.S.: Quando questionei, em outro post, a existência de picanha nos sanduíches de picanha do McDonald’s, fui convidado por eles para conhecer uma unidade fabril. Não rolou por falta de encaixe de horários. Assim, dou-lhes o benefício da dúvida neste post.

P.S. (2): A propósito, meu filho adorou tudo. Estou lascado.

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Terraplanistas querem conquistar o globo com hamburgueria na Vila Madalena https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/11/16/terraplanistas-querem-conquistar-o-globo-com-hamburgueria-na-vila-madalena/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/11/16/terraplanistas-querem-conquistar-o-globo-com-hamburgueria-na-vila-madalena/#respond Sat, 16 Nov 2019 05:00:57 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2019/11/terraplana-320x213.jpg https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=1853 A praga anti-intelectual que varre o planeta tem um fundamento claro: a percepção sensorial e a interpretação individual valem mais do que milênios de conhecimento acumulado. Isso é exacerbado na extravagante seita dos terraplanistas.

A doutrina da Terra Plana usa como evidência o fato de a Terra parecer plana para o observador em solo. Algo meio tipo São Tomé. O que é desconcertantemente contraditório, uma vez que o grosso dos terraplanistas crê numa entidade que nunca deu as caras nas planícies e nos planaltos deste mundão, o tal Deus com dê maiúsculo.

Por falar em São Tomé, eu mesmo duvidava um pouco da existência da galera da Terra Plana –a despeito da volumosa documentação de suas estripulias. É tudo absurdo demais para ser verdade. Anteontem, eu a vi com estes olhos que a terra –no sentido de “solo”, portanto sem controvérsia geométrica– há de comer.

Os terraplanistas não apenas existem: eles estão na Vila Madalena. Mais precisamente, na latitude 23º33’23” S e na longitude 46º41’28” W. Só para efeito de localização global.

É lá que fica a hamburgueria Vila Plana, uma casa que mistura a tosqueira da Vila Madalena raiz –aquela da garotada que bebe Corote– com a tosqueira do terraplanismo.

Soube de sua existência ao ler um artigo da “Vice” sobre um congresso de terraplanistas em São Paulo. A lanchonete recebeu palestrantes e tietes para uma confraternização após o evento.

A Vila Plana tem um salão bastante amplo e feioso. Nas paredes, há pôsteres com motivos terraplanistas. Um deles mostra o ator Laurence Fishburne como Morpheus, seu papel na trilogia cinematográfica “Matrix”. O terraplanários cultivam a paranoia de que o mundo é um teatro de marionetes, donde a referência.

Em outro cartaz, uma citação ao alegado “master of puppets” do mundo achatado. Um trecho da “Bíblia”, é claro –os terraplaneiros consideram a astronomia moderna uma afronta às escrituras sagradas.

A casa oferece, por módicos R$ 120, um vinho português de rótulo Terra Plana. É produzida em Estremoz, Alentejo, pela prestigiada vinícola Herdade Monte da Cal. Passei.

Pedi uma cerveja e um hambúrguer de picanha –entidade tão lendária quanto a Terra chata e os unicórnios. Recebi um disco plano de carne moída dentro de um pão globaloide. Poderia ser tolerável, não fosse a abundância de matéria pastosa fosforescente vendida como queijo cheddar.

Paguei com cartão, graças aos satélites que orbitam a Terra esférica. Fui almoçar um lámen no excelente Hirá, do outro lado da rua.

Antes que me acusem de zombar de tontos excêntricos: os terraplanistas não são patetas inofensivos. São patetas que ocupam a franja mais radical da vaga obscurantista que nos ameaça. Eles não são medievais: são ainda mais reacionários. Contestam o trabalho dos sábios da Babilônia do século 7 a.C. Precisam ser contidos.

Essa gente não merece reverência. E o hambúrguer deles não presta.

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Como derrotar o raio gourmetizador https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/10/19/como-derrotar-o-raio-gourmetizador/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/10/19/como-derrotar-o-raio-gourmetizador/#respond Sat, 19 Oct 2019 12:11:13 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2019/10/personnalite-320x213.jpg https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=1785  

Outro dia, li a seguinte descrição num cardápio: “Fina massa crocante em forma de meia-lua, com recheio de suculenta carne bovina refogada em azeite com ervas mediterrâneas e especiarias, azeitonas chilenas selecionadas e ovos caipiras da fazenda.”

Era um pastel de carne.

Não está fácil para ninguém, todo mundo sabe. Fulaninho dá nó em pingo d’água para levar algum dindim para casa. O problema é que esse esforço de vendas pode descambar para a empulhação.

É o tal raio gourmetizador, expressão que foi consagrada nas redes sociais antes de entrar para o dicionário –é bem provável que nunca entre.

No afã de seduzir potenciais clientes, o comerciante dá um tapa cosmético na mercadoria e capricha no verbo para fazer a coisa parecer melhor do que é. A palavra “gourmet”, antes vendedora para o consumidor de nariz empinado, se desgastou tanto que agora só habita a comida de entrada de metrô: churros, tapiocas, brigadeiros e coxinhas.

A criatividade do empreendedor brasileiro buscou outros adjetivos: premium, prime, afetivo, familiar, reconfortante, detox, funcional, fit, artesanal, caseiro, de verdade, de raiz. Sempre de acordo com o público-alvo, é claro. Ontem eu fui traçar um PF aqui no bairro e recebi uma água mineral personnalité. Devolvi, pois meu saldo bancário não dá para tanto.

O importante é não se deixar levar pela embromação das palavras solenes. A palavra de ordem é desgourmetizar. Vamos exorcizar o Rolando Lero que redigiu o menu. Esconjura!

É fácil: antes de pedir, examine o cardápio e reduza mentalmente o alimento gourmet a seus componentes mais básicos. Como quando você vai descrever, para uma criança, algo que ela nunca provou.

Um “bronco burger angus prime cheddar melt” é um hambúrguer. Pão com acém moído, que tal? Soa glamuroso?

Vamos a mais alguns exemplos.

“Katchapuri”: esfirrão de queijo com um zoiudo por cima. Faz sucesso porque foi inventado num país remoto e por causa do storytelling –o lero-lero gourmet.

“Barca imperial de sushi”: salmão de criação e tilápia de criação com arroz.

“Tokyo lamen special bowl”: sopa de macarrão.

“Texas-style pulled pork”: sanduíche de pernil na bisnaguinha.

“Polenta morbida con coda alla vaccinara”: angu com rabada.

“Linguiça artesanal de porco caipira em pão de lenta fermentação”: calabresa de porta de estádio.

“Fettuccine de pupunha à carbonara”: palmito ralado com ovo e toucinho.

“Key lime pie”: torta de limão.

Ok, exagerei um pouco. Lancei mão de simplificações grosseiras, caricaturais. Elas excluem da equação o trabalho físico e intelectual de quem rala para entregar uma comida boa à clientela.

Que essa gente continue o bom trabalho sem cair na tentação de enrolar com expressões vazias.

Eu só quero um mundo sem água personnalité. É pedir demais?

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É proibido comer carne vermelha, mas se quiser pode comer https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/10/05/e-proibido-comer-carne-vermelha-mas-se-quiser-pode-comer/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/10/05/e-proibido-comer-carne-vermelha-mas-se-quiser-pode-comer/#respond Sat, 05 Oct 2019 05:00:45 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2018/05/churras-320x213.jpg https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=1763  

Causou certo alvoroço no começo da semana um estudo, divulgado pelo “New York Times”, que inocenta –em termos– a carne vermelha dos males que lhe são imputados.

Em resumo: os pesquisadores de uma universidade canadense examinaram pesquisas anteriores e consideraram frágil o elo entre o consumo de carne e a ocorrência de doenças como câncer e cardiopatias.

O sindicato dos amantes da picanha inundou as redes sociais com posts acusatórios, sambando na cara da sociedade como quem grita “chupa”.

Já a comunidade médica tentou refrear o ímpeto dos carnistas, recomendando cautela na interpretação do artigo e acusando seus autores de frivolidade irresponsável.

Na real, na boa, na moral : pouco importa.

Se o bacon não te matar, alguma outra coisa vai. O corpo humano é um objeto de estudo muito complexo, bem mais matreiro do que os corpos celestes –gases e pedras cujo comportamento cabe em fórmulas matemáticas mais ou menos universais.

As pesquisas envolvendo alimentação e saúde esbarram em interesses de lobbies. Seus resultados raramente são assertivos.

Por mais que o senso comum nos diga que o torresmo entope as artérias, é imprudente estabelecer uma relação de causa-efeito categórica.

O sujeito da artéria entupida, que come um balde de torresmo no almoço e outro no jantar, poderia ser portador de alguma predisposição genética. Outro indivíduo, que come tudo isso mais outra bacia de torresmo no café da manhã, pode ter a saúde de um atleta olímpico.

São múltiplos os fatores que afetam a saúde de uma pessoa. A dieta conta, mas não dá para colocar numa planilha de Excel onde entram as contribuições do frango xadrez e do suflê de chuchu.

Já vimos o filme várias vezes. A redenção do antigo inimigo público número 1. Ovos, café, chocolate, gordura animal e até álcool.

Atividade física, genética, tabagismo, condições psiquiátricas, estresse, sobrepeso, distúrbios do sono. Tudo isso afeta o funcionamento de algo dentro de você. O problema está em identificar o que atua onde.

A uruca que culmina na morte também envolve fatores aleatórios. Acidentes acontecem. Não me refiro ao acidente clássico, do Fusca espatifado no poste.

Você pode torcer o tornozelo, ficar de molho em casa, em depressão, tomando sete litros de refrigerante por dia, dar entrada no hospital com uma úlcera e morrer de sepse. Pode comer uma ostra contaminada e partir desta para melhor em questão de dias.

Assim, recomendo uma boa dose de bom-senso e de fé no próprio taco. Coma menos carne: as vacas soltam muito pum, e isso tende a acabar mal. Quando comer carne, coma carne boa e bem-preparada. Um bicho morreu para você matar seu desejo de hambúrguer, animal!

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7 fatos que você deve saber sobre o hambúrguer de plantas https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/09/26/7-fatos-que-voce-deve-saber-sobre-o-hamburguer-vegano/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/09/26/7-fatos-que-voce-deve-saber-sobre-o-hamburguer-vegano/#respond Thu, 26 Sep 2019 20:45:09 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2019/05/20190514083630-320x213.jpg https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=1737 Hoje, mas cedo, a jurada do MasterChef Paola Carosella soltou um tuíte que deixou os veganos e os antiveganos em pé de guerra.

Vamos, primeiro, ao tuíte da Paolla:

“Experimentei, por curiosidade, o ‘hambúrguer’ de plantas ‘sabor carne’. Não é hambúrguer, não tem gosto de carne nem textura de carne –o que é óbvio, pois não é carne. Gorduroso, pastoso, desagradável. Uma bosta ultraprocessada oportunista no momento de maior confusão alimentar da história.”

Paola tentou argumentar que não atacava o veganismo, mas a indústria de processados. Não adiantou. Ativistas veganos continuaram a acusá-la de jogar contra o movimento, com argumentos do naipe destes aqui:

“Que solução você propõe para difundir mais o veganismo então, Paola? Sou vegano e não sou o maior fã desse produto, mas pelo menos tem aberto portas pra mais gente conhecer o movimento.” (@HU6OS)

“Cara, o importante é parar de comer carne. (…) A forma que as pessoas aderem ao vegetarianismo/veganismo pouco importa, né?” (@igaidys)

“[O veganismo] não é uma dieta. É uma opção de vida.” (@comunafeminista)

O mais bizarro de tudo é que Paola atraiu a empatia dos bolsominions –que apoiam qualquer posição contrária ao pensamento progressista. Triste.

 

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Vamos aos fatos sobre o hambúguer vegano.

 

  1. Não é hambúrguer. Não deveria ser chamado de hambúrguer para não confundir o consumidor. Hambúrguer, a rigor, é feito com carne de boi. Existem, porém, produtos de frango, peixe, cordeiro e porco que são vendidos como hambúrguer. Tópico passível de alguma controvérsia, portanto.
  2. São, sim, ultraprocessados, como a mortadela, a salsicha e os nuggets de frango. O que define isso? Processados são alimentos que passam por procedimentos industriais que preservam a forma e o gosto originais dos componentes principais. Exemplos: azeitona em conserva, frango temperado, copa defumada, feijão pronto, arroz parboilizado. Nos ultraprocessados, tudo é misturado de forma a mascarar formas e sabores naturais. Exemplos: cereais matinais, hambúrgueres congelados, biscoitos recheados, creme de queijo.
  3. Seu valor nutricional é semelhante ao dos similares feitos de carne –falo das marcas que entraram recentemente no mercado, com a promessa de ter gosto e textura de carne. Ou seja, pífio.
  4. Alegando segredo industrial, as empresas que fabricam esses produtos omitem ingredientes na embalagem. Listam termos como “condimento preparado sabor carne” e “aroma natural”, sem dizer o que há nessas coisas.
  5. A base dos hambúrgueres vegetais é a mesma desde o século passado: proteína de soja. Se eles melhoraram na textura e no sabor, é mérito da indústria alimentícia e seus pozinhos mágicos tipo Sazón.
  6. Não têm gosto de carne. Não têm textura de carne. É tudo ilusão e embuste.
  7. A militância vegana apoia esse tipo de alimento porque é uma arma poderosa na evangelização. Como disse a autora de um tuíte citado acima, os fins justificam os meios.

 

O debate, algo rotineiro nas redes sociais, desce às catacumbas da indigência intelectual. Tem até gente que zomba de Paola, que é argentina, por cometer erros de português (o que não deveria acontecer “se ela gosta de viver no Brasil”). Podre. Mas não é esse o assunto do post.

Dito tudo isso, cada um come o que quer. E quem quer enganar a si próprio, que o faça. Fui.

 

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McDonald’s e Burger King: mostrem a picanha do hambúrguer https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/07/08/mcdonalds-e-burger-king-mostrem-a-picanha-do-hamburguer/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/07/08/mcdonalds-e-burger-king-mostrem-a-picanha-do-hamburguer/#respond Mon, 08 Jul 2019 15:02:35 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2019/07/PicanhaBacon-320x213.png https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=1594 disse aqui e repito: não acredito em hambúrguer de picanha.

Moer picanha para fazer hambúrguer, além de desnecessário, é algo que não se deve fazer: a peça, muito cara, fica igual a qualquer outra carne no sanduíche. Um burger de picanha tem a exata aparência de um burger de acém ou de peito de boi. Por isso, é fácil demais moer carne barata e dizer que é picanha.

Se eu não consigo identificar a picanha no hambúrguer, tampouco posso comprovar o aplique. O dono da hamburgueria XPTO pode me convidar ao seu estabelecimento e, naquele dia, moer uns quilos de picanha na minha frente.

A coisa muda quando os gigantes do fast-food entram na jogada. É uma escala monstruosa de picanha. Imagina quanta picanha deve ser necessária para abastecer todo o Brasil.

Ontem, durante o jogo do Brasil, vi pela primeira vez um comercial do McDonald’s para um sanduíche com hambúrguer de suposta picanha, bacon e aquele creme alaranjado que eles chamam de cheddar.

“Picanha das galáxias” é o slogan. Achei meio de mau gosto, assim como o visual do anúncio, mas preciso reconhecer que não sou o público-alvo.

Faço um pedido ao McDonald’s: leve-me à planta industrial que processa a picanha para seus hambúrgueres. Para ser justo, estendo o pedido ao Burger King –a rede rival do Ronald também oferece sanduíche de picanha.

Se for comprovado que as redes fizerem hambúrgueres com 100% de carne de picanha, usarei este espaço para dizer que estava enganado.

Está valendo.

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Hambúrguer é o refúgio dos medrosos https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/07/06/hamburguer-e-o-refugio-dos-medrosos/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/07/06/hamburguer-e-o-refugio-dos-medrosos/#respond Sat, 06 Jul 2019 05:00:58 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2019/07/burger-731298_1920-320x213.jpg https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=1587  

O empreendimento gastronômico mais bem-sucedido de Lisboa é o Time Out Market, uma praça de alimentação que ocupa metade do espaço do antigo Mercado da Ribeira, no Cais do Sodré.

São mais de 30 estabelecimentos que servem praticamente tudo o que há na culinária portuguesa. O lugar fica lotado o dia todo com americanos, franceses, espanhóis, japoneses, alemães, dinamarqueses, canadenses, chilenos. E brasileiros, claro. Portugueses, eu só vi atrás dos balcões.

A turistada pira e se refestela com presuntos de porco preto, pimentos de Padrão, francesinhas, camarões-tigre, amêijoas à Bulhões Pato, bacalhau, lulas, chocos e calamares, pastéis de nata, queijadinhas de Sintra, arroz de gambas, pregos, alheiras, sardinhas na brasa, bifanas, sapateiras, carabineiros, açordas e mais.

A maior fila do mercado, no entanto, vai para um estande denominado Ground Burger. Filial de uma hamburgueria muito prestigiada em terras alfacinhas.

Estrangeiros numa espécie de Disney da comida portuguesa escolhem hambúrguer. Essas pessoas deveriam ter o passaporte apreendido.

O turista medroso, apavorado com o vislumbre de uma aventura gastronômica exótica, é uma figura proverbial.

Ele viaja ao México, ao Brasil, à França, à Tailândia. A Itália é uma exceção, pois pizza e espaguete ao sugo são tão bundões para o turista quanto uma escapada rumo ao McDonald’s em Tóquio.

Não me entenda mal: adoro hambúrguer, adoro pizza e adoro macarrão. A questão é a falta de curiosidade. De interesse pelo diferente.

Por que diabos essas pessoas viajam, se precisam se aninhar numa refeição familiar assim que bate a primeira fome?

O indivíduo não toma a iniciativa de aprender as boas maneiras no idioma local. Não consegue decorar “bom dia”, “por favor” e “obrigado” em árabe, grego ou russo.

Como esperar que uma pessoa assim tenha abertura à culinária de um país que sua mente obtusa julga bizarro ou degenerado? No mínimo, não é tão bom quanto arroz e feijão. No extremo, vai que isso é carne de cachorro?

Causou revolta na comunidade coreana o vídeo de um casal de influencers brasileiros. A dupla foi à Coreia e, sem tentar entender a situação, gravou cenas de nojinho explícito em pontos de venda de alimentos.

Aceitar o diferente não corrompe a identidade de ninguém. Conhecimento nunca é demais, mas tem gente com medo de que novas informações possam abalar suas certezas. Certamente vão, o que é excelente.

Essa poltronice não é exclusiva de brasileiros. No caso do mercado de Lisboa, quase toda a fila do hambúrguer tinha cabelos dourados e olhos azuis.

Só não tenho notícia de presidente estrangeiro que haja corrido para a churrascaria ao chegar a Osaka, a cidade mais glutona do Japão.

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Restaurantes vendem de tudo, menos comida boa https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/06/04/restaurantes-vendem-de-tudo-menos-comida-boa/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/06/04/restaurantes-vendem-de-tudo-menos-comida-boa/#respond Tue, 04 Jun 2019 15:45:42 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2019/06/churros-320x213.jpeg https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=1510 Todos sabemos que publicidade é prestidigitação: ela atrai o olhar da vítima para longe dos truques embutidos neste produto ou naquele. Quando a mercadoria é boa, a criatividade atrapalha. A qualidade se encarrega das vendas, a não ser que outros aspectos da operação sejam desastrosos.

Faz parte do jogo. Já estamos acostumados com esse tipo de embromação –tem até faculdade para ensinar tais coisas.

Mas alguns passam dos limites do razoável.

Falo de algumas sugestões de pauta que recebo por e-mail ou vejo nas redes sociais.

Dois casos concretos:

  • Um restaurante de São Paulo inventou um certo hambúrguer de churros. Ele vem a ser um sanduíche de massa doce frita e recheada com morango, brigadeiro e creme de avelã. O título do release de imprensa é: “Hambúrguer de churros instagramável é aposta de bistrô para conquistar likes e paladares”. Espera. Não basta ser hambúrguer de churros? Tem que ser instagramável, também? Conquistar likes? O like vem antes do paladar? E a pergunta que não quer calar: a comida é boa? Sei lá, tanto faz. O que importa é causar auê.
  • Uma cadeia americana de restaurantes pseudoaustralianos lançou para o inverno o que eles batizaram de fondue. É um pão preto recheado de queijo processado cor-de-laranja, em que o cliente deve mergulhar coisas como: batatas fritas, frango e camarões fritos. Fala sério. Se a intenção é chocar, a novidade é um sucesso.

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