Cozinha Bruta https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br Comida de verdade, receitas e papo sobre gastronomia com humor (bom e mau) Mon, 13 Dec 2021 21:07:14 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Lave bem o peru antes do Natal https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/12/23/lave-bem-o-peru-antes-do-natal/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/12/23/lave-bem-o-peru-antes-do-natal/#respond Mon, 23 Dec 2019 21:42:42 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2019/12/peru19-320x213.jpg https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=1917 Nunca fui muito de peru. Sem graça e geralmente seco, ele é uma daquelas comidas natalinas que não me despertam o apetite. Preciso, contudo, fazer justiça à ave.

A culpa pela comida sem graça não é necessariamente do peru. Muito dela vem da falta de destreza dos cozinheiros –realmente não é fácil obter uma boa cocção das carnes brancas e escuras, simultaneamente, quando se assa o bicho inteiro.

Culpado também é o tempero que os frigoríficos põem em todos os perus que vão para o mercado. Glutamato monossódico e mais um monte de tranqueiras que eu não quero comer.

Deu que neste ano meu filho de 7 anos encasquetou que queria comer peru. Televisão demais, eu acho. Beleza, peru teremos.

Mas não queria o peru temperado. Sondei nas minhas redes sociais e tive uma pista de que talvez, quem sabe o Mercado Municipal da Lapa tivesse o bichão sem tempero. Fui.

Na banca indicada, decepção. Eles até costumam ter o peru sem tempero, mas apenas as partes cortadas. E só haviam sobrado pescoços e asas –pouca chance de sucesso na mesa natalina.

Parti para o plano B: destemperar um peru temperado. Para isso, é preciso lavar bem a ave. Sem sabão, obviamente. Fiz como se faz com bacalhau. Deixei o peru mergulhado num balde cheio d’água dentro da geladeira (foi necessário algum rearranjo de espaço) por algumas horas e depois o enxaguei em água corrente.

Se você vai fazer peru no Natal, recomendo que faça isso também e use o próprio tempero.

Não compartilho aqui a minha receita porque, na realidade, ela ainda nem existe. Estou pesquisando um meio de assar o peru sem dar vexame na mesa natalina.

Feliz Natal para todos.

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80 razões para detestar o Natal https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/12/21/80-razoes-para-detestar-o-natal/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/12/21/80-razoes-para-detestar-o-natal/#respond Sat, 21 Dec 2019 05:00:09 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2018/12/thanksgiving-3837327_1920-320x213.jpg https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=1915 O panetone murcho. A rabanada oleosa. O espumante doce. O tender doce. A farofa doce. O arroz doce que não é sobremesa. O peru sem gosto de nada. O lombo árido. Passar a meia-noite com a família do conje. Ou pior, passar com a própria família. O tio reaça. O primo reaça. O sobrinho reacinha. Os rojões do vizinho demente. Quebrar nozes. Comer nozes nos doces. Comer nozes nos salgados. Descascar castanhas portuguesas até sangrar embaixo da unha. Os filmes cretinos reprisados na TV. No telejornal do almoço do dia 24, a notícia de que já Natal na Austrália. A vinheta de fim de ano da Globo. A árvore de Natal do parque Ibirapuera. O trânsito causado pela árvore de Natal do parque Ibirapuera. A rua Normandia. A Disneylândia natalina de Gramado. Doces com ameixa. Doces com damasco. O Bolsonaro com gorro de Papai Noel. O Bolsonaro sem gorro de Papai Noel. Os santos do pau oco. A metamorfose do supermercado, que faz surgir tender e panetone onde antes havia comida. A muvuca no supermercado. A muvuca no shopping. Estacionar no shopping. O shopping. O infeliz suadão, de pijama vermelho e barba postiça, que faz um bico no shopping e pega seu filho no colo. A trilha sonora do comércio. A música da Simone. O maldito do John Lennon, por ter composto a música da Simone. As matérias requentadas do jornal. A maratona de retrospectivas inúteis. Papai Noel descendo de helicóptero em algum estádio nos cafundós do Brasil. A padaria fechada. O boteco fechado. O restaurante fechado. Tudo fechado na cidade. O sumiço dos táxis. O preço (abre aspas) dinâmico (fecha aspas) do Uber. Os concidadãos bêbados. Os concidadãos bêbados que pegam o carro e vão fazer merda na rua. O tio do pavê. O jovem lacrador que faz piadas dignas de tio do pavê sobre o tio do pavê. O pavê. Fingir que gostou do pavê. As frutas cristalizadas. As frutas secas. As frutas em calda. O salpicão. O frango defumado. O vinho do porto ordinário que o pai abriu no Natal de 1983 e ainda serve como se fosse um tesouro. A mãe dizendo que você engordou. O fato de ser verdade o que a mãe disse. Desembaraçar os fios do pisca-pisca da árvore de Natal. O amigo secreto. A troca de presentes sem amigo secreto, que sai muito mais cara. Os presentes sem serventia. Usar a camisa medonha que o tio deu no Natal passado, porque a mãe pediu para você usar. Precisar sorrir. A geladeira lotada, que não gela a cerveja direito. O primo mala, que rouba as cervejas que você escondeu no freezer. O outro primo mala, que tira as cervejas da geladeira para colocar o refrigerante de 2 litros. A sobremesa indecifrável que a tia trouxe num tupperware. A visita que nunca vai embora. A carona que não te deixa ir embora da casa dos outros. A after party da depressão. Acordar de ressaca. O sorvete de panetone. O panetone de sorvete. As 500 modalidades criativas de panetone gourmet. Almoçar os restos da ceia no dia seguinte. Alimentar-se dos restos da ceia pelo resto do ano. Por último, mas não menos importante, as montanhas de louça suja.

E olha que eu não falei das uvas passas.

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Jesus gay me devolveu a alegria no Natal https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/12/14/jesus-gay-me-devolveu-a-alegria-no-natal/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/12/14/jesus-gay-me-devolveu-a-alegria-no-natal/#respond Sat, 14 Dec 2019 05:00:02 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2019/12/portadosfundos-320x213.jpg https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=1900 O moleque tem 7 anos, mas ainda acredita em Papai Noel. No fundo, acho que ele sabe que o velho não existe, mas engole a lorota porque gosta demais do Natal. Desde que me tornei um tiozão rabugento, a euforia do meu filho com as luzes que piscam é a única coisa que me alegra na época natalina.

Ou melhor: era. Agora tem também o Especial de Natal do grupo de humor Porta dos Fundos. Fazia tempo que eu não ria tanto.

De resto, o Natal nem precisaria existir para mim.

Não gosto da comida da ceia. É tudo seco e meio doce.

Peru, minha gente, para quê? Se tender fosse bom, as pessoas comeriam o ano todo. Aquele arroz colorido, festivo, com uns parangolés, amêndoas e passas. Passo.

O lombo estorricado de todo Natal merece um feijãozinho com bastante caldo para descer suave. Na real, a gente comeria melhor se desencanasse da ceia e pedisse umas pizzas.

E as sobremesas? O nefando pavê. Um monte de doces com nozes e ameixas. Já inventaram o chocolate, dá para melhorar isso aí.

Aliás, não faz sentido servir sobremesa numa refeição que os pratos principais têm fios de ovos, abacaxi em calda, figo ramy e as excomungadas passas.

Não me agrada trocar a cervejinha por espumante. Nada contra o espumante, mas a compra das garrafas sempre recai sobre o tio sovina e ignorante –e ele compra moscatel vencido na promoção do empório. Ninguém merece passar a noite toda bebendo moscatel.

Pensando melhor, algumas pessoas merecem. É por enfurecer essas pessoas que eu gosto tanto do Jesus gay do colega Gregório Duvivier.

Detesto celebrar algo em que não acredito só para manter a tradição. Odeio quando preciso parecer feliz só porque é Natal. Abomino gastar dinheiro, tempo e sola de sapato para comprar presentes só porque, afinal, todo mundo troca presentes no Natal.

Não quero nem vou reverenciar uma lenda sem pé nem cabeça. Em pleno 2019, assusta perceber que ainda há quem acredite literalmente em absurdos como a concepção sem sexo. Milagres sempre acontecem longe de testemunhas isentas e, desde a invenção do cinema, nenhum foi registrado em filme. A fé é um negócio gozado, né?

As pessoas que se ofenderam com o Jesus gay se dizem cristãs, mas celebram o Natal da forma mais profana possível: comilança, bebedeira, ostentação, futricas, beligerância.

O especial da Porta dos Fundos expõe as tripas da hipocrisia familiar natalina. Zomba de quem vem dizer que vale tudo no humor –mas que fica cheio de mimimi quando o sarro é com ele.

Duvivier e Fábio Porchat não estão a ridicularizar Jesus, seu mané. Você que é ridículo e não aguenta ver a própria caricatura na TV.

Com uma ou outra passagem ruim –a cena inicial dos Reis Magos é digna de filme dos Trapalhões–, o Especial de Natal do PDF é humor magistral, comparável à “Vida de Brian”, do grupo inglês Monty Python.

Ele me devolveu a alegria no Natal. Dá até para encarar mais algumas passas. Com espumante moscatel.

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Chocotone funcional é a picaretagem natalina de 2019 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/12/12/chocotone-funcional-e-a-picaretagem-natalina-de-2019/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/12/12/chocotone-funcional-e-a-picaretagem-natalina-de-2019/#respond Thu, 12 Dec 2019 11:00:56 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2019/12/unnamed-320x213.jpg https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=1894 Já tratei do tema aqui antes: a caixa de entrada do e-mail de um jornalista gastronômico é igual curva de rio, tudo o que é tranqueira vai parar lá. Nesta época, a coisa piora substancialmente, com receitas natalinas, “dicas” de lugares para fazer a festinha da firma e sugestões para compensar a comilança do fim de ano.

Apaguei, estoicamente, sem me manifestar, cada uma dessas mensagens. Até que me chega a receita de um chocotone funcional.

Como pode tanta picaretagem? O negócio não tem trigo, só farinha de arroz ou sorgo e amido de mandioca e batata. É sem glúten, portanto. Ou seria sem glúteos? Também não leva nenhum laticínio. Sem lactose, portanto. Chia, açúcar de coco e ovos orgânicos de uma determinada fazenda ajudam a funcionalizar a receita. Vai também goma xantana, um aditivo estabilizante e espessante, comum na indústria alimentícia –sem glúten, é preciso um pouco de cimento para o bichão parar em pé.

Mas que diabo funcional? Qual a funcionalidade de comer um chocotone quase péssimo, mas nem tanto, no Natal?

Está feito o desabafo, feliz Natal para todos!!

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Onde o tender se esconde quando não é Natal? https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/12/10/onde-o-tender-se-esconde-quando-nao-e-natal/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/12/10/onde-o-tender-se-esconde-quando-nao-e-natal/#respond Tue, 10 Dec 2019 13:14:26 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2018/12/tender-320x213.jpg https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=1892 Onde mora o tender no resto do ano? Ninguém come tender, ninguém compra e ninguém vende. Onde ele se esconde para aparecer de supetão?

De onde surge tanto peru só para a época do Natal? Haja peito defumado e blanquet para alimentar gente em dieta…

E frango defumado? Alguém já viu frango defumado fora de dezembro?

O panetone, a gente sabe, se transforma em colomba na Páscoa. E em julho, onde ele vai parar?

As rabanadas, coitadas, viram farinha de rosca para ser casquinha de bolovo.

As passas –e isso é notório– passam o ano todo esperando alguém as comprar, no mercado, na seção de frutas secas. Elas secam e secam mais, até chegar ao grau ideal de secura, dura e borrachenta como a mãe gosta.

O que faz Papai Noel nos outros meses? Se a resposta for “planeja o Natal”, o sujeito tem o emprego mais infernal do mundo.

E olha que eu nem vou entrar na questão dos chesters… ou seriam chésteres?

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Supermercado vende pão amanhecido por R$ 25 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/12/05/supermercado-vende-pao-amanhecido-por-r-25/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/12/05/supermercado-vende-pao-amanhecido-por-r-25/#respond Thu, 05 Dec 2019 10:30:01 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2019/12/paovelho-320x213.jpg https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=1885 Dezembro é aquela época surreal em que fica difícil achar comida no mercado –todos os espaços são ocupados por peru, panetone e tender.

É a primeira vez que passo vários dias consecutivos no Rio no final do ano. Interessante observar que as diferenças culturais entre paulistanos e cariocas chegam até à mesa de Natal.

Fios de ovos. Claro que você os encontra em São Paulo, mas aqui é outro nível. O supermercado em frente de casa tem uma geladeira só com fios de ovos, de cinco ou seis marcas diferentes. Quando você vê uma coisa dessas, lembra que o carioca é um português de bermudas.

Outra tradição lusa que enlouquece os cariocas é a rabanada. Elas estão por toda parte, mesmo fora do período natalino.

Ontem, quando fazia compras (no mesmo mercado dos fios de ovos), topei com uma promoção peculiar: pão para rabanada a R$ 25 o quilo.

Sempre soube que rabanada se faz com pão velho, amanhecido –ou, como se diz por aqui, dormido. Fui checar. Dei aquela apalpada básica. Duro, indubitavelmente velho.

Perguntei à moça da padaria se aquilo era pão amanhecido. Ela assentiu: “pão dormido é melhor para a rabanada”. Ok, mas espere. Não dá para comprar pão fresco e usar as sobras na rabanada?

A saber: no mesmo lugar, o quilo do pão francês quentinho, recém-saído do forno, custa R$ 15. Mas tem quem pague R$ 10 a mais pelo pão velho. Deve ter, senão não haveria a placa. Cada um, cada um.

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O Natal da treta e do climão https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2018/12/22/o-natal-da-treta-e-do-climao/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2018/12/22/o-natal-da-treta-e-do-climao/#respond Sat, 22 Dec 2018 04:00:01 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2017/11/IMG-0211-180x180.jpg https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=1103  

Dormiu no ponto quem não brigou com a própria família em 2018. O racha familiar foi o must da primavera-verão e deve ditar as tendências da moda pelo menos até o próximo inverno.

Entre um pega e outro, existe algo chamado Natal. Aquela reunião de parentes que já traz constrangimento em tempos de paz –e que vem com um tempero todo especial este ano.

Até onde sei, ninguém ainda propôs cancelar o Natal. Seria o mais sensato. As grandes bolhas inimigas das redes sociais vão se encontrar dentro de cada lar brasileiro, no seio de cada família deste país. Vai dar caca. Na hipótese mais branda, vai assustar as crianças.

Mas o assunto é comida. Vamos pensar num cardápio adequado para o Natal de 2018.

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Antes, umas pinceladas de etiqueta. Vista-se adequadamente. Verde, amarelo e azul podem ultrajar alguns convidados. O mesmo para o vermelho. Como todos já usam branco no réveillon, sugiro trajes pretos. Ou roxos, para alegrar um pouco o ambiente.

A cozinha, idealmente, deveria ser operada por observadores internacionais. Muito fogo e muitas facas que podem cair em mãos erradas.

Comece servindo as bebidas. Neste calor, é fundamental se hidratar. Mágoa com gás e mágoa sem gás não podem faltar na festa. Para um pouco mais de cor e sabor, ofereça também alguns socos de frutas frescas.

O álcool entra para tornar a convivência suportável. Serve também como bode expiatório para as brigas que fatalmente virão. “Mal aí, primão, eu tinha bebido demais”, dirá você candidamente no ano que vem. Abasteça os copos com cerveja Drahma, espumante bruto e batidas sortidas. Evite rum venezuelano e conhaque Presidente.

Para petiscar, faça como os espanhóis: distribua tapas para todo mundo. Mexilhão ao alho e ódio, camarão pistola, batatas bravas. Se alguém pedir lula, desconverse.

E segue a festa: contra à cubana, porco à brasileira, patos com laranja.

Se estiver na praia, invista em pratos de peixe para brigar com classe. Treta à belle meunière. Arraiva com beurre noisette.

Bacalhau assado com batatas ao murro é um prato tradicional da consoada portuguesa. Suspeito que, neste Natal, vão faltar o bacalhau e as batatas: o murro vai ter de sobra. A família toda vai levar quentinha cheia de murro.

Adoce as bocas amargas com torta de climão. E pavê. O clássico pavê natalino. Pode ser de creme, pode ser de pêssego em calda, pode ser de nozes. Porque o tio do pavê é o único que pode salvar o natal da família. E a família é nozes. (Algo especialmente verdadeiro no meu caso.)

Bom Natal para todos. E vamos que vamos porque 2019 promete ser ó… uma trolha!

 

 

 

 

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Panetone de coxinha é só tosco; bizarro é o chester https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2018/12/18/panetone-de-coxinha-e-so-tosco-bizarro-e-o-chester/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2018/12/18/panetone-de-coxinha-e-so-tosco-bizarro-e-o-chester/#respond Tue, 18 Dec 2018 16:57:35 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2018/12/coxintone-320x213.jpg https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=1093 Muitos amigos se lembraram de mim quando viram na internet um certo panetone de coxinha, feito por alguma alma de Curitiba e apelidado de coxintone. Recebi o link em todas as redes sociais de que participo, fui marcado em posts e tive o coxintone adicionado à minha timeline.

Tá. Fui ver o que era o tal negócio. Hum. Uma coxinha gigante. O panetone é só uma tentativa tosca de viralizar a coisa com sensacionalismo. Não é que funcionou?

O coxintone é só uma amostra triste da falta de noção do brasileiro. A pessoa acha que vai arrasar, abafar, lacrar com um artifício primário assim. E o pior: consegue. No Brasil atual, isso é inteligência e criatividade. Talkey?

Em termos culinários, o coxintone não tem nada de mais. Não é bizarro. Não é um absurdo. É só exagerado. Deve ser ruim, mas não posso afirmar sem provar.

Tampouco são bizarras as centenas de variações que inventaram para o panetone. Doce de leite, red velvet, calabresa, bacalhau.

Estamos falando, no fundo, de uma massa de farinha de trigo recheada com algo. A farinha é um elemento neutro, admite qualquer alimento doce ou salgado. Temos a pizza, a esfiha, as tortas, os bolos, as panquecas, os pastéis.

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Bizarro mesmo é o chester, que um monte de gente come achando que é normal. A depender do frigorífico, o frangão tem vários nomes comerciais. Vou usar “chester” porque está no dicionário como substantivo comum.

É uma galinha deformada, desenhada geneticamente para saciar o apetite humano por carne de peito e de coxa. Um mutante tão estranho que os criadores fazem de tudo para não mostrar imagens do bicho vivo. Uma subespécie de frango que só existe para figurar na ceia de Natal.

Isso não é bizarro?

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Tender da ceia de Natal nasceu como oferenda a deus pagão https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2018/12/17/tender-da-ceia-de-natal-nasceu-como-oferenda-a-deus-pagao/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2018/12/17/tender-da-ceia-de-natal-nasceu-como-oferenda-a-deus-pagao/#respond Mon, 17 Dec 2018 13:28:04 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2018/12/tender-320x213.jpg https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=1087 Um pouco de história, garotada.

Se você é uma pessoa minimamente curiosa, já deve ter parado para pensar: o que uma árvore cheia de enfeites brilhantes tem a ver com o nascimento de Jesus. A resposta óbvia: nada.

O Natal que a gente celebra é uma mistura da narrativa cristã com rituais de inverno dos povos antigos da Europa. Festas pagãs como a Saturnália dos romanos e o Yule, dos povos germânicos do Norte.

Esses festivais ocorriam sempre perto do solstício de inverno (21 de dezembro), a noite mais longa do ano. Eram as baladas do “ufa, o pior já passou”.

O pinheiro entrava na jogada por ser uma árvore que não perde as folhas nem no inverno mais congelante. Ele simboliza a vida que resiste ao inferno do gelo.

Outras tradições pagãs foram incorporadas ao Natal. Na alimentação, a mais conhecida é o presunto tender.

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O tender é um descendente do yule boar – javali que era sacrificado na celebração do Yule pelas tribos germânicas da Escandinávia e das Ilhas Britânicas. A festa voltou a ser comemorada pelos neopagãos, grupos de supostos bruxos e druidas de cultos como a wicca.

A cabeça do javali era entregue em oferenda a Freyr, representado na mitologia desses povos sempre com o pênis enorme e ereto. Freyr era um deus da fertilidade: agradá-lo poderia garantir uma colheita boa no ano que chegava.

Na medida em que a festa tribal deu lugar a jantares menores, restritos à família, o javali ficou grande demais. Sobrou só a perna dele, que virou o pernil e o presunto de Natal.

O presunto de Natal é muito comum na Inglaterra, nos Estados Unidos, na Suécia, na Alemanha e em todo o mundo povoado pelos descendentes dos antigos pagãos. Às vezes, ele ainda é chamado de yule ham.

No Brasil, tender é a denominação comercial do presunto cozido e defumado. A palavra é inglesa e significa “macio”, mas é criação genuína de nossos marqueteiros tropicais.

 

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Natal brasileiro vai na contramão da natureza https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2018/12/15/natal-brasileiro-vai-na-contramao-da-natureza/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2018/12/15/natal-brasileiro-vai-na-contramao-da-natureza/#respond Sat, 15 Dec 2018 04:00:57 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2018/12/passas-320x213.jpg https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=1082 No universo idiotizado das redes sociais, a discussão sobre uvas passas ganha vulto quando o Natal se aproxima. Alguém se importa de verdade? Devo presumir que sim, já que a lengalenga se repete ano após ano.

Parece-me bastante óbvio que só come passas quem quer. O que escapa à maioria das pessoas: Jesus não vai descer da goiabeira para fulminar quem fizer uma ceia sem “comidas de Natal”.

Eu não aprecio demais o cardápio festivo de fim de ano. É tudo meio seco. Muita coisa muito doce. Falta um feijãozinho para ajudar a descer o lombo.

Se você não aderiu ao terraplanismo, deve entender que o Natal brasileiro vai na contramão da natureza. Importamos para a canícula do verão austral os rituais das terras congeladas do Norte. Quem mais sofre é o Papai Noel do shopping.

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Com exceção da farofa, a ceia natalina segue a tradição invernal europeia.

Nozes, castanhas, frutas secas (olha a uva passa aí, gente!), frutas cristalizadas e compotas entram em cena porque, em tempos passados, não havia vegetais frescos no dezembro boreal. A última colheita era celebrada no outono, em festivais pagãos que foram incorporados pelo cristianismo.

O festim das carnes assadas também remete ao inverno. Por alguns motivos lógicos.

Cada animal abatido, além de alimento, era uma boca a menos para ser alimentada –a escassez era braba. E o mais importante: em tempos sem refrigeração, os açougueiros precisavam trabalhar no frio para que a comida não estragasse.

Matava-se o porco. A carne fresca era servida nas festas, mas ainda sobrava muito. O restante era transformado em presuntos, linguiças, salames, carnes salgadas e defumadas.

Na estação quente, a dinâmica alimentar se invertia: as hortaliças frescas ganhavam a companhia comedida da charcutaria preparada no inverno.

Nós transplantamos uma cultura que não combina com o clima. Não precisamos fazer as coisas desse jeito apenas porque assim sempre se fez. Romper com a tradição pode fazer mais sentido do que mantê-la.

No Brasil, temos abundância o ano todo. Frutas secas para quem não gosta frutas frescas. Verduras e legumes para quem não gosta de frutas na comida. Passas e peru à califórnia para quem gosta do Natal à antiga.

Ano passado, encasquetei que queria uma ceia diferente. Acabei por cozinhar uma “cena navideña” cubana: paleta de leitão ao “mojo” (molho cítrico), “moros y cristianos” (arroz e feijão preto cozidos juntos), banana-da-terra frita. Tropical, ácido, úmido.

Companheiro Noel, o barbudo, desceu de vermelho naquela noite para nos entregar os presentes em homenagem ao nascimento do outro barba.

 

 

 

 

 

 

 

 

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