Cozinha Bruta https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br Comida de verdade, receitas e papo sobre gastronomia com humor (bom e mau) Mon, 13 Dec 2021 21:07:14 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Bolonhesa vegana para uma segunda sem carne https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2020/01/13/bolonhesa-vegana-para-uma-segunda-sem-carne/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2020/01/13/bolonhesa-vegana-para-uma-segunda-sem-carne/#respond Mon, 13 Jan 2020 03:00:12 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2020/01/vegano-320x213.jpg https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=1964 Segunda-feira sem carne. Opa, é hoje. O vegetarianismo não é a minha praia (embora eu goste de muitos pratos vegetarianos), e sempre critiquei essas ações evangelizadoras. Mas não posso falar daquilo que eu não conheço.

Semanas atrás, participei de um podcast com a nutricionista da Fazenda Futuro, que produz hambúrguer vegano – baseado, principalmente, em proteínas de soja. No final, disse que provaria outro produto da marca: uma “carne moída” do mesmo material. Fiquei de fazer uma bolonhesa vegana. Comprei a bandeja da “carne”, preparei o molho e servi com tortelloni de cogumelos porcini.

Preciso admitir que ficou ótimo. A textura é de carne cozida e o sabor.., bem, é de um monte de vegetais cozidos longamente, parecido com o do ragu bolonhês de carne de boi. Não estou ganhando um tostão com isto, que fique claro.

Lancei mão de outros recursos, que vão além da receita tradicional do ragu bolonhês, para aumentar o umami do prato – uma colherada de missô e o uso de caldo vegetal para regar o molho de vez em quando.

Fiquei tão feliz com o resultado que vou compartilhar a receita nesta segunda-feira.

***

Aqueça, numa panela de fundo grosso, duas colheres (sopa) de azeite. Refogue uma cebola média, uma cenoura pequena e um talo de salsão, todos picados bem finos.

À parte, numa panela pequena faça um caldo rápido com cenoura, cebola, salsão, louro e os temperos que desejar.

Na panela principal, jogue um pacote de “carne” moída vegetal e refogue por alguns minutos. Adicione uma taça de vinho (tinto ou branco, desde que seja seco) e uma lata de tomates. Cozinhe em fogo baixo por cerca de duas horas. Regue com o caldo sempre que ressecar.

Um pouco antes de juntar o molho ao macarrão, coloque uma colher (sopa) de missô no molho. Mexa bem para ficar homogêneo. Ajuste o sal.

Eu comi com queijo de vaca porque o similar vegano é proibitivo. Você faz o que bem entender.

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Doutrinação vegana pega emprestado o pior do cristianismo https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/11/02/doutrinacao-vegana-pega-emprestado-o-pior-do-cristianismo/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/11/02/doutrinacao-vegana-pega-emprestado-o-pior-do-cristianismo/#respond Sat, 02 Nov 2019 03:02:31 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2019/11/fritz-320x213.jpg https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=1821 Adoro comida vegana. Falafel, espaguete com molho de tomate, pizza marinara, batata frita, homus, arroz com feijão, frutas, legumes, verduras, ervas, café, azeite de oliva, pão. Pão –o mais básico dos alimentos– pode ser vegano sem nenhuma perda de sabor. Cerveja é um bagulho vegano muito doido.

Quanto ao veganismo, não aprecio demais. Cada um come o que quer, é lógico. E é aí que mora a minha divergência com os veganos: eles querem ditar aos outros o que comer.

Ontem, quando se comemorou o dia mundial do veganismo –você já reparou que 2019 tem pelo menos uma data comemorativa para cada dia?–, pipocaram na internet os gritos de guerra da galera que repudia qualquer produto de origem animal.

O veganismo não é uma dieta, é uma doutrina. Detesto ser doutrinado, catequizado, evangelizado. Voltem para a casinha, donos da verdade.

O pior do cristianismo vive no movimento vegano.

Tudo é pensado para arrebanhar devotos, como a pregação da Igreja Universal do Reino de Deus. O apelo à culpa, com a divulgação de imagens de sangue e morte de animais. “Torna-te um de nós, senão serás uma pessoa má.” Se o chamado não é atendido –a maioria dos casos–, o discurso muda ligeiramente. “Escarraremos na tua cara, carnista.”

Falta só o Diabo com o tridente para espetar a bunda de quem teima em comer picanha.

Além da penitência cristã, há um discurso filosófico para embasar a doutrina. Uma defesa racional do tratamento ético para a bicharada.

Porcamente resumido, o pensamento é: deve-se estender aos animais o tratamento ético que tem sido conquistado por minorias humanas historicamente oprimidas. O especismo –colocar o Homo sapiens acima das outras espécies– equivale ao racismo, à homofobia e ao antissemitismo.

É uma retórica envolvente, bem argumentada e bem fundamentada, convincente. A lábia intelectual distrai o leitor para longe de uma falha fundamental: é impossível aplicar termos como “moral” e “ética” para relações entre humanos e animais.

As regras de convívio social implicam contratos –escritos ou tácitos– sabidos, compreendidos e aceitos por todas as partes envolvidas. Não dá para combinar o jogo com uma vaca ou um coelho. Nem com os peixes, cujo brilho intelectual foi descoberto ontem pelo governo do Brasil.

Comer carne demais é um problema real. A cadeia produtiva tem um impacto ambiental monstruoso. A crueldade contra os animais precisa ser reduzida, se não eliminada.

Mas é preciso ver a questão pelo ângulo oposto: em vez de igualar o animal ao homem, reconhecer a natureza bestial do ser humano.

Não é bonito matar para comer, só que isso nunca vai acabar porque somos carnívoros. Pergunte aos seus dentes caninos. Pergunte a qualquer mulher grávida. Pergunte ao vegano que morde um hambúrguer de soja com a voracidade de uma hiena atacando um leão. Ops, eu quis dizer antílope.

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É proibido comer carne vermelha, mas se quiser pode comer https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/10/05/e-proibido-comer-carne-vermelha-mas-se-quiser-pode-comer/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/10/05/e-proibido-comer-carne-vermelha-mas-se-quiser-pode-comer/#respond Sat, 05 Oct 2019 05:00:45 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2018/05/churras-320x213.jpg https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=1763  

Causou certo alvoroço no começo da semana um estudo, divulgado pelo “New York Times”, que inocenta –em termos– a carne vermelha dos males que lhe são imputados.

Em resumo: os pesquisadores de uma universidade canadense examinaram pesquisas anteriores e consideraram frágil o elo entre o consumo de carne e a ocorrência de doenças como câncer e cardiopatias.

O sindicato dos amantes da picanha inundou as redes sociais com posts acusatórios, sambando na cara da sociedade como quem grita “chupa”.

Já a comunidade médica tentou refrear o ímpeto dos carnistas, recomendando cautela na interpretação do artigo e acusando seus autores de frivolidade irresponsável.

Na real, na boa, na moral : pouco importa.

Se o bacon não te matar, alguma outra coisa vai. O corpo humano é um objeto de estudo muito complexo, bem mais matreiro do que os corpos celestes –gases e pedras cujo comportamento cabe em fórmulas matemáticas mais ou menos universais.

As pesquisas envolvendo alimentação e saúde esbarram em interesses de lobbies. Seus resultados raramente são assertivos.

Por mais que o senso comum nos diga que o torresmo entope as artérias, é imprudente estabelecer uma relação de causa-efeito categórica.

O sujeito da artéria entupida, que come um balde de torresmo no almoço e outro no jantar, poderia ser portador de alguma predisposição genética. Outro indivíduo, que come tudo isso mais outra bacia de torresmo no café da manhã, pode ter a saúde de um atleta olímpico.

São múltiplos os fatores que afetam a saúde de uma pessoa. A dieta conta, mas não dá para colocar numa planilha de Excel onde entram as contribuições do frango xadrez e do suflê de chuchu.

Já vimos o filme várias vezes. A redenção do antigo inimigo público número 1. Ovos, café, chocolate, gordura animal e até álcool.

Atividade física, genética, tabagismo, condições psiquiátricas, estresse, sobrepeso, distúrbios do sono. Tudo isso afeta o funcionamento de algo dentro de você. O problema está em identificar o que atua onde.

A uruca que culmina na morte também envolve fatores aleatórios. Acidentes acontecem. Não me refiro ao acidente clássico, do Fusca espatifado no poste.

Você pode torcer o tornozelo, ficar de molho em casa, em depressão, tomando sete litros de refrigerante por dia, dar entrada no hospital com uma úlcera e morrer de sepse. Pode comer uma ostra contaminada e partir desta para melhor em questão de dias.

Assim, recomendo uma boa dose de bom-senso e de fé no próprio taco. Coma menos carne: as vacas soltam muito pum, e isso tende a acabar mal. Quando comer carne, coma carne boa e bem-preparada. Um bicho morreu para você matar seu desejo de hambúrguer, animal!

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7 fatos que você deve saber sobre o hambúrguer de plantas https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/09/26/7-fatos-que-voce-deve-saber-sobre-o-hamburguer-vegano/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/09/26/7-fatos-que-voce-deve-saber-sobre-o-hamburguer-vegano/#respond Thu, 26 Sep 2019 20:45:09 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2019/05/20190514083630-320x213.jpg https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=1737 Hoje, mas cedo, a jurada do MasterChef Paola Carosella soltou um tuíte que deixou os veganos e os antiveganos em pé de guerra.

Vamos, primeiro, ao tuíte da Paolla:

“Experimentei, por curiosidade, o ‘hambúrguer’ de plantas ‘sabor carne’. Não é hambúrguer, não tem gosto de carne nem textura de carne –o que é óbvio, pois não é carne. Gorduroso, pastoso, desagradável. Uma bosta ultraprocessada oportunista no momento de maior confusão alimentar da história.”

Paola tentou argumentar que não atacava o veganismo, mas a indústria de processados. Não adiantou. Ativistas veganos continuaram a acusá-la de jogar contra o movimento, com argumentos do naipe destes aqui:

“Que solução você propõe para difundir mais o veganismo então, Paola? Sou vegano e não sou o maior fã desse produto, mas pelo menos tem aberto portas pra mais gente conhecer o movimento.” (@HU6OS)

“Cara, o importante é parar de comer carne. (…) A forma que as pessoas aderem ao vegetarianismo/veganismo pouco importa, né?” (@igaidys)

“[O veganismo] não é uma dieta. É uma opção de vida.” (@comunafeminista)

O mais bizarro de tudo é que Paola atraiu a empatia dos bolsominions –que apoiam qualquer posição contrária ao pensamento progressista. Triste.

 

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Vamos aos fatos sobre o hambúguer vegano.

 

  1. Não é hambúrguer. Não deveria ser chamado de hambúrguer para não confundir o consumidor. Hambúrguer, a rigor, é feito com carne de boi. Existem, porém, produtos de frango, peixe, cordeiro e porco que são vendidos como hambúrguer. Tópico passível de alguma controvérsia, portanto.
  2. São, sim, ultraprocessados, como a mortadela, a salsicha e os nuggets de frango. O que define isso? Processados são alimentos que passam por procedimentos industriais que preservam a forma e o gosto originais dos componentes principais. Exemplos: azeitona em conserva, frango temperado, copa defumada, feijão pronto, arroz parboilizado. Nos ultraprocessados, tudo é misturado de forma a mascarar formas e sabores naturais. Exemplos: cereais matinais, hambúrgueres congelados, biscoitos recheados, creme de queijo.
  3. Seu valor nutricional é semelhante ao dos similares feitos de carne –falo das marcas que entraram recentemente no mercado, com a promessa de ter gosto e textura de carne. Ou seja, pífio.
  4. Alegando segredo industrial, as empresas que fabricam esses produtos omitem ingredientes na embalagem. Listam termos como “condimento preparado sabor carne” e “aroma natural”, sem dizer o que há nessas coisas.
  5. A base dos hambúrgueres vegetais é a mesma desde o século passado: proteína de soja. Se eles melhoraram na textura e no sabor, é mérito da indústria alimentícia e seus pozinhos mágicos tipo Sazón.
  6. Não têm gosto de carne. Não têm textura de carne. É tudo ilusão e embuste.
  7. A militância vegana apoia esse tipo de alimento porque é uma arma poderosa na evangelização. Como disse a autora de um tuíte citado acima, os fins justificam os meios.

 

O debate, algo rotineiro nas redes sociais, desce às catacumbas da indigência intelectual. Tem até gente que zomba de Paola, que é argentina, por cometer erros de português (o que não deveria acontecer “se ela gosta de viver no Brasil”). Podre. Mas não é esse o assunto do post.

Dito tudo isso, cada um come o que quer. E quem quer enganar a si próprio, que o faça. Fui.

 

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Quem tem medo do jiló amargo? https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/07/24/quem-tem-medo-do-jilo-amargo/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/07/24/quem-tem-medo-do-jilo-amargo/#respond Wed, 24 Jul 2019 14:57:19 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2019/07/jilo-320x213.jpg https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=1625 Dentre todos os alimentos, dentre todos os vegetais, dentre todas as comidas amargas, nada tem reputação tão ruim quanto a do jiló.

Isso é justo?

Confesso que eu nunca tive muita intimidade com a hortaliça, parente da berinjela. Em São Paulo, a rejeição é tamanha que quase ninguém prepara o jiló para vender.

Provei jiló pela primeira vez no Aconchego Carioca, quando este tinha uma filial paulistana. A receita da chef Kátia Barbosa homenageia o colega Claude Troisgros: as rodelas de jiló são temperadas com uma redução de vinagre balsâmico e pimenta-rosa. Acompanha queijo fresco de cabra.

A acidez do queijo e o doce do balsâmico quebram perfeitamente o amargor do jiló. Mas não é só isso: como ocorre com a prima berinjela, o jiló precisa de mãos habilidosas para ficar gostoso.

Um dos segredinhos é salgar as fatias de jiló e esperar ela soltar muita água –junto com ela, vão substâncias que dão amargor ao vegetal.

O Rio é o paraíso do jiló. Ele está em todas as feiras e em todos os botecos. Quase sempre delicioso.

No excelente Da Gema, na Tijuca, ele vem em forma de lasanha. Quase igual à berinjela à parmegiana. No Bracarense, do Leblon, vira bolinho frito com linguiça.

São Paulo deveria perder o medo do jiló. Quem bebe cerveja IPA não deveria se assustar com um pouquinho de amargor.

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Youtuber vegana tem overdose de banana https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/03/27/youtuber-vegana-tem-overdose-de-bananas/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/03/27/youtuber-vegana-tem-overdose-de-bananas/#respond Wed, 27 Mar 2019 13:44:24 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2019/03/20190327103221-320x213.jpg https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=1335 A notícia principal nem é essa do título, mas eu –ex-editor do defunto jornal Notícias Populares– não poderia deixar passar uma manchete perfeita para o NP do século 21.

Vamos aos fatos: a australiana Leanne Ratcliffe, conhecida no YouTube como Freelee, a Garota-Banana, preconiza uma dieta vegana e frugívora. Em um de seus vídeos, ela come nada menos que 51 bananas em frente à câmera. Overdose de banana para deleite da plateia.

A garota-banana, magra e sarada, é só uma das vlogueiras veganas que indicam dietas absurdas na internet. O fenômeno tem causado preocupação entre profissionais de saúde porque, se seguidos à risca, esses regimes alimentares fazem um mal danado ao corpo.

A coisa toda virou um escândalo quando a rainha das youtubers veganas foi flagrada num restaurante comendo peixe. Ai, que horror. Peixe.

A mexicano-americana Yovana Mendoza fatura alto vendendo programas de dietas veganas e crudívoras –daí o seu nick Rawvana. Seu canal de Youtube tem quase dois milhões de seguidores, e o perfil no Instagram é acompanhado por 1,3 milhões de pessoas.

Rawvana foi pega no pulo em Bali, na Indonésia (detalhe: ela mora em San Diego, na Califórnia). O caso, obviamente, virou piada entre os não-veganos. A youtuber precisou se retratar. Disse que passou a comer produtos de origem animal por orientação médica.

Aparentemente, o equilíbrio hormonal da moça de 28 anos ficou todo zoado. Ela admitiu que havia incorporado ovos e peixes à dieta havia dois meses e se disse envergonhada. Por comer produtos de origem animal, não por enganar seus seguidores.

 

Ficam duas lições do episódio:

  1. Não existe mais esconderijo seguro para você fazer merda. Rawvana dançou porque pensava estar longe de suas seguidoras, a tolinha.
  2. Não confie em influenciadores digitais. Nem em grupos de WhatsApp. Não seja tosco, de uma vez por todas.

O “fishgate” da Rawvana desencadeou uma queda geral das máscaras das youtubers veganas. Várias delas confessaram que não faziam o que pregavam.

Como desculpa mais recorrente, problemas digestivos. Gases. Punzinho 100% vegetal de gatinhas veganas. Ou quase.

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Hambúrguer não dá em árvore: ele é um boi morto https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/02/23/hamburguer-nao-da-em-arvore-ele-e-um-boi-morto/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/02/23/hamburguer-nao-da-em-arvore-ele-e-um-boi-morto/#respond Sat, 23 Feb 2019 05:00:40 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2018/07/frankcharles-320x213.jpg https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=1255  

Quando eu tinha 4 ou 5 anos, fiquei extático ao ver um limoeiro carregado. Corri para avisar ou outros: “Pai! Mãe! Achei uma árvore que vende limões!”. O episódio virou piada eterna na minha família –ou não mais, já que o pai morreu, a mãe está senil, e briguei com os demais parentes nas eleições.

Eu era apenas mais uma criança que enxergava o mundo como um gigantesco supermercado.

Daquele tempo para cá, situação só piorou. A comida chega magicamente à porta de casa, quando a mamãe encosta no smartphone.

Em contrapartida, existe um movimento relevante de pessoas que buscam conhecer a origem do alimento. Tornou-se praxe, nos restaurantes ilustrados, identificar a procedência dos ingredientes: queijo da Serra do Curió, bacon artesanal da salumeria Carcamani, café da Fazenda Curupira.

Todos querem saber de onde vem a comida, mas muitos fazem de tudo para não saber o que ela é. Em especial quando se trata de proteína animal –o apelido eufêmico das carnes.

Se árvores não vendem limões, elas tampouco dão hambúrgueres. Toda carne é um pedaço de um animal morto, e tem gente que não suporta essa imagem.

Vegetarianos usam o termo “cadáver”, altamente apelativo. Eu, contudo, preciso admitir que faria o mesmo se estivesse na posição deles.

Piores são as pessoas que comem carne, mas fogem da responsabilidade sobre a morte de um animal.

Meu pai fazia assim. Admiro o velho por inúmeras coisas, mas não por esse traço de sua personalidade.

Se a churrascaria tinha fotos de bois na parede, ele quase passava mal. Quando voltávamos do mercado com 5 quilos de contrafilé, minha mãe ia limpar sebos e pelancas: o pai fechava a porta da cozinha e lá não entrava até que o serviço estivesse acabado.

Assim como ele, há muitos que comem o filé do frango, mas não a coxa que grita nas nossas fuças: “Isto é uma galinha”.

Eu não teria a coragem de matar a minha própria comida, como fazem alguns radicais abilolados. Sempre fui o carnívoro bundão que só conhece a picanha embalada a vácuo.

Para mitigar meu desconforto burguês, fui conhecer 2182.

O boi 2182 era um indivíduo de 681 dias que eu vi ser abatido em Ipuã, no norte do estado de São Paulo. Filho de uma vaca nelore com um touro angus australiano, passou a maior parte de seus quase dois anos de vida em Nhandeara, também no interior paulista.

Vi 2182 entrar no brete, levar um tiro de ar comprimido na testa, ser descourado e desmembrado. Alguns dias depois, recebi em casa nacos da paleta e do lombo de 2182.

Gostei de assistir ao abate? De modo algum. Mas aprendi um montão. Cada fatia de salame, cada coxinha que a gente come significa a morte de pelo menos um animal. É covardia ignorar tal fato.

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Brócolis de pelúcia abduziu meu filho https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2018/08/30/brocolis-de-pelucia-abduziu-meu-filho/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2018/08/30/brocolis-de-pelucia-abduziu-meu-filho/#respond Thu, 30 Aug 2018 15:11:05 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2018/08/brocolis-320x213.png https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=775 Pedro, meu filho de 5 anos, está obcecado por seus novos brinquedos: hortifrutis de pelúcia. Tem a banana, o tomate voador, o brócolis, a pera e a laranja. Todos com capa e máscara de super-herói.

Ele até quer mudar o tema da festinha de aniversário. Desistiu dos dinossauros e dos seres do fundo do mar. Pediu uma decoração inspirada nos legumes e nas frutas da horta.

Será que eu terei um filho vegetariano, mano do céu? Justo eu??

Brincadeira à parte, estou achando um barato o interesse do moleque pelas plantas. Ele, na verdade, já era bem dedicado a cuidar dos vasos de ervas e verduras que a gente deixa no parapeito da janela. Com os bonecos da promoção do supermercado Pão de Açúcar, a curiosidade virou obsessão.

Já vou avisando que não recebi um tostão para falar do Pão de Açúcar no blog. Sou cliente fiel por uma mera questão de comodidade: moro exatamente em frente a uma loja da rede.

E também sou o tonto das promoções. Quando davam selinhos para juntar e pegar facas, peguei quase todas. Tenho duas que ainda não tirei da caixa.

Daí os caras me aparecem com o tal jardim do Jamie Oliver. De início, achei uma bobagem sem fim. Figurinhas que dão bonecos de legumes. Quem vai querer uma coisa assim?

Meu filho. O Pedro enlouqueceu quando viu as pelúcias. Pelo jeito, muitas outras crianças também. O cara está trocando figurinhas de alho e salsinha com os colegas da escola.

Tenho os dois pés atrás com ações de marcas, e acho o Jamie Oliver um baita de um marqueteiro safado. Mas preciso dar o braço a torcer: a coisa dos legumes de pelúcia foi uma enorme bola dentro.

Não dá para censurar um álbum de figurinhas que ensina a garotada a comer direito e cuidar das plantas. Se bem que o Pedro sempre foi assim: exige brócolis no prato e já atacou uma cenoura crua na feira.

Claaaaaaaro que a ação tem sua contrapartida –outro grande acerto de quem a inventou. O Pedro agora quer ir toda hora ao supermercado. Inventa coisas para comprar, só para juntar mais figurinhas. “Pai, vamos comprar carambolas?”

Maldita sociedade de consumo. Já sequestrou minha criança.

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Comer porco ou cachorro é a mesma coisa https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2018/06/27/comer-porco-ou-cachorro-e-a-mesma-coisa/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2018/06/27/comer-porco-ou-cachorro-e-a-mesma-coisa/#respond Wed, 27 Jun 2018 05:00:26 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2018/06/porco-320x213.jpg http://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=677  

 

Alimentar-se da carne de cães e gatos é um tabu dos mais cabeludos. Não deveria ser.

“Se você não comeria seu cachorro, por que come porco?”, diz um slogan do Peta –sigla em inglês para Pessoas pelo Tratamento Ético dos Animais, grupo de militância vegana.

Sou obrigado a concordar com o argumento. Matar um porco equivale a matar um cachorro. Ambos são animais sociais e inteligentes.

Responda sinceramente: se você fosse um ET que desconhece os hábitos humanos, veria diferença entre um vira-latas assado e um frango de televisão? Entre um gato ensopado e uma chanfana de cordeiro?

Em nome da coerência, você pode condenar incondicionalmente o abate de animais, como faz o Peta. Ou considerar a carne como elemento inerente à dieta humana. E não existe carne sem a morte de um animal. Incluindo os fofos.

Eu tendo a ficar no segundo time, embora a coisa adquira contornos mais complexos quando há primatas sobre a mesa e outros primatas à mesa.

No mundo ocidental, o pessoal se equilibra entre os dois extremos. Fãs de bacon e picanha repudiam o consumo de cães e gatos –estes existem para suprir nossa carência afetiva sem contrapartidas. Uma posição hipócrita.

Antes que as tias dos gatos venham no meu encalço, pausa. Não estou propondo uma churrascada de siameses, labradores e calopsitas no estacionamento da Cobasi. Meu questionamento é circunscrito à esfera de discussão moral.

Os hábitos alimentares de cada sujeito obedecem a uma porção de fatores individuais e grupais. Todos temos algum tipo de restrição. Uns não encaram entranhas (presente!), outros implicam com coentro ou azeitona.

A repulsa pela carne de animais de estimação é um traço cultural dos cristãos europeus que colonizaram as Américas e outras partes. Nós tratamos essas criaturas como filhos; devorar os próprios filhos pega mal à beça.

Pessoas onívoras, adultas e instruídas, contudo, deveriam racionalizar a questão quando o comedor de cachorros é um chinês ou um coreano. Eles nasceram em lugares onde a carne canina faz parte da dieta. Quando emigram, desafiam os costumes e a legislação do país que os acolheu. Estarrecem a população.

Outro dia, saí para tomar cerveja com um grupo de amigos que incluía dois coreanos. Depois de alguns copos, alguém (posso ter sido eu) puxou o assunto-tabu. Constrangimento geral. Tergiversação.

Eu nunca comi carne de cachorro porque não fui apresentado a ela. Não sou tarado de correr atrás. No Brasil, recusaria por questões sanitárias. Na Ásia, não sei. Talvez amarelasse. Sempre tive gatos e venho do mesmo saco cultural que pariu a maioria dos brasileiros. Mas talvez não amarelasse.

Também não sei se os meus amigos asiáticos já mandaram ver no steak-au-au-poivre. Só sei que eles sofrem racismo e por isso fogem do assunto. Se ousarem contrariar a conduta cristã ocidental, vão ganhar o carimbo de bárbaros. Animais. Menos humanos do que um poodle.

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Dá para ser vegetariano sem ser chato https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2018/06/07/da-para-ser-vegetariano-sem-ser-chato/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2018/06/07/da-para-ser-vegetariano-sem-ser-chato/#respond Thu, 07 Jun 2018 17:53:09 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2018/03/homus-320x213.jpg http://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=635 Estive ontem na feira Natural Tech, que vai até sábado no Anhembi (zona norte de São Paulo). É uma praça de negócios com temática bastante ampla: de suplementos para musculação a cosméticos orgânicos para cachorros e gatos.

Meu interesse, sempre, estava na comida. Grande parte da feira é dedicada à entidade etérea que chamam de “alimentação saudável”. Isso envolve produtos vegetarianos, veganos, orgânicos, sem lactose, sem glúten, aqueles que deixam seu cocozinho nos trinques, carne de animais criados “sem crueldade”, fermentados com superpoderes e fórmulas que prometem a cura de todos os males.

Tive duas surpresas positivas.

  1. Pela primeira vez na vida, provei alimentos veganos que imitam produtos animais com alguma decência. Uma coxinha de jaca deliciosa e “queijos” de castanha de caju que derretem direitinho. Não muito mais do que isso.
  2. O clima amistoso, ou pelo menos pacífico, reinante no lugar. Não percebi nenhuma pregação ou hostilidade contra os expositores de alimentos com produtos de origem animal. Até a picanha foi deixada em paz.

Claro que não fui à tenda da associação dos veganos. Não sou doido. E é claro, também, que o ambiente de negócios estimula a tolerância de parte a parte. Todos estavam lá para fazer dinheiro.

É notório que o segmento já ganhou musculatura – ou frutificou, para permanecermos no reino vegetal – o bastante para ocupar um dos maiores espaços de convenções de São Paulo.

Essa consolidação serve também para arrefecer ânimos exaltados. Com público garantido, os negociantes veganos e vegetarianos veem menos urgência em condenar o consumo de carne para ganhar mais adeptos.

É possível ser vegetariano sem torrar a paciência de ninguém.

Não tenho nada contra a alimentação à base de vegetais. Incomodam-me as bandeiras levantadas por quem se acha dono da verdade.

Muitas das melhores comidas do mundo são vegetarianas sem declará-lo. Pense na batata frita.

Na Itália, temos o espaguete com tomate e manjericão. Ao alho e óleo. Com cogumelos. Ao pesto. A pizza margherita. A berinjela à parmegiana, mamma mia! Todos os antepastos à base de pimentão, cebola, abobrinha, berinjela e outros legumes.

No Brasil, o arroz com feijão pode ser vegano. Acrescenta linguiça ou bife apenas quem quer.

A Índia guarda toda uma tradição culinária baseada no vegetarianismo. A coisa pega um pouco para o lado dos veganos, porque os indianos não desperdiçam o leite de suas vacas sagradas. É manteiga, creme e iogurte em quase tudo.

A comida do Extremo Oriente orbita em torno do arroz. Outros vegetais desempenham papel importante, mas a carne é um elemento secundário. Pode ser removida sem grande prejuízo.

E há a gastronomia do Oriente Médio, em que grãos e legumes são preparados com perícia extraordinária. Hummus. Babaganuche. Quibe (que não precisa ser recheado de carne). Tabule.

E o faláfel, que representa o auge da comida vegana. Bolinhos fritos de grão-de-bico, ervas e especiarias, servidos com tomate, cebola, pepino, molho de gergelim e pimenta. A carne não faz a mínima falta.

Aí chega um hipster qualquer. Faz um faláfel tamanho jumbo. Achata o coitado. Coloca o falafão entre duas fatias de pão e chama a obra de hambúrguer vegano.

Tenha dó. Isso é ofender um dos pratos mais fabulosos que a humanidade já criou.

 

 

 

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