Cozinha Bruta https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br Comida de verdade, receitas e papo sobre gastronomia com humor (bom e mau) Mon, 13 Dec 2021 21:07:14 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Lave bem o peru antes do Natal https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/12/23/lave-bem-o-peru-antes-do-natal/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/12/23/lave-bem-o-peru-antes-do-natal/#respond Mon, 23 Dec 2019 21:42:42 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2019/12/peru19-320x213.jpg https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=1917 Nunca fui muito de peru. Sem graça e geralmente seco, ele é uma daquelas comidas natalinas que não me despertam o apetite. Preciso, contudo, fazer justiça à ave.

A culpa pela comida sem graça não é necessariamente do peru. Muito dela vem da falta de destreza dos cozinheiros –realmente não é fácil obter uma boa cocção das carnes brancas e escuras, simultaneamente, quando se assa o bicho inteiro.

Culpado também é o tempero que os frigoríficos põem em todos os perus que vão para o mercado. Glutamato monossódico e mais um monte de tranqueiras que eu não quero comer.

Deu que neste ano meu filho de 7 anos encasquetou que queria comer peru. Televisão demais, eu acho. Beleza, peru teremos.

Mas não queria o peru temperado. Sondei nas minhas redes sociais e tive uma pista de que talvez, quem sabe o Mercado Municipal da Lapa tivesse o bichão sem tempero. Fui.

Na banca indicada, decepção. Eles até costumam ter o peru sem tempero, mas apenas as partes cortadas. E só haviam sobrado pescoços e asas –pouca chance de sucesso na mesa natalina.

Parti para o plano B: destemperar um peru temperado. Para isso, é preciso lavar bem a ave. Sem sabão, obviamente. Fiz como se faz com bacalhau. Deixei o peru mergulhado num balde cheio d’água dentro da geladeira (foi necessário algum rearranjo de espaço) por algumas horas e depois o enxaguei em água corrente.

Se você vai fazer peru no Natal, recomendo que faça isso também e use o próprio tempero.

Não compartilho aqui a minha receita porque, na realidade, ela ainda nem existe. Estou pesquisando um meio de assar o peru sem dar vexame na mesa natalina.

Feliz Natal para todos.

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80 razões para detestar o Natal https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/12/21/80-razoes-para-detestar-o-natal/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/12/21/80-razoes-para-detestar-o-natal/#respond Sat, 21 Dec 2019 05:00:09 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2018/12/thanksgiving-3837327_1920-320x213.jpg https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=1915 O panetone murcho. A rabanada oleosa. O espumante doce. O tender doce. A farofa doce. O arroz doce que não é sobremesa. O peru sem gosto de nada. O lombo árido. Passar a meia-noite com a família do conje. Ou pior, passar com a própria família. O tio reaça. O primo reaça. O sobrinho reacinha. Os rojões do vizinho demente. Quebrar nozes. Comer nozes nos doces. Comer nozes nos salgados. Descascar castanhas portuguesas até sangrar embaixo da unha. Os filmes cretinos reprisados na TV. No telejornal do almoço do dia 24, a notícia de que já Natal na Austrália. A vinheta de fim de ano da Globo. A árvore de Natal do parque Ibirapuera. O trânsito causado pela árvore de Natal do parque Ibirapuera. A rua Normandia. A Disneylândia natalina de Gramado. Doces com ameixa. Doces com damasco. O Bolsonaro com gorro de Papai Noel. O Bolsonaro sem gorro de Papai Noel. Os santos do pau oco. A metamorfose do supermercado, que faz surgir tender e panetone onde antes havia comida. A muvuca no supermercado. A muvuca no shopping. Estacionar no shopping. O shopping. O infeliz suadão, de pijama vermelho e barba postiça, que faz um bico no shopping e pega seu filho no colo. A trilha sonora do comércio. A música da Simone. O maldito do John Lennon, por ter composto a música da Simone. As matérias requentadas do jornal. A maratona de retrospectivas inúteis. Papai Noel descendo de helicóptero em algum estádio nos cafundós do Brasil. A padaria fechada. O boteco fechado. O restaurante fechado. Tudo fechado na cidade. O sumiço dos táxis. O preço (abre aspas) dinâmico (fecha aspas) do Uber. Os concidadãos bêbados. Os concidadãos bêbados que pegam o carro e vão fazer merda na rua. O tio do pavê. O jovem lacrador que faz piadas dignas de tio do pavê sobre o tio do pavê. O pavê. Fingir que gostou do pavê. As frutas cristalizadas. As frutas secas. As frutas em calda. O salpicão. O frango defumado. O vinho do porto ordinário que o pai abriu no Natal de 1983 e ainda serve como se fosse um tesouro. A mãe dizendo que você engordou. O fato de ser verdade o que a mãe disse. Desembaraçar os fios do pisca-pisca da árvore de Natal. O amigo secreto. A troca de presentes sem amigo secreto, que sai muito mais cara. Os presentes sem serventia. Usar a camisa medonha que o tio deu no Natal passado, porque a mãe pediu para você usar. Precisar sorrir. A geladeira lotada, que não gela a cerveja direito. O primo mala, que rouba as cervejas que você escondeu no freezer. O outro primo mala, que tira as cervejas da geladeira para colocar o refrigerante de 2 litros. A sobremesa indecifrável que a tia trouxe num tupperware. A visita que nunca vai embora. A carona que não te deixa ir embora da casa dos outros. A after party da depressão. Acordar de ressaca. O sorvete de panetone. O panetone de sorvete. As 500 modalidades criativas de panetone gourmet. Almoçar os restos da ceia no dia seguinte. Alimentar-se dos restos da ceia pelo resto do ano. Por último, mas não menos importante, as montanhas de louça suja.

E olha que eu não falei das uvas passas.

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Jesus gay me devolveu a alegria no Natal https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/12/14/jesus-gay-me-devolveu-a-alegria-no-natal/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/12/14/jesus-gay-me-devolveu-a-alegria-no-natal/#respond Sat, 14 Dec 2019 05:00:02 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2019/12/portadosfundos-320x213.jpg https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=1900 O moleque tem 7 anos, mas ainda acredita em Papai Noel. No fundo, acho que ele sabe que o velho não existe, mas engole a lorota porque gosta demais do Natal. Desde que me tornei um tiozão rabugento, a euforia do meu filho com as luzes que piscam é a única coisa que me alegra na época natalina.

Ou melhor: era. Agora tem também o Especial de Natal do grupo de humor Porta dos Fundos. Fazia tempo que eu não ria tanto.

De resto, o Natal nem precisaria existir para mim.

Não gosto da comida da ceia. É tudo seco e meio doce.

Peru, minha gente, para quê? Se tender fosse bom, as pessoas comeriam o ano todo. Aquele arroz colorido, festivo, com uns parangolés, amêndoas e passas. Passo.

O lombo estorricado de todo Natal merece um feijãozinho com bastante caldo para descer suave. Na real, a gente comeria melhor se desencanasse da ceia e pedisse umas pizzas.

E as sobremesas? O nefando pavê. Um monte de doces com nozes e ameixas. Já inventaram o chocolate, dá para melhorar isso aí.

Aliás, não faz sentido servir sobremesa numa refeição que os pratos principais têm fios de ovos, abacaxi em calda, figo ramy e as excomungadas passas.

Não me agrada trocar a cervejinha por espumante. Nada contra o espumante, mas a compra das garrafas sempre recai sobre o tio sovina e ignorante –e ele compra moscatel vencido na promoção do empório. Ninguém merece passar a noite toda bebendo moscatel.

Pensando melhor, algumas pessoas merecem. É por enfurecer essas pessoas que eu gosto tanto do Jesus gay do colega Gregório Duvivier.

Detesto celebrar algo em que não acredito só para manter a tradição. Odeio quando preciso parecer feliz só porque é Natal. Abomino gastar dinheiro, tempo e sola de sapato para comprar presentes só porque, afinal, todo mundo troca presentes no Natal.

Não quero nem vou reverenciar uma lenda sem pé nem cabeça. Em pleno 2019, assusta perceber que ainda há quem acredite literalmente em absurdos como a concepção sem sexo. Milagres sempre acontecem longe de testemunhas isentas e, desde a invenção do cinema, nenhum foi registrado em filme. A fé é um negócio gozado, né?

As pessoas que se ofenderam com o Jesus gay se dizem cristãs, mas celebram o Natal da forma mais profana possível: comilança, bebedeira, ostentação, futricas, beligerância.

O especial da Porta dos Fundos expõe as tripas da hipocrisia familiar natalina. Zomba de quem vem dizer que vale tudo no humor –mas que fica cheio de mimimi quando o sarro é com ele.

Duvivier e Fábio Porchat não estão a ridicularizar Jesus, seu mané. Você que é ridículo e não aguenta ver a própria caricatura na TV.

Com uma ou outra passagem ruim –a cena inicial dos Reis Magos é digna de filme dos Trapalhões–, o Especial de Natal do PDF é humor magistral, comparável à “Vida de Brian”, do grupo inglês Monty Python.

Ele me devolveu a alegria no Natal. Dá até para encarar mais algumas passas. Com espumante moscatel.

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Onde o tender se esconde quando não é Natal? https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/12/10/onde-o-tender-se-esconde-quando-nao-e-natal/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/12/10/onde-o-tender-se-esconde-quando-nao-e-natal/#respond Tue, 10 Dec 2019 13:14:26 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2018/12/tender-320x213.jpg https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=1892 Onde mora o tender no resto do ano? Ninguém come tender, ninguém compra e ninguém vende. Onde ele se esconde para aparecer de supetão?

De onde surge tanto peru só para a época do Natal? Haja peito defumado e blanquet para alimentar gente em dieta…

E frango defumado? Alguém já viu frango defumado fora de dezembro?

O panetone, a gente sabe, se transforma em colomba na Páscoa. E em julho, onde ele vai parar?

As rabanadas, coitadas, viram farinha de rosca para ser casquinha de bolovo.

As passas –e isso é notório– passam o ano todo esperando alguém as comprar, no mercado, na seção de frutas secas. Elas secam e secam mais, até chegar ao grau ideal de secura, dura e borrachenta como a mãe gosta.

O que faz Papai Noel nos outros meses? Se a resposta for “planeja o Natal”, o sujeito tem o emprego mais infernal do mundo.

E olha que eu nem vou entrar na questão dos chesters… ou seriam chésteres?

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O Natal da treta e do climão https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2018/12/22/o-natal-da-treta-e-do-climao/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2018/12/22/o-natal-da-treta-e-do-climao/#respond Sat, 22 Dec 2018 04:00:01 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2017/11/IMG-0211-180x180.jpg https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=1103  

Dormiu no ponto quem não brigou com a própria família em 2018. O racha familiar foi o must da primavera-verão e deve ditar as tendências da moda pelo menos até o próximo inverno.

Entre um pega e outro, existe algo chamado Natal. Aquela reunião de parentes que já traz constrangimento em tempos de paz –e que vem com um tempero todo especial este ano.

Até onde sei, ninguém ainda propôs cancelar o Natal. Seria o mais sensato. As grandes bolhas inimigas das redes sociais vão se encontrar dentro de cada lar brasileiro, no seio de cada família deste país. Vai dar caca. Na hipótese mais branda, vai assustar as crianças.

Mas o assunto é comida. Vamos pensar num cardápio adequado para o Natal de 2018.

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Antes, umas pinceladas de etiqueta. Vista-se adequadamente. Verde, amarelo e azul podem ultrajar alguns convidados. O mesmo para o vermelho. Como todos já usam branco no réveillon, sugiro trajes pretos. Ou roxos, para alegrar um pouco o ambiente.

A cozinha, idealmente, deveria ser operada por observadores internacionais. Muito fogo e muitas facas que podem cair em mãos erradas.

Comece servindo as bebidas. Neste calor, é fundamental se hidratar. Mágoa com gás e mágoa sem gás não podem faltar na festa. Para um pouco mais de cor e sabor, ofereça também alguns socos de frutas frescas.

O álcool entra para tornar a convivência suportável. Serve também como bode expiatório para as brigas que fatalmente virão. “Mal aí, primão, eu tinha bebido demais”, dirá você candidamente no ano que vem. Abasteça os copos com cerveja Drahma, espumante bruto e batidas sortidas. Evite rum venezuelano e conhaque Presidente.

Para petiscar, faça como os espanhóis: distribua tapas para todo mundo. Mexilhão ao alho e ódio, camarão pistola, batatas bravas. Se alguém pedir lula, desconverse.

E segue a festa: contra à cubana, porco à brasileira, patos com laranja.

Se estiver na praia, invista em pratos de peixe para brigar com classe. Treta à belle meunière. Arraiva com beurre noisette.

Bacalhau assado com batatas ao murro é um prato tradicional da consoada portuguesa. Suspeito que, neste Natal, vão faltar o bacalhau e as batatas: o murro vai ter de sobra. A família toda vai levar quentinha cheia de murro.

Adoce as bocas amargas com torta de climão. E pavê. O clássico pavê natalino. Pode ser de creme, pode ser de pêssego em calda, pode ser de nozes. Porque o tio do pavê é o único que pode salvar o natal da família. E a família é nozes. (Algo especialmente verdadeiro no meu caso.)

Bom Natal para todos. E vamos que vamos porque 2019 promete ser ó… uma trolha!

 

 

 

 

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7 motivos por que o peru de Natal é sempre um fiasco https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2018/12/14/7-motivos-por-que-o-peru-de-natal-e-sempre-um-fiasco/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2018/12/14/7-motivos-por-que-o-peru-de-natal-e-sempre-um-fiasco/#respond Fri, 14 Dec 2018 12:52:00 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2018/12/thanksgiving-3837327_1920-320x213.jpg https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=1072  

“Peru não tem gosto de nada.” Quantas vezes você não ouviu e/ou disse essa frase?

Injustiça com o peru. Sua carne não é pior do que do frango. O problema é que pouquíssimas pessoas o preparam direito. No Brasil, praticamente ninguém.

O peru de Natal, então, costuma ser um desastre. Mas as pessoas insistem em fazê-lo. Seguem sete argumentos para dissuadi-las da ideia este ano.

 

  1. Brasileiro não sabe assar peru

Quantas vezes você come peru fora do Natal?

O peru assado é uma comida exclusivamente natalina no Brasil. Nas outras épocas, sua carne tem uso industrial apenas: vai para salsichas, mortadelas e outros embutidos.

Brasileiro não tem intimidade com o peru. Nos Estados Unidos, por exemplo, ele é uma alternativa considerada “saudável” às carnes de boi e de porco. Os americanos consomem peru o ano todo. Fazem chili de peru, bolonhesa de peru, parmegiana de peru. No Thanksgiving, cada família se orgulha do tempero próprio para o peru assado.

Aqui, alguém se arrisca a assar um peru uma vez a cada três anos. Não dá para aprender a fazer direito com tão pouca prática.

 

  1. O peru vem congelado e temperado

Como o brasileiro compra peru apenas no fim de ano, a indústria congela os animais que são abatidos ao longo do ano. Antes do congelamento, ele é imerso em uma salmoura com temperos – algo que reduz a tendência ao ressecamento no forno.

Anos atrás, amigos americanos residentes em São Paulo quiseram fazer uma festa de Thanksgiving. Não encontraram peru fresco e sem tempero. Isso praticamente não existe no Brasil. Talvez se você for a uma fazenda e pedir para abater o bicho só para você…

 

  1. O tempero que vem de fábrica não basta

 

A televisão nos ensinou que, para assar o peru, basta tirar da embalagem, meter no forno e esperar o pino subir.

Não é bem assim. Ou não deveria ser.

O tempero do peru congelado é bastante suave. Justamente para que o comprador possa dar seu toque pessoal ao prato. Mas quase ninguém põe mais tempero no peru. E o peru fica insípido como papelão.

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  1. O bicho é grande demais

 

Um peru pequeno tem cerca de 3 quilos; os grandes podem passar dos 15 quilos. É algo desajeitado para assar e às vezes nem cabe no forno de casa – antigamente, era costume mandar assar o peru na padaria.

Quanto maior a peça de carne, mais complicado é o cálculo do tempo e da temperatura adequados para um assado uniforme e suculento. A chance de queimar ou ressecar aumenta muito. É o que acontece com a maioria dos perus brasileiros, infelizmente.

 

 

  1. Peito e coxas cozinham em tempos diferentes

 

O peito é um a carne branca, de preparo rápido. As coxas têm muito tecido conectivo e demoram bastante para assar.

Quando alguém faz um peru inteiro, o peito tende a ficar pronto quando a coxa ainda está dura feito granito. Quando a coxa já amaciou, a tendência é termos um peito totalmente ressecado.

Há uma série de truques para minimizar esse problema. Os mais comuns: cobrir o peito com papel-alumínio ou bacon e colocar gordura (manteiga ou banha) entre a pele e a carne do peito.

São paliativos. O cozinheiro precisa ser ninja para assar um peru inteiro com peito úmido e coxas macias.

O melhor seria assar essas partes separadamente.

Mas aí o Natal fica sem a foto do peruzão rodeado por fios de ovos e abacaxi em calda.

 

 

 

  1. Todo mundo quer comer o peito

 

Por algum mistério da natureza, os convivas natalinos atacam somente o peito branco e arenoso do peru, que foi fatiado por um tiozão munido de uma faca elétrica usada uma vez por ano. Depois todo mundo reclama que a carne estava seca.

Eu sempre me aproveitei desse fato e comi as coxas sem cerimônia. Posso-lhes dizer que me dei bem todas as vezes.

 

  1. A cozinha é toda zoada na ceia

 

A cozinha das casas fica uma bagunça no Natal. As pessoas cozinham muito mais comida do que o volume que cabe no fogão e no forno: peru, tender, lombo, arroz disso e daquilo, maionese, farofa, pavê…

Nos dias que antecedem à festa, os prato são preparados alternadamente. Guardados na geladeira, vão ressecando.

Na noite da ceia, é preciso reaquecer tudo. Mas o forno continua sendo um só. O resultado é uma refeição com alguns pratos mornos e outros quase frios. E tudo meio ressecado com todo esse vaivém. O peru, que já fica seco com facilidade numa situação normal, é o mais prejudicado.

 

 

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…e o Natal chega cedo demais outra vez https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2018/11/03/e-o-natal-chega-cedo-demais-outra-vez/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2018/11/03/e-o-natal-chega-cedo-demais-outra-vez/#respond Sat, 03 Nov 2018 05:00:57 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2018/11/peru-320x213.jpg https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=954  

00Dissipada a cortina de sangue que me turvou a visão no período eleitoral, percebi: o Natal chegou ainda mais cedo este ano.

Trenós voadores, renas, pinheirinhos e pilhas de panetone invadiram o comércio na manhã seguinte ao Dia das Crianças. A voz da Simone já esgarça os ouvidos de quem empurra carrinho nos peg-pags do mundo.

Nada contra o Natal. É divertido para a garotada. O que incomoda é a sanha de faturar a qualquer custo, nem que seja preciso puxar a temporada de compras para abril.

É uma aposta arriscada, dado que a disputa política destroçou as famílias. Tia reaça, primo petralha. No lugar do presente equivocado de outros Natais, pavê de arsênico. Não me parece um cenário auspicioso para as vendas natalinas.

Mas o povo insiste. Veja o setor de panetones. Superando o recorde anterior, neste Natal teremos 794 opções de sabores –entre doces, salgados, ácidos, amargos e umami.

Panetone de calabresa. De bacalhau. De leite em pó com Nutella. De carne-de-sol com macaxeira. De sardinha ao chocolate.

E ainda têm a desfaçatez de demonizar a pobre uva-passa. Brasileiro gosta de panetone, mas não gosta de passas. Panetone sem passas é como hot-dog sem salsicha.

Com ou sem passas, o cardápio natalino não comove. O peru, o injustiçado peru, deu lugar ao frangão –Blaster, Hipster, escolha a marca comercial de sua predileção. Bicho inflado e sem gosto.

Sem falar que o timing da cozinha natalina é uma tragédia. Um só forno é usado para preparar frango, peru, pernil, presunto, cabrito. Sem espaço para assar tudo ao mesmo tempo, o cozinheiro festivo faz a ceia em etapas.

O calor do Natal brasileiro não condiz com um forno ligado por três dias a fio, mas pelo menos o resultado é um desastre. Requentada, a carne chega estorricada à mesa. A farofa, nota tropical, seria um toque esperto não fosse o perfil árido dos assados.

No mais, o cardápio natalino se esmera em macaquear tradições sensatas para temperaturas boreais de dezembro. Nozes, castanhas, avelãs, tudo o que é calórico e gorduroso, manteiga, presunto defumado, doces cheios de creme e de frutas secas. É de suar às bicas sobre a porcelana que a mamãe tira do armário só uma vez por ano.

Ok, preciso reconhecer que tenho alguma coisa contra o Natal. Em especial, contra o congraçamento forçado. “Não vá fazer feio com a titia, menino.” Sempre preferi o Réveillon, que pelo menos não finge ser uma celebração religiosa.

Ironicamente, neste ano, o Natal ganha na comparação. Quando os sinos badalarem 12 vezes à meia-noite de 25 de dezembro, ainda teremos uma semana sem os presentes de ano-novo.

 

 

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Minhas 7 roubadas favoritas de Réveillon https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2017/12/30/minhas-7-roubadas-favoritas-de-reveillon/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2017/12/30/minhas-7-roubadas-favoritas-de-reveillon/#respond Sat, 30 Dec 2017 08:00:06 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2017/12/acaraje-180x123.jpg http://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=184
Se você for à Bahia, cuidado: combinação de comida forte, calor e excessos pode melar a noitada de Ano Novo (Foto: Jefferson Coppola/Folhapress)

Como disse no post anterior, Réveillon não é época de ficar suando na cozinha. Falo com propriedade porque já quebrei essa regra muitas vezes e quase sempre me dei mal. Mas existem vários caminhos que levam à roubada. Abaixo, alguns dos meus fracassos favoritos de Ano Novo.

  1. A maldição dos orixás

Nunca menospreze a força da conjunção de calor, comida arretada e clima festivo que existe na Bahia. Pode dar revertério se você não tomar cuidado. Comigo foi na virada de 1999 para 2000, em Cumuruxatiba. Passei a tarde na praia, bebendo e petiscando sob o sol. Acordei da soneca vespertina com vômito e diarreia. Fui à cidade, tomei uma injeção na farmácia e voltei para a queima de fogos. O dono da pousada, mineiro, nos ofereceu a ceia: pernil com feijão-tropeiro. Voltei para o quarto para continuar vomitando.

  1. O cuscuz azedo

O Réveillon de 2011 foi marcado por chuvas torrenciais na região Sudeste. Um deslizamento matou dezenas de pessoas em Angra, o patrimônio histórico de São Luís do Paraitinga foi destroçado pela água e pelo menos duas estradas que ligam o litoral a São Paulo estavam fechadas por causa de quedas de barreiras. Eu estava em Ubatuba, de onde levei 14 horas e meia para voltar, em uma casinha alugada. Sob o dilúvio, tínhamos como grande atração da noite um cuscuz de camarão que havíamos comprado na cidade. Ele estava azedo, e jantamos pão com presunto. Imagine o humor.

  1. Meia-noite no restaurante meia-boca

Nem lembro direito o ano, mas estava com amigos em uma casa alugada em Porto Belo, Santa Catarina. O trânsito estava um inferno, e o grupo não se entendia em nada: assim, chegamos à noite do dia 31 sem plano traçado. Acabamos em uma marisqueira local que serviria jantar. O serviço era tão lerdo que acabamos saindo de lá depois das 23h, sem possibilidade alguma de fazer festa de qualquer espécie.

  1. Suadouro no tiramisú

Em outro Réveillon mais ou menos recente, estava na casa de uma amiga em Paraty. Havia posto na cabeça que eu prepararia tiramisú para a galera. Mas não havia batedeira elétrica. Fiz o doce com o batedor manual e transpirei mais que uma stripper em Manaus. Precisei trocar de roupa duas vezes naquela noite.

  1. O pastel da madrugada

Salvador, alguns anos atrás. Não passei mal desta vez. Hospedado em um hotel limpinho, baratinho e sem charme algum, não sabia o que fazer na virada. As festas pagas eram caríssimas e muito distantes do meu conceito de festa boa. Os bons restaurantes, todos fechados. Terminamos eu, minha mulher e minha filha (então adolescente e aborrecida) comendo pastel de feijoada no boteco mais caído do largo do Rio Vermelho. Foi memorável.

  1. Pagando para levar bronca

O tsunami da Indonésia era o assunto de todos na virada de 2004 para 2005. Eu estava com parentes e amigos numa pousadinha em Tiradentes, Minas Gerais. Bebemos alegremente, tão alegremente que nos esquecemos de pensar em comida. Quando a fome bateu, corremos de porta em porta no afã de achar algum lugar aberto. Enfim, recorremos a um restaurante de cujos donos minhas irmãs eram amigas. Fomos recebidos muito a contragosto e, enquanto esperávamos nossa mesa, continuamos a beber na calçada. Digamos que uma meia dúzia de taças bonitas foram vítimas de nossas mãos moles de pinguço. Minha última lembrança da noite é a dona do lugar, furibunda, deixando sobre a mesa a conta que não havia sido pedida – e que incluía os copos que quebráramos. Mas a comida era boa. Acho

  1. Congelados em Londres

Eu e minha mulher fizemos uma extravagância na virada para 2009. Passamos uma semana em Londres. O hotel que havíamos reservado estava fechado: então, excelente, nos deram um upgrade para um quarto 5 estrelas em Mayfair. Mas a Mari ficou gripadíssima, o que complicou os planos para a noite do Réveillon. Comeríamos no hotel e depois sairíamos para ver os fogos em Waterloo – com um champanhe bem bacana que eu havia comprado. A comida, em nosso apartamento de barão, era um sortimento de pães, queijos e conservas da loja Fortnum & Mason. Nada má. Mas aí saímos. A temperatura congelante. O metrô fechado por excesso de passageiros. Fomos ao parque mais próximo, o St. James’s. O lado bom é que não era preciso se preocupar com o gelo do champanhe. Mas estava tão frio que decidimos picar a mula à meia-noite e cinco. Chegando ao quarto, o champanhe estava completamente choco, de ter sacudido no caminho. Dormimos antes da uma da manhã.

 

 

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Ninguém quer saber da sua comida no Réveillon. Faça como os outros: beba https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2017/12/28/ninguem-quer-saber-da-sua-comida-no-reveillon-faca-como-os-outros-beba/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2017/12/28/ninguem-quer-saber-da-sua-comida-no-reveillon-faca-como-os-outros-beba/#respond Thu, 28 Dec 2017 08:00:19 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2017/12/ceviche-180x120.jpg http://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=180
Ceviche é fácil e delicioso em uma noite quente: uma boa opção para o Réveillon, mas que requer cuidados ao servir (foto: Antonio Rodrigues/Divulgação)

Ceia de Réveillon? Deixa disso. Ninguém neste país se importa com as delícias que você planeja preparar para a passagem do ano. Deixe a criatividade gastronômica para 2018 – se perigar, para depois do Carnaval. Agora, o foco é na bebida.

Mas há de se reconhecer que todos precisamos de alimentação nestes últimos dias de 2017.

Para a noite da virada, tenho algumas sugestões. A mesa do Réveillon deve ser informal. Eu simpatizo (apenas nesta ocasião) com o esquema de bufê: a comida posta no início da noite e mantida ao longo da festa, sem um jantar propriamente dito.

Pense na praticidade da coisa: a noite de Ano Novo não é tempo de ficar suando na cozinha. De nada adianta pular sete ondas se a roupa branca novinha está com pizzas de transpiração sob as axilas.

Se o pessoal estiver no pique, faça um churrasco. É uma solução em que todo mundo – e ninguém, ao mesmo tempo – é responsável pela comida. Mas dá para ser mais fácil ainda.

Compre comida pronta. Coisas que possam ser servidas frias: pães, queijos, tortas, saladas substanciosas (salada de macarrão é uma ótima pedida), conservas.

Evite alimentos de alta perecibilidade. Ceviche é uma delícia numa noite quente, além de ser fácil de fazer. Mas tome muito cuidado se for preparar e servir: peixe muito fresco, mãos muito limpas e porções pequenas à mesa, enquanto o restante fica na segurança da geladeira.

Mais que tudo, tente planejar bem a noite. Se for para pegar filas quilométricas, que seja para garantir a cerveja, o gelo e a água mineral para a primeira manhã do ano.

 

 

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Arroz com feijão na ceia pode? Pode! https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2017/12/22/arroz-com-feijao-na-ceia-pode-pode/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2017/12/22/arroz-com-feijao-na-ceia-pode-pode/#respond Fri, 22 Dec 2017 20:41:08 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2017/12/Casado_de_rice_and_beans-180x96.jpg http://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=177 moros y cristianos
“Moros y cristianos”, arroz com feijão à cubana, é comum na cedia natalina da ilha caribenha

Quando publiquei em meu Facebook pessoal o post sobre os 7 desastres que podem arruinar a ceia, uma amiga comentou (a respeito do caráter seco das comidas natalinas):

“Acho que falta feijão para dar a liga.”

Minha resposta:

“Concordo, mas preciso pagar de gourmet em público.”

Na realidade, uma vez eu convenci minha mãe a fazer feijão no jantar do dia 24. O desgosto das minhas duas irmãs mais velhas foi tão enfático que eu – então o adolescente residente na casa parental – nunca mais tive coragem de fazer pedido semelhante.

Nunca entendi por que, numa ocasião especial, você precisa comer algo inferior ao almoço do dia-a-dia. Essa era (e ainda é, considerando a execução tosca da maioria dos perus e frangões) a minha opinião sobre o cardápio natalino brasileiro.

O comentário da minha amiga me deu um clique. Fui pesquisar outras tradições natalinas. Descobri que em Cuba, os “moros y cristianos” – nada além de arroz misturado com feijão, mas com um nome racistão (os cristãos são o arroz branco e os mouros, o feijão preto) – são comida festiva. Lá e em toda a região do Caribe e América central, com nomes que variam.

Neste ano, minha ceia natalina será cubana: pernil marinado em “mojo” (molho de alho e cítricos), “morros y cristianos”, “yuca” (mandioca) e “maduros” (banana-da-terra frita). Melhor que arroz com feijão, só arroz com feijão, mandioca e banana. Depois posto as fotos (a que ilustra este post é uma coisa qualquer com direitos livres).

A moral da história: você não precisa se prender a tradições festivas se não gostar delas. Pode brincar de descobrir outros rituais para justificar uma escolha (como eu fiz) ou simplesmente comer o que quiser na noite de Natal.

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