Cozinha Bruta https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br Comida de verdade, receitas e papo sobre gastronomia com humor (bom e mau) Mon, 13 Dec 2021 21:07:14 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Os 7 piores programas para o Dia dos Solteiros https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/08/15/os-7-piores-programas-para-o-dia-dos-solteiros/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/08/15/os-7-piores-programas-para-o-dia-dos-solteiros/#respond Thu, 15 Aug 2019 14:01:56 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2019/02/pizzacafe-320x213.jpg https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=1658 A economia está parada. Ninguém vende, ninguém compra. O desespero cria situações ridículas. No afã de ganhar um trocado qualquer, o setor da alimentação tem apelado a datas comemorativas completamente sem sentido. Dia da Pizza. Dia do Hambúrguer. Dia da manteiga sem sal. Dia do Solteiro. Que é hoje, aliás.

Também desesperada e sempre sem assunto, a mídia especializada morde a isca. Copia e cola as sugestões de pauta enviadas pelas assessorias de imprensa. Eu também estou nessa, mas vou fazer um pouco diferente.

Já que todos dão dicas dos melhores programas para Dia do Solteiro, eu vou fazer o inverso. Vou falar das piores roubadas possíveis. Para você fugir delas. Prestação de serviço –aqui você encontra!

 

Bufê de sopas da padaria

É a definição da tristeza. É para o bufê de sopas da padaria que as almas tristes vão. Mas é barato. E tem torradinha de alho. E você pode repetir o creme de palmito quantas vezes quiser.

 

Jantar com uma pessoa aleatória do Tinder

O cúmulo do desespero. Todo mundo tentando se arrumar de qualquer jeito para hoje à noite, baixando o sarrafo, derrubando critérios. Por outro lado, você pode acabar dormindo de conchinha com uma pessoa estranha e tão carente quanto você.

 

Jantar com um casal de amigos

A tortura pode ser com ou sem requintes de masoquismo. No primeiro caso, marque com aquele casal apaixonado, que acabou de começar a se pegar. Você vai entender o que é solidão.

 

Jantar com a mãe

Significa admitir a derrota. Passar recibo do fracasso. Só faça se você for italiano.

 

Jantar com o(a) ex

Para quê? Não tem como dar certo. A pessoa vai contar o quanto está feliz com o novo emprego, com a nova casa, com a vida sexual sem você. Vai pedir vários drinques. Vai pedir o prato mais caro do cardápio. Vocês vão rachar a conta. E se vocês reatam? Você tem certeza de que quer ficar preso(a) no Dia da Marmota?

 

Ir sozinho(a) a um restaurante romântico

Ao redor, só casais. Todos vão olhar para você. Você vai olhar para o cardápio. E não vai enxergar nada. Porque a luz é baixa, a letra é pequena e você, que já passou da idade de ficar para titio(a), esqueceu os óculos.

 

Pedir uma pizza e convidar o entregador para lhe fazer companhia

Isso só funciona em filme pornô.

 

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Evite torturar a mãe no restaurante cheio https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/05/11/evite-torturar-a-mae-no-restaurante-cheio/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/05/11/evite-torturar-a-mae-no-restaurante-cheio/#respond Sat, 11 May 2019 05:00:36 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2019/05/frangomae-320x213.jpg https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=1455 Almoçar fora no Dia das Mães é mais do que sádico e masoquista. É burro. Você sabe que vai dar muito errado. E, ainda assim, se entrega à roubada como um cordeiro sacrificial.

Duas datas são celebradas anualmente pelos donos de restaurante: o Dia dos Namorados e o Dia das Mães. Porque o salão enche, o que só é bom para o caixa do estabelecimento. Você espera por horas, come mal e é tratado como lixo por garçons extras, contratados uma hora atrás –a mão-de-obra adora dar sumiço nessas ocasiões.

Para o jantar dos pombinhos, o setor conta com alguma previsibilidade. Mesas para dois, menus fechados para dois. O segundo domingo de maio é o caos.

Grupos de duas a 16 pessoas. Todos os seres que não frequentam restaurantes emergem da cripta. O casal de artesãos encara o ônibus desde São Tomé das Letras para comer camarão às custas do sogro. O hacker antissocial mete o coturno e a jaqueta da Segunda Guerra para ver o Sol pela primeira vez no ano.

É preciso, antes, preocupar-se com a própria fauna. Perdão, com a própria família.

Sinto dizer, mas um bom planejamento não adianta coisa alguma.

Você marca o almoço para o meio-dia, na ilusão de chegar cedo e encontrar o restaurante vazio –a casa, obviamente, não aceita reservas. Sai às 13h, pega meia hora de trânsito em frente às bancas de flores da Doutor Arnaldo e chega ao lugar às 14h. O lugar é a casa da mãe, que você vai buscar para almoçar do outro lado da cidade.

Quase atropelando a multidão no meio-fio, você entrega o carro ao manobrista (R$ 45) do restaurante às 15h15. Cadê a mana, que iria chegar antes? No celular, uma mensagem dela: “Precisei passar rapidinho no shopping, pede mesa para nove”.

“Para nove pessoas, o tempo estimado é de duas a três horas”, informa a hostess. “Idoso não é prioridade?” Só tem prioridade no restaurante, mané.

As pessoas vão chegando, você vai se entupindo de amendoim e birita. Quatro caipirinhas (R$ 160) mais tarde, surge uma mesa. Você conta a parentada para ver se está todo mundo lá.

“Somos oito. Quem está faltando? Como assim, a Talita? Ela não ia para o retiro vegano?”

Eis que Talita aparece enquanto o resto da família examina os cardápios.

“Churrascaria Boi Sangrando, tio?!?! Vocês não têm a menor consideração por mim!”. E corre aos prantos para o banheiro.

Depois de alguns minutos de balbúrdia, algazarra e furdunço na mesa, a matriarca levanta a voz.

“Não podemos fazer isso com a minha netinha. Vamos procurar outro lugar.” São quase 18h, está escuro lá fora.

Vá por mim. Sua mãe não merece essa tortura. Fique em casa. Cozinhe. Ou compre uns frangos assados. E uma torta de escarola para a Talita.

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Prêmio para restaurante tem o peso de uma maldição https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/05/08/premio-para-restaurante-tem-o-peso-de-uma-maldicao/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/05/08/premio-para-restaurante-tem-o-peso-de-uma-maldicao/#respond Wed, 08 May 2019 05:00:22 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2019/05/fasano1-320x213.jpeg https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=1446 O colunismo gastronômico se alimenta de factoides. O desta semana, um dos mais importantes do ano, foi a edição 2019 do Guia Michelin, que classifica restaurantes de São Paulo e do Rio com até três estrelas.

Gritou-se muito nas redes sobre a queda dos restaurantes Fasano e Dalva e Dito –cada qual perdeu sua estrela solitária. Sei lá. Parece papo de ressentido. Vejo a coisa da seguinte forma: Rogério Fasano e Alex Atala são produtos dos anos 1990. Não vão continuar no topo para sempre. É a ordem natural das coisas.

Eu tenho as quatro patas atrás para essas premiações. Vale para restaurante, vinho, cerveja, qualquer coisa. Primeiro, não existe critério objetivo possível para se determinar o melhor da cidade (do país, do mundo) nisso ou naquilo. Vai do gosto do juiz.

Segundo, ser agraciado com um desses prêmios tem o peso de uma maldição. O sujeito nunca mais poderá ser o mesmo de antes.

Assim que a notícia se espalha, a procura aumenta. A tentação de aumentar os preços é quase irresistível –até porque ajuda a segurar a demanda. Expandir o negócio? Talvez, mas será que vale contratar um empréstimo? Muita gente arrebenta a fuça nessa história.

Eu temo principalmente pelos calouros da categoria “bom e barato”. No Guia Michelin, eles se chamam “Bib Gourmand”. É fácil deixar de ser bom, mais fácil ainda deixar de ser barato. E quando a pessoa descobre que o seu restaurante é bom porque é barato? Sinuca existencial.

Ainda que a premiação não traga grandes turbulências para a operação, existe algo chamado reputação. Retroceder nunca, render-se jamais, diria Jean-Claude van Damme. Perder território conquistado é trágico até para velhos de guerra como Fasano e Atala.

Na Europa, rebaixamentos no Michelin já causaram suicídios. Criaram também uma leva de chefs que se recusam a ser classificados pelo guia.

Guias são legais. Servem como referência em terrenos desconhecidos. Mas não devem ser levados demais a sério.

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10 tradições que correm risco de extinção nos restaurantes de São Paulo https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/05/07/10-tradicoes-que-correm-risco-de-extincao-nos-restaurantes-de-sao-paulo/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/05/07/10-tradicoes-que-correm-risco-de-extincao-nos-restaurantes-de-sao-paulo/#respond Tue, 07 May 2019 05:00:35 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2019/05/garçom-320x213.jpg https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=1440 Na gastronomia, como em qualquer setor, tradições chegam e vão embora. Algumas deixam saudade, outras já deveriam tem vazado faz tempo. Confira a seguir coisas que, hoje em dia, você só encontra em lugares muito old school.

 

1. Garçom empertigado

O sujeito não tem onde cair morto, mas põe um paletó, uma gravata borboleta e se comporta como um criado à moda antiga. Puxa as cadeiras, pendura os casacos e bolsas, trata todo mundo com reverência e é capaz de servir arroz com duas colheres.

Esse tipo garçom de garçom, infelizmente, tende a existir somente nos restaurantes muito, muito caros. Para nós, que não temos acesso aos templos da alta gastronomia, resta o castigo de conviver com o serviço ao estilo hipster.

 

2. Carrinho de entradas frias

Quando eu era moleque e ia almoçar com meus pais, láááá no século passado, alguns restaurantes tinham um esquema astuto para faturar em cima dos clientes esfomeados.

Assim que as pessoas sentavam à mesa, surgia do nada um carrinho com dezenas de gostosuras. Alcachofra em conserva, cuscuz de camarão, queijos, berinjela à parmegiana. Era difícil resistir.

O carrinho retornava triunfalmente, desta vez com sobremesas, quando todos já haviam terminado o prato principal.

O valor das comidas? Você só descobria quando chegava a conta. O susto era inevitável. Para o bem das carteiras e da transparência, o carrinho de surpresas não circula mais em muitos lugares.

 

3. Paliteiro

Paliteiro, saleiro, pimenteiro. Todas as mesas costumavam tê-los. Hoje, não mais. Já escrevi sobre o assunto neste post.

 

4. Azeite em lata

As latas de azeite foram substituídas por embalagens de vidro. A qualidade do líquido, em tese, melhorou. Em tese, pois os vidros são muito mais fáceis de fraudar. O próprio dono do restaurante remove a tampa, coloca outro azeite qualquer lá dentro e fecha com um bico genérico.

É por isso que, no Rio de Janeiro, os portugueses donos de boteco ainda trabalham com azeite em lata.

 

5. Louça com o nome da casa

Você ia ao Rei do Frango Assado, e comia em pratos com o nome do restaurante impresso na porcelana.

Isso saiu de voga, ficou démodé. Hoje em dia, ter a louça com o nome da casa é vintage, mas pode ser também um sinal de decadência. Principalmente se o nome da louça não é o mesmo do restaurante. Já vi isso acontecer.

 

INTERVALO: siga e curta a Cozinha Bruta nas redes sociais. Agora você tem receitas exclusivas da Cozinha Bruta no Instagram. Acompanhe também os posts do Facebook  e do Twitter. PODE VOLTAR À LEITURA, OBRIGADO.

 

6. Esconderijo da comida

Nos restaurantes à moda antiga, daqueles que trazem a comida em grandes travessas de metal, era comum o garçom levar os pratos sabe-se lá para onde depois de servir todo mundo. Quando alguém07 queria repetir, o cara demorava um século para ressurgir com a baixela, resgatada das profundezas da cozinha.

Isso era particularmente irritante nas pizzarias, em que eu requisitava várias vezes a reposição da comida no prato. “Ei, onde você vai com essa pizza? Parado aí. Pode por mais um pedaço de mussa e outro de calabresa.”

 

7. Vinho sobre a mesa

Era normal que o dono do restaurante deixasse uma garrafa de vinho fechada sobre a mesa.  Aquele Forestier básico, um Baron de Lantier ou mesmo a belíssima garrafa azul do Liebfraumilch. Em pé, no calor, na poeira.

Eu sempre me perguntei: será que alguém chega e pede para o garçom abrir?

Acho que não muita gente, tanto que o hábito só resiste em restaurantes muito antiquados.

 

8. Quadros com resenhas

Os comerciantes exibiam orgulhosos as notas positivas que saíam na imprensa. Existiam até umas figuras que vendiam essas críticas e resenhas, já devidamente emolduradas, de restaurante e restaurante.

O sumiço desses quadros tem pouco a ver com as mudanças na gastronomia. É o esfarelamento da imprensa, mesmo.

 

9. Sobremesas industriais

Sabe-se por que cargas d’águas, antigamente tinha muito dono de restaurante que achava desnecessário fazer sobremesas. Eles vendiam doces congelados, feitos em alguma fábrica que fornecia para metade do setor.

Os restaurantes punham um prisma de papelão sobre a mesa, com as opções: torta holandesa, cassata napolitana, tartufo de sorvete, musse de chocolate e de maracujá.

Essa já foi tarde.

 

10. O homem do balão

Na saída, sempre tinha um sujeito que vendia balões de gás. Os pais ralhavam, mas quase sempre cediam e compravam. Desse cara eu sinto falta.

 

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5 lições para você cozinhar melhor do que um profissional https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/02/28/5-licoes-para-voce-cozinhar-melhor-do-que-um-profissional/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/02/28/5-licoes-para-voce-cozinhar-melhor-do-que-um-profissional/#respond Thu, 28 Feb 2019 14:39:16 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2019/02/espaguete-320x213.jpg https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=1263 A comida caseira pode ser bem melhor do que os pratos que você comprar num restaurante. É fácil. Basta respeitar estas regrinhas:

 

1. Estuda, criatura!

 

Impossível cozinhar bem sem um mínimo de conhecimento. Compre livros, leia, teste receitas, faça cursos, pesquise. Só com repertório você será capaz de improvisar e imprimir sua própria marca à comida.

 

2. Use ingredientes de qualidade

 

Esse é o pulo do gato. Se restaurantes comprassem os melhores ingredientes possíveis, o preço final dos pratos seria absurdo. Cozinhas profissionais sempre economizam no azeite, nos condimentos, na farinha, em quase tudo. Já estive nos bastidores de dezenas de restaurantes e posso dizer: até os mais caros usam vinho terrivelmente vagabundo para cozinhar.

Ao usar produtos melhores do que os usados pelo restaurante, você já sai com uma dianteira boa.

 

3. Esqueça a perfeição

 

Cozinheiros profissionais são treinados para fazer tudo rápido, sem falhas e padronizado. A comida de um restaurante precisa ser a mesma para todos os clientes, e a equipe da cozinha precisa reproduzir constantemente a receita criada pelo chef, sem oscilações de quantidade ou qualidade.

Isso não quer dizer que um cozinheiro profissional seja mais talentoso do que qualquer um de nós.

Na cozinha caseira, você está livre dos grilhões do ambiente de um restaurante. Não precisa cortar a cebola em tempo recorde nem em pedaços milimetricamente iguais. Não precisa se preocupar com o tempo de execução da receita. Não precisa fazer a mesma receita sempre do mesmo jeito. Não precisa ter obsessão pela apresentação do prato.

Use essa vantagem em seu favor. Relaxe e arrase no fogão.

 

4. Adapte as receitas ao seu gosto

 

Nenhuma receita culinária é uma fórmula imutável. Com conhecimento e bons ingredientes, você tem o poder de melhorar os pratos dos restaurantes – no sentido de adaptá-los aos sabores que você mesmo(a) prefere.

Não gosta de alho? Remova. Gosta muito de alho? Ponha mais. Nem sempre funciona. Mas relaxe e releia o item 3. Em casa, você não busca o padrão. Apenas tente se lembrar de fazer as devidas correções na próxima vez em que for executar a receita.

 

5. Descomplique

 

Alguns pratos são feitos para a dinâmica de uma cozinha profissional. Exigem caldos e molhos que demoram séculos para serem preparados (e que, nos restaurantes, vêm a calhar para o aproveitamento de ossos, aparas de carne e sobras em geral).

Outros pedem equipamentos que pouca gente tem em casa. Há ainda aquelas comidas que exigem um tipo de perícia muito específica – ovos pochê são um exemplo, eu nunca consegui prepará-los bem.

Antes de se aventurar em uma receita, leia a dita-cuja com atenção. Se for difícil demais ou exigir mirabolâncias, deixe para lá.

Invista em pratos mais simples. Neles, o cozinheiro doméstico bate com facilidade a oferta dos restaurantes. Eu, por exemplo, quase nunca como macarrão fora de casa. Para que pagar um dinheirão por algo que eu faço melhor?

 

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Funcionários de restaurantes relatam casos de horror em cozinhas imundas https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/02/26/funcionarios-de-restaurantes-relatam-casos-de-horror-em-cozinhas-imundas/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/02/26/funcionarios-de-restaurantes-relatam-casos-de-horror-em-cozinhas-imundas/#respond Tue, 26 Feb 2019 09:00:27 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2019/02/ratatouille-320x213.jpg https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=1257 Você não deve acreditar em tudo o que lê na internet, mas também é ingênuo pensar que a rede só traz mentiras. A dúvida é a posição mais sensata. Dito isto, topei com uma postagem que me arrepiou até o último fio de barba.

Uma turma de funcionários de restaurantes bares e afins resolveu compartilhar inconfidências sobre situações de horror nas cozinhas profissionais do Brasil.

Prossiga se tiver estômago.

As acusações, aparentemente feitas em um grupo fechado no Facebook, foram publicadas no perfil Gastronomia da Deprê. O post já rendeu quase 1500 comentários, um mais nojento do que o outro.

Eu não tenho como checar a veracidade dessas afirmações, até porque os nomes dos estabelecimento são omitidos. Com 48 anos de vida e quase 20 de jornalismo gastronômico, posso afirmar com segurança: não é possível que todas sejam mentirosas.

Eu já vi, li, editei matérias e participei (na condição de vítima) de episódios grotescos em restaurantes imundos, como narrei neste artigo para a revista SãoPaulo. Essas coisas acontecem, não são lenda urbana.

Vou parar por aqui e deixar você com alguns relatos do tal grupo e dos comentários no Facebook. Para facilitar sua compreensão, dei um tapa muito discreto na gramática de algumas postagens.

 

MAS… ANTES DE PROSSEGUIR, O MOMENTO MERCHAN: agora você tem receitas exclusivas da Cozinha Bruta no Instagram. Acompanhe também os posts do Facebook  e do Twitter.

 

 

 

“Trabalhei em uma padaria em que o confeiteiro, depois do almoço, ia enfeitar bolos com um palito na boca, cutucando os dentes para tirar restos de comida. Aí eu vi ele usando o mesmo palito para fazer detalhes do design do bolo.”

Camila, no grupo fechado

Agora eu já sei que fim levou o palito de dentes.

 

“Aos 15 anos, trabalhei numa padaria onde os ratos passeavam em cima do pão. O dono mandava embalar esses pães em saquinhos com 10 unidades, parea vender mais barato aos clientes que chegavam cedo.”

Flávia, no grupo fechado

 

“Trabalhei num restaurante em que o dono mandava a gente comprar o azeite mais vagabundo para colocar no vidro de Gallo.”

Gabriela, no grupo fechado

Esse expediente é das coisas menos asquerosas que você vai ler aqui, mas é o mais comum. Eu já falei do azeite fraudado neste post e também neste aqui. O mesmo grupo relata casos semelhantes com ketchup e shoyu.

 

 

“Trabalhei em um restaurante que reaproveitava os restos de carne dos pratos dos clientes para fazer farofa.”

Fabiana, no grupo fechado

 

“Quando comecei a trabalhar como sommelier fiz uma consultoria num bar famoso, numa esquina que o Caetano cantou, em que a cozinha era um espetáculo de horrores: as carnes ficavam empilhadas no chão e quando chovia um dos cozinheiros era destacado para matar os ratos que apareciam aos montes. Uma vez vi esse infeliz cozinheiro puxando com o rodo o sangue dos ratos, que ele matou com um cabo de vassoura, em direção às carnes empilhadas.”

A., sommelier em São Paulo, em post público no Facebook

 

Fiz um teste para subgerente em uma pizzaria conhecida em minha cidade. No primeiro dia, me abismei com a quantidade de cocô de rato que tinha nas bancadas onde abria a massa. Senti um cheiro forte vindo do rolo de massa. Tinha massa pobre com larvinhas. A máquina de fatiar também estava podre.

Fui ajudar o pizzaiolo a montar algumas pizzas, e ele tinha um balde com calabresa fatiada que haviam tirado das pizzas que sobravam. As azeitonas que não era comidas pelos clientes voltavam para as pizzas.
Questionei o dono sobre reaproveitar o resto dos clientes: ele disse que era cristão e não ia jogar fora comida boa só porque o cliente não comeu tudo. Nunca voltei lá, liguei na vigilância sanitária e denunciei. Mas eles continuam abertos.

Ana Carolina, de Uberlândia (MG), em comentário no Facebook

 

“Já vi padeiro abrir o saco de farinha daqueles bem grandes, fazer um morrinho com a farinha, baixar as calças, colocar a bunda perto e PEIDAR, só para ver a farinha voar!”

Vinícius, de Taquara (RS), em comentário no Facebook

Essa história força um tanto a amizade, mas vá saber… Eu já conheci gente que seria capaz de fazer algo semelhante.

 

E, agora, a melhor de todas:

 

“Trabalhei em um restaurante nordestino superfamoso. Eram TANTAS baratas, arroz que durava uma semana na panela, carnes também… eles eram servidos mesmo assim. Eu vi uma senhora da limpeza matando a barata na facada! 
Isso: a barata estava na parede ela deu uma FAAAACADA!!! Pedi demissão no dia seguinte!”

Paula, de São Paulo, em comentário no Facebook

 

 

 

 

 

 

 

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A verdadeira cozinha brasileira está no quilão https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/02/09/a-verdadeira-cozinha-brasileira-esta-no-quilao/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/02/09/a-verdadeira-cozinha-brasileira-esta-no-quilao/#respond Sat, 09 Feb 2019 04:00:36 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2018/11/kg-320x213.jpg https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=1222 A essência da comida brasileira não está na vanguarda de tons amazônicos de Alex Atala. Não está nos resgate etnográfico das pesquisadoras Mara Salles e Ana Luiza Trajano. Tampouco está no trivial cangaceiro do sertão do Seridó, de Rodrigo Levino.

A alma da cozinha brasileira está no restaurante por quilo.

Ou restaurante a quilo, se você preferir. O cacófato é inevitável.

Num país normal, o conceito de “comida típica” é claro e evidente: entre em qualquer restaurante despretensioso, com serviço de mesa, para comer o que os locais comem.

É assim na Itália, na França, no Japão, na Argentina.

O Brasil não é um país normal. O Brasil é uma perua Kombi velha que se mantém rodando graças a uma combinação de fita crepe, massa epóxi e a velha certeza de que tudo vai terminar bem –desde que outra pessoa cuide do estrago quando der errado.

Enquanto as massas nos trens se entopem de salgadinho Fofura, os chefs se ocupam de uma imagem romântica da nossa cultura alimentar. De algo que, se ainda não foi extinto, está sob forte ameaça.

Nada, nadíssima contra isso. Precisamos de heróis como Janaina Rueda, Rodrigo Oliveira e Marcelo Correa Bastos para preservar a tradição moribunda.

Língua ensopada, sarapatel, camarão com chuchu, arroz de suã, rabada, dobradinha, baião-de-dois, virado à paulista, moqueca, angu, cuscuz de sardinha, mungunzá, carreteiro, tropeiro, tacacá, quibebe, isso tudo está virando comida de restaurante.

Cada vez menos o brasileiro se mete a besta de cozinhar coisas assim em casa.

A cozinha caseira agoniza porque foram-se o tempo e as habilidades. Poucos ainda têm mão-de-obra doméstica cativa. A refeição colonial cedeu lugar ao restaurante por quilo –o brasileiro não abre mão de misturar, no mesmo prato, o conteúdo de várias panelas.

É lá que o sr. Brasilino come:

Estrogonofe de frango, conchas de macarrão aos quatro queijos, arroz de forno, parmegianas de qualquer material, salada de quinoa, rúcula com tomate seco, batata smile, sushi de pepino e de manga, molho golf, ovo de codorna, couve-flor empanada, lasanha com presunto e carne moída, costelinha ao barbecue, batata-palha industrial, sal rosa, bolinho de arroz, quindão, pavê de bolacha maisena e um Sonho de Valsa com o cafezinho.

Goste ou não, esta é a dieta do brasileiro urbano médio. Ela funde a tentativa de ser cosmopolita com uma visão distorcida da alimentação tradicional.

A culinária real do quilão conversa muito pouco com a gastronomia idealizada dos chefs. A exemplo de quase tudo por aqui, o meio-termo é um vasto espaço vazio. Haja fita crepe para construir essa ponte.

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O triste fim do palito de dentes https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/02/02/o-triste-fim-do-palito-de-dentes/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/02/02/o-triste-fim-do-palito-de-dentes/#respond Sat, 02 Feb 2019 04:00:15 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2019/02/toothpick-626498_1920-320x213.jpg https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=1207 Um antigo comercial de TV mostrava um homem à mesa de um restaurante. Ele escovava os dentes e enxaguava a boca em um copo de água mineral.

O produto anunciado era um chiclete que, presumidamente, limpava os dentes –e tornava desnecessária a exibição pública de higiene bucal.

Tais exibições eram bastante comuns até algum tempo atrás. Ignoro se alguém chegou ao extremo de escovar os dentes à mesa. Eu já vi o fio dental em ação.

O mais frequente, porém, era palitar os dentes. O ato de futucar o vão entre os molares polarizou o Brasil muito antes da rixa política.

Metade da população sentia repulsa diante do garimpo de restos de comida; os restantes consideravam-se no direito de meter o palito onde quisessem, na hora em que bem entendessem.

A linha de defesa da frente pró-palito era dura de contestar: se o restaurante coloca os palitos sobre a mesa, é de se supor que eles devem ser usados.

Mas os restaurantes removeram os palitos da mesa, e a discussão acabou. Venceu o grupo antipalito.

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Os restaurantes, aliás, eliminaram todo o arsenal da mesa. Galheteiro é coisa do passado. Adeus, saleiro. Até mais, pimenteiro. A gente se vê na pizzaria, azeite.

O saleiro sumiu quando a autoestima dos chefs decolou. Agora todos sabem exatamente a medida de sal que o cliente deve comer. Pedir o saleiro provoca crises existenciais na cozinha.

A remoção do pimenteiro teve um efeito colateral cômico: quando alguém solicita a pimenta-do-reino, o maître traz à mesa um moedor de dois metros de altura, que ele sofre para operar.

Algo parecido ocorre com o queijo ralado. Ele não fica mais num açucareiro. Entendo: é anti-higiênico e oxida rápido. O parmesão chega com um acompanhante humano, o garçom que gira o ralador.

“Já está bom, senhor?” “Um pouco mais, por favor…” “E agora?” “Eu digo quando chega… ei, volta aqui e deixa essa porcaria comigo!”

Quanto ao paliteiro, limpar os dentes era um detalhe. O palito serve para uma infinidade de coisas. Pegar batatinhas. Tentar espetar azeitonas –elas sempre escapam. Jogar palitinho. Mascar a madeira. Distrair crianças.

Os pirralhos adoravam remover a tampa do paliteiro. Com muito cuidado, ele era colocado de ponta-cabeça sobre a mesa, com a tampa em cima da base.

O cliente seguinte derrubava todos os palitos, mas o pequeno terrorista não via. Nunca entendi muito bem o prazer dessa contravenção.

Até isso acabou.

Mas ainda existe o filé a palito. A pizza a palito. Cadê o palito?

Há lugares que oferecem palitos de dente embalados individualmente em minúsculos sacos plásticos. Não consigo imaginar fim mais deprimente para personagem tão importante da mesa brasileira.

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São Paulo maltrata o turista que vem conhecer nossa gastronomia https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/01/14/sao-paulo-maltrata-o-turista-que-vem-para-conhecer-nossa-gastronomia/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2019/01/14/sao-paulo-maltrata-o-turista-que-vem-para-conhecer-nossa-gastronomia/#respond Mon, 14 Jan 2019 04:00:21 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2019/01/vietnam-320x213.jpg https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=1150 São Paulo não tem mar.

São Paulo é uma cidade de escassas belezas, naturais ou construídas pelo homem. O patrimônio histórico foi demolido para a construção da metrópole do café.

Por que raios alguém viria fazer turismo em São Paulo? Há algumas razões.

Alguns vêm fazer compras. Há os que vêm para ver peças musicais. Existem certos malucos do Brasil profundo que querem ter um gostinho do caos urbano.

E tem aqueles que vêm comer. Gente que viaja a São Paulo para desfrutar de nossos restaurantes.

São Paulo tem a melhor e mais variada cena gastronômica do Brasil. Inegável.

Mas a gastronomia paulistana tem muitos, muitos, muitos problemas.

Um deles é deixar ao léu o forasteiro que chega cheio de expectativas.

Além de tudo o que eu falei lá em cima, São Paulo é uma cidade grande demais, confusa, difícil.

Por comodidade e falta de conhecimento, a turistada termina comendo sempre nos mesmos lugares. A ver:

Digamos que a oferta ainda está superior à de Arapiraca, mas São Paulo poderia fazer melhor.

Precisaria, claro, tirar a bunda da cadeira. Coisa para a prefeitura, para o governo estadual, para os sindicatos patronais ou uma associação dessas entidades, de preferência com patrocínio privado.

PAUSA PARA O MERCHAN: agora você tem receitas exclusivas da Cozinha Bruta no Instagram. Acompanhe também os posts do Facebook  e do Twitter.

Guias, tours gastronômicos, aplicativos, festivais… há tanto a fazer para promover a comida paulistana. Algumas atrações que, na minha opinião, são subestimadas:

A cena botequeira paulistana: Luiz Fernandes, Frangó, Academia da Gula, Valadares e tantos outros. O Rio já promoveu os seus bares e BH se diz a capital brasileira dos botecos. Os nossos não ficam nada a dever aos cariocas e mineiros. Falta dar um gás na divulgação.

A comida dos novos imigrantes: restaurantes peruanos, feira dos bolivianos, casas palestinas, sírias e africanas. Coisas que não se encontram em outras partes do Brasil.

Os japoneses underground: São Paulo é um dos melhores lugares no mundo para conhecer a culinária japonesa, mas as massas (humanas) só querem saber de sushi. Temos a comida de Okinawa do Deigo, a espantosa variedade de udon do Meu Udon, o ambiente caseiro do Kidoairaku, o lámen perfeito do Ikkousha e do JoJo, a cozinha criativa de Telma Shiraishi, do Aizomê. Sem falar nos muitos izakayas, botecões orientais. Matsu, Bueno, Toki, Kintaro, Issa. A São Paulo japa é demais.

O roteiro da pizza: todos os tipos e estilos de pizza de São Paulo. Napolitana (Leggera, Napoli Centrale), tradicional paulistana (Castelões, Speranza), moderna (Bráz Elettrica, Carlos, Divina Increnca) e por aí vai.

A Ásia paulistana: restaurantes chineses, coreanos, taiwaneses, vietnamitas, tailandeses. Outra variedade étnica que só São Paulo tem no Brasil.

Tem mais coisa, com certeza. Mas eu cansei e não quero te cansar também.

O turismo de gastronomia, em São Paulo, está na primeira infância. Ainda é tudo mato.

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Por que não frequento restaurantes no Itaim https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2018/12/03/por-que-nao-frequento-restaurantes-no-itaim/ https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2018/12/03/por-que-nao-frequento-restaurantes-no-itaim/#respond Mon, 03 Dec 2018 12:50:05 +0000 https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/files/2018/08/burrata-320x213.jpg https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/?p=1035 O problema sou eu, não é o Itaim.

Imagino que muitos paulistanos, nativos ou de adoção, sintam algo parecido. Mudam os bairros, mas a sensação é a mesma.

De forasteiros, já ouvi incontáveis vezes: “como você consegue morar em São Paulo?”. Eu mesmo me pergunto isso quando a cidade fica particularmente infernal.

São Paulo é grande demais. Tem gente demais. O traçado das ruas não obedece a nenhuma lógica rastreável. Tem muito barulho, muita sujeira. O transporte público empaca, o individual também. Cai um pontilhão na Vila Leopoldina, trava tudo nos arredores de Congonhas. Não dá para viver bem num lugar assim.

Para não enlouquecer, os habitantes daqui criam defesas. Dão um jeito de neutralizar um ou outro aborrecimento que São Paulo lhes impinge.

A solução que encontrei foi delimitar a minha área de trânsito.

Pouco saio dos limites imaginários da minha São Paulo particular. Ela é uma cidade de 617.792 habitantes. Algo entre a população de Cuiabá e a de Feira de Santana, na Bahia. Não é um vilarejo empoeirado.

Nasci em moro em essepê desde sempre –com a exceção de alguns meses no exterior e 40 dias no Rio.

Minha terra natal é a esquina da Basílio da Cunha com a Paulo Orozimbo –zona chamada por nós de Aclimação, de Cambuci pelos Correios e de Vila Mariana pelo cemitério a cem metros dali.

A vida me empurrou para o oeste. Faculdade, amigos, trabalho, tudo começou a se concentrar no lado ocidental da cidade. Moro em Perdizes há quase 20 anos e cada vez menos sinto vontade de ir muito longe daqui.

Quando deixei de ser um cara CLT e passei a trabalhar em casa, descobri o maravilhoso mundo do bairro. O carro quase não sai da garagem. Meu passatempo favorito virou buscar serviços a menos de três quadras de casa.

Com menos compromissos fora, não sobra muito o que fazer extramuros. Quando saio para comer, gosto de ficar na minha São Paulinho –ela engloba o centro e seus apêndices (Liberdade, Bom Retiro), os dois lados da avenida Paulista, Higienópolis, Pinheiros e Lapa. Também Perdizes, é claro.

A cidade ficou muito mais simpática e acolhedora. Porque não perco tempo no trânsito, basicamente.

Não saio para comer no Itaim porque não me interessa visitar o Itaim. A divisa do meu território, a sudoeste, é a avenida Brasil.

Tampouco vou almoçar ou jantar em Moema, na Vila Nova Conceição, na Vila Olímpia, no Brooklin. Morumbi, nem nos piores pesadelos. Atravessar rios em SP, só em situações muito excepcionais. Isso me torna cidadão estrangeiro nas zonas norte e leste da cidade. Ao bairro onde cresci, vou para visitar minha mãe. Quando ela morrer, não terei razões para voltar.

Nada contra esses lugares todos. Quanto ao Itaim, confesso que sinto alguma antipatia àquilo que ele representa para mim: um espírito playboy típico das piores elites paulistanas. Algo que abunda também nos Jardins e contamina até a Vila Madalena.

Mas que, para mim, é simbolizado principalmente pelo Itaim. Sei que perco boa comida, mas é a vida: não se pode ter tudo. Sei também que a minha generalização põe no mesmo balaio um monte de lugares com perfis distintos.

Como eu disse lá em cima, o problema sou eu.

 

 

 

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