Micro-ondas: muito além da pipoca

batatas douradas
Batata-bolinha cozida no micro-ondas e depois dourada no azeite com alho (foto: Marcos Nogueira)

 

A gastronomia também segue modas. Há os pratos da moda, os restaurantes da moda, os ingredientes da moda e, para quem gosta de brincar na cozinha, os utensílios da moda. Até pouco tempo, o gadget culinário mais bacanudo da praça era o Thermomix – um liquidificador metido a besta que faz sorvete, faz risoto, faz sopa, cobra escanteio e toca gaita. Hoje em dia, está em voga o termocirculador portátil. Trata-se de uma haste que você coloca em um recipiente com água: ele aquece o líquido em uma temperatura programada e a mantém constante, para cozinhar alimentos embalados a vácuo. É a versão doméstica dos aparelhos de cocção sous-vide, um dos pilares da tal da gastronomia molecular.

Outros equipamentos nunca ganharam o prestígio que merecem. O caso mais gritante é o do forno de micro-ondas. Inventado por acaso na Segunda Guerra – as tais micro-ondas derreteram um chocolate no bolso de um cientista inglês que pesquisava tecnologia para radares –, o aparelho é tido como um atalho meia-boca para cozinhar e aquecer. Ele é o pai de pizzas borrachentas e bifes acinzentados. Em boa parte das cozinhas, sua função principal é esquentar água.

A razão para tanto pouco-caso é a origem amadora do micro-ondas. Ao contrário do Thermomix e do termocirculador, máquinas com pedigree de cozinha profissional, ele nasceu para atender necessidades domésticas. Chefs sempre o desprezaram, e pouca pesquisa foi feita a respeito de suas potenciais aplicações. A quem se interessar, algumas experiências muito interessantes foram feitas pelo projeto Modernist Cuisine (em inglês).

Os usos do micro-ondas vão muito, muito além da pipoca. Com ele, você pode cozinhar milho verde, cenoura, ervilhas, beterraba. O ovo pochê, um dos grandes desafios da cozinha, é fácil e infalível no micro-ondas. A invenção de uma panela de pressão especial multiplicou as possibilidades do equipamento. E, segundo o povo do Modernist Cuisine, é possível até fazer carne-seca com o aparelho.

Para mim, não há melhor jeito de fazer batatas cozidas. Com o auxílio de um saco especial (à venda em lojas de inutilidades gerais como a Multicoisas) ou de um pano qualquer, ela cozinha no próprio vapor. Fica pronta em poucos minutos e não encharca. Perfeita para o purê e para o nhoque.

Uma de minhas receitas favoritas é a batata bolinha dourada com alho e azeite. Pegue meio quilo de batatas-bolinhas, envolva-as em um pano e as cozinhe no micro-ondas em potência máxima (o tempo varia de acordo com o equipamento – no meu, oito minutos bastam). Enquanto isso, frite uns seis dentes de alho, laminados, em bastante azeite. Reserve o alho e doure as batatinhas, cortadas ao meio, no mesmo azeite. Antes de servir, tempere com sal e o alho reservado.

É o acompanhamento ideal para um bom churrasco.