É dia 29: nhoque de micro-ondas fica pronto em meia hora
Minha mãe fazia nhoque de vez em quando, no almoço familiar dominical. Era um evento anunciado com uma semana de antecedência, para que ninguém programasse viagem naquele fim-de-semana. Bem cedinho, ela cozinhava as batatas e ponha o molho de tomate para apurar. Por volta do meio-dia, esticava várias cobrinhas de massa, que tomavam toda a pedra da pia da cozinha. Cortava os nhoques e os punha na água fervente apenas quando todos já estavam presentes e prontos para comer.
Aquilo sempre me pareceu uma operação complexa, com uma certa dose de sofrimento envolvida.
A literatura que eu vim a consultar mais tarde confirmou essa impressão. O nhoque de batata é sempre descrito como uma preparação laboriosa, algo que exige planejamento, disposição e savoir-faire. É preciso saber escolher as batatas. É preciso saber cozinhá-las por um tempo exato, que varia de acordo com o tipo, o tamanho e a idade dos tubérculos. Por fim, é preciso saber dosar a farinha de trigo.
Para seguir a tradição à risca, a receita deve levar apenas batata, farinha e temperos secos – sal, pimenta e noz-moscada. Se a batata estiver encharcada, cozida demais ou de menos, a mistura nunca vai dar liga. Por isso alguém inventou de colocar ovos na massa. É uma pequena trapaça que facilita o trabalho: a massa sempre dá certo, mas fica um pouco dura por causa dos ovos.
Por essas e outras, demorei até arriscar no nhoque. Obtive resultados de todo tipo: das almofadinhas perfeitamente macias até a papa que vira purê quando você a joga na água. Não consegui identificar um padrão, muito menos aplicá-lo.
Até que descobri o método do micro-ondas. Com ele, fazer nhoque é ridiculamente fácil e rápido. Meia hora basta.
Cozinhar batatas no micro-ondas elimina o problema mais comum do nhoque feito na água: para não correr o risco de trabalhar com a batata meio crua, deixa-se cozinhar demais. A batata se encharca e fica impossível de ser moldada. Há quem contorne a questão com o forno convencional, com efeito colateral inverso: o calor resseca a batata. Funciona também com batata-doce – na foto do alto, nhoque de batata-doce roxa com pato no tucupi laranja (a receita, desculpem, é enrolada demais para publicar aqui). Nunca tentei com mandioquinha, mas não vejo por que não funcionaria.
No micro-ondas, a batata é preparada dentro de um saco vendido para essa finalidade – ou enrolada em um reles pano de prato. É o vapor das próprias batatas, retido pelo embrulho, que as cozinha. O interior fica macio e com o teor ideal de umidade.
Nunca soube muito bem escolher batatas, mas tive experiências mais satisfatórias com a variedade asterix, de casca rosada. Procure comprar batatas do mesmo tamanho, para um cozimento regular e uniforme. Calcule uma batata média por pessoa.
O tempo de cozimento varia de acordo com a potência do micro-ondas. No meu aparelho, seis minutos na regulagem máxima cozinham uma batata. Porções maiores requerem mais tempo, mas não se trata de uma conta simples de multiplicação. É preciso tentar até acertar. Ajustar para um tempo menor e retornar as batatas ao forno até chegar ao ponto ideal.
Batata cozida, quebre-a ao meio e deixe esfriar. Descasque, amasse com um garfo e muita vontade, para obter o puré mais liso possível. Tempere esse purê e acrescente farinha suficiente apenas para dar liga à massa. Junte a farinha aos poucos para que a mão pesada não estrague o nhoque.
A seguir, repita os passos da nonna: enrole lombrigas de batata, corte os nhoques e cozinhe-os em água fervente até flutuarem.
Você pode servir o nhoque com manteiga, com molho de tomate ou do jeito que preferir. Na foto aí em cima, preparei um molho de cogumelos. Para duas pessoas, hidratei 20 gramas de porcini e grelhei meia bandeja de portobello, cerca de 100 g. Reservei os cogumelos. Refoguei meia cebola na manteiga e adicionei 200 ml de vinho branco, cozinhando até evaporar quase totalmente. Então adicionei 200 ml de creme fresco, o portobello, os porcini com a água (uns 100 ml), deixei engrossar e temperei com sal e pimenta-do-reino.