Minhas 7 roubadas favoritas de Réveillon
Como disse no post anterior, Réveillon não é época de ficar suando na cozinha. Falo com propriedade porque já quebrei essa regra muitas vezes e quase sempre me dei mal. Mas existem vários caminhos que levam à roubada. Abaixo, alguns dos meus fracassos favoritos de Ano Novo.
- A maldição dos orixás
Nunca menospreze a força da conjunção de calor, comida arretada e clima festivo que existe na Bahia. Pode dar revertério se você não tomar cuidado. Comigo foi na virada de 1999 para 2000, em Cumuruxatiba. Passei a tarde na praia, bebendo e petiscando sob o sol. Acordei da soneca vespertina com vômito e diarreia. Fui à cidade, tomei uma injeção na farmácia e voltei para a queima de fogos. O dono da pousada, mineiro, nos ofereceu a ceia: pernil com feijão-tropeiro. Voltei para o quarto para continuar vomitando.
- O cuscuz azedo
O Réveillon de 2011 foi marcado por chuvas torrenciais na região Sudeste. Um deslizamento matou dezenas de pessoas em Angra, o patrimônio histórico de São Luís do Paraitinga foi destroçado pela água e pelo menos duas estradas que ligam o litoral a São Paulo estavam fechadas por causa de quedas de barreiras. Eu estava em Ubatuba, de onde levei 14 horas e meia para voltar, em uma casinha alugada. Sob o dilúvio, tínhamos como grande atração da noite um cuscuz de camarão que havíamos comprado na cidade. Ele estava azedo, e jantamos pão com presunto. Imagine o humor.
- Meia-noite no restaurante meia-boca
Nem lembro direito o ano, mas estava com amigos em uma casa alugada em Porto Belo, Santa Catarina. O trânsito estava um inferno, e o grupo não se entendia em nada: assim, chegamos à noite do dia 31 sem plano traçado. Acabamos em uma marisqueira local que serviria jantar. O serviço era tão lerdo que acabamos saindo de lá depois das 23h, sem possibilidade alguma de fazer festa de qualquer espécie.
- Suadouro no tiramisú
Em outro Réveillon mais ou menos recente, estava na casa de uma amiga em Paraty. Havia posto na cabeça que eu prepararia tiramisú para a galera. Mas não havia batedeira elétrica. Fiz o doce com o batedor manual e transpirei mais que uma stripper em Manaus. Precisei trocar de roupa duas vezes naquela noite.
- O pastel da madrugada
Salvador, alguns anos atrás. Não passei mal desta vez. Hospedado em um hotel limpinho, baratinho e sem charme algum, não sabia o que fazer na virada. As festas pagas eram caríssimas e muito distantes do meu conceito de festa boa. Os bons restaurantes, todos fechados. Terminamos eu, minha mulher e minha filha (então adolescente e aborrecida) comendo pastel de feijoada no boteco mais caído do largo do Rio Vermelho. Foi memorável.
- Pagando para levar bronca
O tsunami da Indonésia era o assunto de todos na virada de 2004 para 2005. Eu estava com parentes e amigos numa pousadinha em Tiradentes, Minas Gerais. Bebemos alegremente, tão alegremente que nos esquecemos de pensar em comida. Quando a fome bateu, corremos de porta em porta no afã de achar algum lugar aberto. Enfim, recorremos a um restaurante de cujos donos minhas irmãs eram amigas. Fomos recebidos muito a contragosto e, enquanto esperávamos nossa mesa, continuamos a beber na calçada. Digamos que uma meia dúzia de taças bonitas foram vítimas de nossas mãos moles de pinguço. Minha última lembrança da noite é a dona do lugar, furibunda, deixando sobre a mesa a conta que não havia sido pedida – e que incluía os copos que quebráramos. Mas a comida era boa. Acho
- Congelados em Londres
Eu e minha mulher fizemos uma extravagância na virada para 2009. Passamos uma semana em Londres. O hotel que havíamos reservado estava fechado: então, excelente, nos deram um upgrade para um quarto 5 estrelas em Mayfair. Mas a Mari ficou gripadíssima, o que complicou os planos para a noite do Réveillon. Comeríamos no hotel e depois sairíamos para ver os fogos em Waterloo – com um champanhe bem bacana que eu havia comprado. A comida, em nosso apartamento de barão, era um sortimento de pães, queijos e conservas da loja Fortnum & Mason. Nada má. Mas aí saímos. A temperatura congelante. O metrô fechado por excesso de passageiros. Fomos ao parque mais próximo, o St. James’s. O lado bom é que não era preciso se preocupar com o gelo do champanhe. Mas estava tão frio que decidimos picar a mula à meia-noite e cinco. Chegando ao quarto, o champanhe estava completamente choco, de ter sacudido no caminho. Dormimos antes da uma da manhã.