Minhas 7 roubadas favoritas de Réveillon

Se você for à Bahia, cuidado: combinação de comida forte, calor e excessos pode melar a noitada de Ano Novo (Foto: Jefferson Coppola/Folhapress)

Como disse no post anterior, Réveillon não é época de ficar suando na cozinha. Falo com propriedade porque já quebrei essa regra muitas vezes e quase sempre me dei mal. Mas existem vários caminhos que levam à roubada. Abaixo, alguns dos meus fracassos favoritos de Ano Novo.

  1. A maldição dos orixás

Nunca menospreze a força da conjunção de calor, comida arretada e clima festivo que existe na Bahia. Pode dar revertério se você não tomar cuidado. Comigo foi na virada de 1999 para 2000, em Cumuruxatiba. Passei a tarde na praia, bebendo e petiscando sob o sol. Acordei da soneca vespertina com vômito e diarreia. Fui à cidade, tomei uma injeção na farmácia e voltei para a queima de fogos. O dono da pousada, mineiro, nos ofereceu a ceia: pernil com feijão-tropeiro. Voltei para o quarto para continuar vomitando.

  1. O cuscuz azedo

O Réveillon de 2011 foi marcado por chuvas torrenciais na região Sudeste. Um deslizamento matou dezenas de pessoas em Angra, o patrimônio histórico de São Luís do Paraitinga foi destroçado pela água e pelo menos duas estradas que ligam o litoral a São Paulo estavam fechadas por causa de quedas de barreiras. Eu estava em Ubatuba, de onde levei 14 horas e meia para voltar, em uma casinha alugada. Sob o dilúvio, tínhamos como grande atração da noite um cuscuz de camarão que havíamos comprado na cidade. Ele estava azedo, e jantamos pão com presunto. Imagine o humor.

  1. Meia-noite no restaurante meia-boca

Nem lembro direito o ano, mas estava com amigos em uma casa alugada em Porto Belo, Santa Catarina. O trânsito estava um inferno, e o grupo não se entendia em nada: assim, chegamos à noite do dia 31 sem plano traçado. Acabamos em uma marisqueira local que serviria jantar. O serviço era tão lerdo que acabamos saindo de lá depois das 23h, sem possibilidade alguma de fazer festa de qualquer espécie.

  1. Suadouro no tiramisú

Em outro Réveillon mais ou menos recente, estava na casa de uma amiga em Paraty. Havia posto na cabeça que eu prepararia tiramisú para a galera. Mas não havia batedeira elétrica. Fiz o doce com o batedor manual e transpirei mais que uma stripper em Manaus. Precisei trocar de roupa duas vezes naquela noite.

  1. O pastel da madrugada

Salvador, alguns anos atrás. Não passei mal desta vez. Hospedado em um hotel limpinho, baratinho e sem charme algum, não sabia o que fazer na virada. As festas pagas eram caríssimas e muito distantes do meu conceito de festa boa. Os bons restaurantes, todos fechados. Terminamos eu, minha mulher e minha filha (então adolescente e aborrecida) comendo pastel de feijoada no boteco mais caído do largo do Rio Vermelho. Foi memorável.

  1. Pagando para levar bronca

O tsunami da Indonésia era o assunto de todos na virada de 2004 para 2005. Eu estava com parentes e amigos numa pousadinha em Tiradentes, Minas Gerais. Bebemos alegremente, tão alegremente que nos esquecemos de pensar em comida. Quando a fome bateu, corremos de porta em porta no afã de achar algum lugar aberto. Enfim, recorremos a um restaurante de cujos donos minhas irmãs eram amigas. Fomos recebidos muito a contragosto e, enquanto esperávamos nossa mesa, continuamos a beber na calçada. Digamos que uma meia dúzia de taças bonitas foram vítimas de nossas mãos moles de pinguço. Minha última lembrança da noite é a dona do lugar, furibunda, deixando sobre a mesa a conta que não havia sido pedida – e que incluía os copos que quebráramos. Mas a comida era boa. Acho

  1. Congelados em Londres

Eu e minha mulher fizemos uma extravagância na virada para 2009. Passamos uma semana em Londres. O hotel que havíamos reservado estava fechado: então, excelente, nos deram um upgrade para um quarto 5 estrelas em Mayfair. Mas a Mari ficou gripadíssima, o que complicou os planos para a noite do Réveillon. Comeríamos no hotel e depois sairíamos para ver os fogos em Waterloo – com um champanhe bem bacana que eu havia comprado. A comida, em nosso apartamento de barão, era um sortimento de pães, queijos e conservas da loja Fortnum & Mason. Nada má. Mas aí saímos. A temperatura congelante. O metrô fechado por excesso de passageiros. Fomos ao parque mais próximo, o St. James’s. O lado bom é que não era preciso se preocupar com o gelo do champanhe. Mas estava tão frio que decidimos picar a mula à meia-noite e cinco. Chegando ao quarto, o champanhe estava completamente choco, de ter sacudido no caminho. Dormimos antes da uma da manhã.