Fanáticos por pastel de feira engrossam o coro dos haters da internet

Admito: eu subestimei o amor das pessoas (e dos paulistanos em particular) pelo pastel de feira.

Ao listar o pastel entre os 12 maiores micos da gastronomia de São Paulo, fiz um monte de inimigos que eu sequer conheço. Fui chamado de baitola e de mequetrefe. Aconselharam-me a “dar meia hora de bunda”, cronometrada no relógio. Depois postei uma foto no Instagram, dos pastéis do bar Astor, com uma legenda que avacalhava o pastel de feira. Perdi seguidores. Recebi pragas e maldições vindos de todos os rincões da internet.

Para começo de conversa, eu não odeio pastel de feira. Ele entrou na minha lista porque acho desagradável comer em pé na rua, com sol, moscas, cheiro de peixe e do óleo diesel do moedor de cana. Quanto ao pastel em si, ele é ok. Eu prefiro pastéis menores, com uma proporção recheio-massa mais vantajosa.

Mas não é essa a questão.

A questão é a insanidade que tomou conta do Brasil, em especial nas redes sociais. É só um pastel, amigos. As pessoas se enfurecem e saem xingando desconhecidos em nome da honra do pastel de feira – e nem se dão conta do ridículo da situação.

Eu escrevo este blog com a intenção explícita de cutucar algumas feridas. O colunismo gastronômico é submisso, promíscuo, preguiçoso e reverente, com poucas e boas exceções. Mais que isso, supervaloriza o papel da gastronomia na ordem social – recurso útil para vender o próprio peixe, mas que se transforma em fé com o passar do tempo.

Todos se levam a sério demais. Essa é a questão.

A gastronomia é algo fascinante e altamente relevante, mas não é arte nem ciência. Talvez seja mais importante do que a arte e a ciência, pois a alimentação vem antes delas no rol das prioridades humanas. Por ser tão primária, também é banal.

Um pastel é só um pastel. O mesmo vale para a criação mais estelar do chef mais premiado. Todos sabemos que o esgoto é o destino das “obras de arte” da alta gastronomia. Não existe poesia na digestão humana.

Briguem por política e religião. Briguem por futebol. Brigar por pastel é um atentado contra o bom senso que sobrou no mundo.