Você daria bolo de insetos para o seu filho?
Certamente você já deu. Se não foi bolo, foi outro doce. O inseto Dactylopius coccus é ingrediente de iogurtes, sorvetes, balas, sucos, refrigerantes, chicletes, gelatinas, qualquer comida industrial com sabor morango ou framboesa. Está em qualquer doce tingido de vermelho – sem mencionar o seu uso nos setores farmacêutico e têxtil. O bicho entra inclusive no bolo da moda: o red velvet, de massa vermelha e recheio branco.
O Dactylopius coccus, conhecido popularmente por cochonilha, é a base do corante alimentício vermelho mais usado pela indústria alimentícia. Nos rótulos dos produtos, costuma aparecer como “vermelho E120”, “corante carmim” ou simplesmente “corante natural”.
Para se fazer um quilo de corante carmim, são triturados 130 mil insetos (eles são bem pequenos, do tamanho de um pulgão). Com uma regra-de-três simplória, conclui-se que esta receita de bolo red velvet, publicada no New York Times, leva quase 4 mil cochonilhas.
Este não é um post-denúncia.
Não me importo em comer um corante feito à base de insetos. Ele não faz mal algum à saúde. Pode dar sem medo para a criançada.
Além do mais, ingerimos animais pequenos o tempo todo. As formigas que invadem o açúcar, os ácaros do travesseiro, os carunchos escondidos no feijão, as larvas residentes na berinjela que foi ao forno.
A rigor, a dieta vegetariana é algo que não existe na prática. Mas essa é outra discussão.
Usei o caso da cochonilha para ilustrar a falta de atenção que temos com os alimentos que enfiamos goela abaixo. Aposto que muitos de vocês ignoravam o fato de que o picolé de morango é feito com insetos – e, ao tomar conhecimento dele, ficaram com nojinho.
Deveríamos, isto sim, ficar cabreiros com certos aditivos sintéticos que são acrescentados aos alimentos industriais. Conservantes, corantes, estabilizantes, aromatizantes. Na lista de ingredientes, eles aparecem como um código alfanumérico (como o E120 da cochonilha) ou na forma de uma nomenclatura química inacessível para a maioria dos mortais.
O único jeito de saber exatamente o que vai num alimento processado é ler o rótulo antes de comprar. E pesquisar os termos desconhecidos. E evitar produtos com aditivos químicos potencialmente perigosos para a saúde.
Dá trabalho? Ô, se dá. Vou facilitar um pouco a sua vida: aqui está uma lista dos produtos mais usados pela indústria.
De nada.
Erramos: o texto foi alterado
A cochonilha não é um besouro, como afirmavam as primeiras versões do título e do texto. Recebi um puxão de orelha de quem entende do assunto: o entomologista Ricardo Fujihara, professor da Universidade Federal de São Carlos. Ele me escreve o seguinte por e-mail: "Prezado Marcos, como vai? Gostaria de fazer uma correção em sua matéria sobre Dactylopius coccus. Este inseto não é um besouro. Ele pertence à ordem Hemiptera, subordem Sternorrhyncha. Tecnicamente falando, é muito mais próximo de percevejos, cigarrinhas, pulgões etc. do que um besouro, por várias razões que não vêm ao caso. Sugiro então que substitua 'besouro' simplesmente por 'inseto'. Um grande abraço!" Correção feita, professor! Aos demais leitores, peço mil desculpas. Fui falar de gente que come inseto e acabei comendo mosca.