Mata-mata do MasterChef prejudica mulheres
Fui detonado e esculhambado porque, num post do ano passado, critiquei os reality shows de culinária sem ter visto um minuto sequer do MasterChef Brasil. Resolvi então assistir à nova temporada do programa, que estreou nesta terça-feira na Band.
Foi uma experiência dolorosa. Quase duas horas de competição de cozinheiros – 1 hora, 57 minutos e 42 segundos, para ser exato – são tão cansativas quanto um menu-degustação de 33 etapas. O problema está na fórmula que a produção do programa estipulou para o primeiro episódio: uma série de duelos que eliminou metade dos aspirantes em cinco loooongos blocos.
O mata-mata teve um efeito colateral infeliz. Descartou boas cozinheiras e deu suas vagas para homens que tiveram desempenho pífio na prova preliminar.
Ter assistido ao MasterChef não mudou minha opinião sobre esse tipo de show. Penso que a culinária é só a embalagem: o produto é a competição feroz, as intrigas, as trapaças, as explosões que revelam o pior da natureza humana.
O telespectador tem sede de sangue. Ela foi saciada na estreia da quinta temporada do MasterChef: três postulantes ao avental cortaram a própria mão na execução da tarefa, com direito à intervenção dos paramédicos.
O trio de jurados desempenha muito bem os seus papéis. Fogaça é o rottweiler que late, mas não morde; Paola alterna carinho maternal e ironia mordaz; e Jacquin é o dono do show. O francês se comporta como um bufão ensandecido, de humor imprevisível, que desperta risos e temor.
Quanto ao formato do primeiro desafio, ele repete as falhas das tabelas de alguns campeonatos esportivos. O mata-mata é cruel e injusto. Não que isto seja um problema – o MasterChef precisa entregar entretenimento, não justiça.
Quando os dois duelistas mandam muito bem, ainda assim um deles é eliminado. O contrário também vale: quando ambos se mostram bisonhos, a regra do jogo garante a classificação do menos ruim.
Calhou que o esquema prejudicou as mulheres.
Os dois duelos femininos foram de altíssimo nível.
Na prova do frango internacional – pratos étnicos feitos com a ave –, a cabo-verdiana Crisleine venceu pela originalidade de sua galinhada à africana. Sua adversária, a coreano-paraguaia Yulia, também agradou muito com uma sobrecoxa com óleo de gergelim, shoyu e cachaça.
O mesmo aconteceu no duelo do pão de queijo, disputado pelas mineiras Katleen e Anielle. A primeira foi escolhida porque arrancou um “sublime” de Paola Carosella com seu pão de queijo frito; a receita da oponente fez bonito, mas não teve chance.
Em alguns duelos macho x macho, ocorreu o inverso. Todos os pratos apresentados nas provas de sobremesa e de carne vermelha tinham defeitos. Defeitos graves, que resultariam em eliminação se a fórmula fosse outra. Não no mata-mata.
O brasiliense Vinícius passou com uma torta de maçã que desmoronou no prato. Um surrado bife ao molho madeira com massa aos quatro queijos deu a vaga a Carlos. Lá e cá, os antagonistas eram ainda mais fracos.
Como era fraco o coroa gaúcho escolhido para competir com Evandro, o padre fanfarrão, na prova do churrasco. Se eu trabalhasse no MasterChef, faria o mesmo. Quem não quer um padre num reality show? Vale quase tudo pelo entretenimento.
Há quem ache divertido.
Eu só assisto a trabalho.