Ovo com gema mole. Este é o segredo para ganhar curtidas com fotos de comida nas redes sociais.

Não sei o porquê. Só sei que o pessoal pira nos ovos.

Em matéria de popularidade virtual, eles equivalem aos posts com gatinhos. Se a gema estiver escorrendo, aos vídeos de filhotes de gatos brincando entre si.

Eu gosto muito de ovo, embora tenha problemas para digeri-lo. A gema mole é fundamental. Não dá para tolerar gema dura, totalmente cozida, quiçá esverdeada de tanta fervura.

O irônico disso tudo é que a gema mole é proibida em São Paulo e em muitas outras cidades.

Uma vez, em Berlim, pedi um prato de café da manhã que tinha um ovo cozido. Ele veio duro. Como eu não havia feito nenhuma observação sobre o ponto da gema, disse ao garçom que pagaria por outro ovo. Mole, desta vez.

O sujeito franziu o cenho e respondeu teutonicamente:

– Infelizmente não posso. É a lei.

Trata-se de uma medida sanitária. Para eliminar completamente o risco de contaminação por salmonela, a gema deve ser cozida até solidificar.

Na real, o risco de pegar salmonelose com um ovo malpassado é baixo. Todo ovo de galinha é infectado com salmonela, mas a colônia de bactérias precisa estar bombando para vencer as defesas do corpo humano. E isso depende da conjunção de três fatores: falta de higiene, tempo e temperatura.

Caso típico: a maionese de ovos crus que fica dando sopa ao sol numa festa de casamento. Isso mata gente. Nos Estados Unidos, 30 pessoas morrem a cada ano por causa da salmonelose.

Não é tanta gente assim, afinal. Para a felicidade dos fãs do ovo malpassado, o mundo está cheio de gente que topa correr o risco. A maioria das cidades não é Berlim. Cozinheiros ignoram solenemente a regra. E as autoridades fazem vista grossa para o ovo proibidão. É assim na minha cidade, ainda bem.

#freeovodegemamole