O melhor restaurante do mundo
Marcos Nogueira
Um amigo que faz eventos me mandou um cadastro daqueles que pedem até a senha do cartão. Um pingue-pongue estilo Marília Gabriela, com lacunas do tipo “cor predileta”, “raça de cachorro”, “Marcão por Marcão”.
Então me aparece, de supetão: “um restaurante”.
Um restaurante? Só UM? Equivale a perguntar “qual o melhor restaurante do mundo?”. Não há resposta fácil. Melhor: não há resposta, ainda que rankings e listas tentem nos convencer do oposto.
É impossível definir critérios objetivos para apontar o melhor restaurante do mundo, da cidade, do bairro. O lugar de hoje não é o mesmo de amanhã. E porque toda avaliação de restaurante é subjetiva —quando não enviesada ou comprada.
Um crítico sério considera fatores mensuráveis como ponto de cocção, sal, frescor de ingredientes, higiene.
Aí entram quesitos controversos: serviço, porcelana, prataria, harmonia dos elementos do prato. Há quem goste do garçom-sombra, que sabe o seu desejo antes até de você. Acho opressivo. As preferências do crítico são decisivas.
Há ainda o imponderável. Um funcionário que faltou. A briga conjugal que azedou o humor do crítico. Sugiro não perder tempo com a busca do melhor restaurante. O lugar sempre vai frustrar a expectativa sideral.
Mas não desista dos resenhistas gastronômicos. Somos úteis pelo acesso que temos a informações privilegiadas. Só recomendo uma boa dose de ceticismo e uma pitada de cinismo. Sempre há alguém com preferências semelhantes às suas.
Gosto, por exemplo, de experiências informais. De lugares em que meu filho de 5 anos é bem-vindo. Distância e vizinhança contam muito. Um serviço amigável e eficiente, mas não onipresente. Um tanto melhor se puder usar bermuda. Comida feita com rigor, mas sem firulas.
Voltando à pergunta do cadastro, vasculhei a memória em busca do lugar onde gostaria de estar. Veio o Viradas do Largo, mais conhecido como Restaurante de Beth [Beltrão], o maior templo de orgias torrêsmicas e tutúnicas de Tiradentes (MG).
Detalhe: estive lá há 15 anos. Preciso voltar. Nada como uma pauta de 21 de abril para reavivar grandes memórias.