Por que o nome “hambúrguer vegano” deve ser proibido por lei
A França, sempre ela, acaba de sancionar uma lei que proíbe a rotulagem de produtos vegetarianos e veganos com nomes que remetem à carne, como “hambúrguer” ou “linguiça”. O Brasil deveria seguir o exemplo – e não digo isto para espezinhar a comunidade veggie.
O hambúrguer vegano deve ser proibido para proteger o consumidor. Vegetariano ou carnívoro, tanto faz.
A rotulagem de comida sempre foi objeto de embate entre a indústria, que trabalha no limite da lei para introduzir informações capciosas nas embalagens, e as forças reguladoras. Estas são os órgãos de proteção ao consumidor, outros mecanismos estatais e a opinião pública.
Um passeio no supermercado revela alguns absurdos que escapam à lei.
Um produto vendido como “hambúrguer bovino” tem como ingredientes principais carne, água e proteína de soja.
Caso alguém não saiba (1), a lei determina que os ingredientes devem ser listados na embalagem em ordem decrescente de quantidade.
Caso alguém não saiba (2), a dobradinha soja + água é um expediente milenar para reduzir custos. Ambos custam uma merreca. A proteína de soja absorve a água, criando uma massa pesada, sem sabor e com valor nutricional próximo de zero.
Outro disparate: o design escandalosamente enganador de alguns rótulos.
Itens como manteiga e maionese têm similares “light” ou “diet”, dos mesmos fabricantes, que não podem ser vendidos pelo nome do produto original. Assim, uma mercadoria com 50% de margarina tem embalagem de aparência idêntica à da manteiga – apenas essa palavra é omitida. O mesmo com a “maionese” de amido de milho.
O maior problema da atualidade está nos sucos – setor particularmente sensível porque aponta seus canhões para o público infantil.
Recentemente, a indústria de bebidas descobriu que o suco ultra concentrado de maçã tem efeito edulcorante semelhante ao da sacarose – com a enorme vantagem de permitir rótulos com as expressões “sem adição de açúcar” e “100% suco”. E os pais desavisados levam para casa um monte de suco repleto de açúcar. Açúcar de fruta, o que não faz grande diferença.
A situação não é boa, mas já foi muito pior.
Não muito tempo atrás, vendiam-se margarina como manteiga, maisena como maionese e mingau de farinha como requeijão.
Essa é uma guerra que o consumidor está sempre perdendo. Mas algumas batalhas importantes já foram ganhas. Hoje a indústria é obrigada a informar a presença de resíduos alergênicos, por exemplo.
A rotulagem de produtos vegetais como “hambúrguer”, “salsicha” ou “queijo” abre uma brecha legal perigosa.
É meio ridículo pensar que um carnívoro possa comprar um bife de soja por engano. Essas mercadorias têm um posicionamento bem específico, totalmente voltado para o nicho.
A questão se torna problemática porque dá uma oportunidade de ouro às mentes malvadas que se ocupam de ludibriar o consumidor. Se um disco de massa de lentilhas – que não é um hambúrguer, convenhamos – pode ser vendido como hambúrguer, por que não outra porcaria qualquer? O que confere aos vegetarianos, e somente a eles, a prerrogativa de inventar nomes para suas comidas?
Nada.
Se não se apegarem à ideia de apelidar vegetais com palavras carnívoras – uma fixação meio maluquete, mas isso é outro assunto –, os vegetarianos também vão ganhar no longo prazo.