Por uma refeição sem a TV ligada
Uma queixa aos editores deste jornal: o roteiro de restaurantes e bares diz onde tem ar-condicionado, wi-fi, manobrista e até indica as casas que aceitam cachorros, mas não denuncia os estabelecimentos com TV.
A presença de uma televisão ligada no salão é um acinte, um desrespeito às liberdades individuais. Saio para comer uma pizza e sou obrigado a ouvir a voz do Faustão. Vou tomar meu café na padoca e, em qualquer direção que eu olhe –os múltiplos monitores são a metástase desse cancro–, vejo o Louro José.
É ano de Copa do Mundo, indício de que a situação deve se agravar.
O problema começou lá em 2010, com a queda do preço dos aparelhos de tela plana, o mundial da África do Sul e a expectativa da Copa seguinte em território nacional. Em 2014, as casas que ainda não tinham TV se prepararam para transmitir o 7 a 1 com a mais alta tecnologia.
Se os comerciantes se limitassem a ligar a coisa apenas na hora do futebol, teríamos um acordo civilizado. Quem quer assistir ao jogo vai ao boteco; quem não quer vai antes ou depois.
Na mentalidade estreita dessas pessoas, porém, o investimento precisa ser pago. Então as TVs ficam ligadas diuturnamente. Passam a novela. O Datena. O programa matinal de saúde, com o diabo do proctologista que montou uma maquete gigante do intestino grosso – e que calha de ser meu ex-colega de escola.
Quando os clientes preferem conversar, põem “closed caption”. Aquelas legendas em tempo real.
Conversar, por sinal, é uma impossibilidade nesses lugares. Nossos olhos convergem para a tela. O engarrafamento na marginal Tietê mesmeriza.
Costumo ser um sujeito moderado, mas neste caso proponho uma terapia de choque no estilo “Laranja Mecânica”. Fazer os donos de bares e restaurantes assistir a uma maratona de “Domingão do Faustão”.
Quero ver se eles vão ousar ligar a TV de novo.