Restaurante dos Jardins é “italiano internacional”: correto e sem surpresas

É engraçado pensar que, algumas décadas atrás, São Paulo tinha fama nacional pelos restaurantes italianos. Virávamo-nos com o que havia: macarrão de farinha comum, tomates meia-boca, queijos bem aquém do razoável.

Existia uma cultura imigrante que criou uma culinária original, em que pese a falta de ingredientes de qualidade superior. Foi a época das cantinas, da tarantela, das torradinhas de alho, da sardela e dos provolones gigantes pendurados no teto.

Aí veio a globalização, trouxe mercadorias importadas e fulminou nossa ilusão: a cozinha ítalo-paulistana era uma coisa tacanha. Bons mesmo eram a massa de trigo duro, os tomates enlatados, o risoto de arroz arbóreo.

A cidade demorou para assimilar o golpe.

Com o declínio das cantinas, sobrou a a alta culinária italiana. Esta, encastelada em restaurantes inacessíveis aos plebeus –o Fasano é o representante máximo dessa era.

Pouco a pouco, a cozinha italiana retomou parte do espaço que o sushi lhe roubara nos anos difíceis.

Hoje, São Paulo tem bons restaurantes italianos em todas as categorias. Mas algo não foi resgatado dos escombros: a identidade da culinária imigrante.

Come-se aqui uma massa tão boa quanto em Milão, Nova York, Tóquio, Londres, Ibiza ou Jericoacoara. Macarrão é muito simples de se fazer com alguns itens de armazém, receitas clássicas e alguma habilidade na cozinha. O resultado fica sempre um pouco parecido.

Aí está o problema do La Macca, italiano aberto recentemente nos Jardins: a falta de um diferencial que valha os preços cobrados pela casa.

O restaurante (avaliado por mim com duas estrelas no Guia de hoje) trabalha com ingredientes de primeira: azeite extravirgem bom, pinoli de verdade no pesto, guanciale (papada suína curada) na carbonara.

O nome completo do lugar é La Macca – Maccaroneria di Gragnano. O aposto se refere à localidade próxima a Nápoles famosa pela qualidade da massa seca. De lá vêm o espaguete, o penne, o rigatone e outros formatos de pastasciutta.

O cardápio é centrado nos standards. Puttanesca, carpaccio, bolonhesa. Provei o pesto de manjericão e o molho de tomates, ambos muito bons. Meu prato vinha em creme de parmesão com guanciale e abobrinha. Bom, porém um pouco pesado. A massa, sempre na textura correta.

O correto às vezes não basta. Se o La Macca estivesse ao lado da minha casa e praticasse preços camaradas num ambiente informal, eu teria uma mesa cativa.

A questão é que o valor do macarrão oscila de R$ 49 (tomate, manjericão e mussarela de búfala) a R$ 110 (lagosta), numa média de R$ 60-R$ 70.

O almoço executivo é mais atraente: R$ 59 dão direito a uma entrada, um principal, uma água e uma opção entre sobremesa e uma taça de vinho.

Quanto à atmosfera, está nos parâmetros esperados para o corredor Paris 6Ritz Iguatemi. Madames da Casa Santa Luzia, tigrões charuteiros do Esch Café, juventude Lacoste, trilha sonora Amaury Jr. Há quem curta, mas não sou eu.

Comi bem, o serviço é cordial e tudo veio a contento. Mas nada, absolutamente me surpreendeu no La Macca. Assim sendo, prefiro o ambiente da minha casa – onde o macarrão é tão bom quanto o de lá, ouso afirmar.