Blogueiro sofre overdose de coxinha na Barra Funda
Quem acompanha este blog sabe que eu tenho uma certa fixação por coxinhas. Nem eu sei direito a razão, pois raramente me dá vontade de comer uma –acho que é justamente porque comi meia dúzia de coxinhas fantásticas e uma centena de outras qualquer-nota.
Busco sem sucesso, e já faz muito tempo, uma coxinha que se equipare às minhas melhores lembranças.
Assim, quando soube que haveria um FESTIVAL DE COXINHAS no Memorial da América Latina, pertinho da minha casa, achei que poderia avançar bastante na minha pesquisa. Ah, o Memorial fica na Barra Funda (preciso justificar o título do post).
Minha expedição ao festival, acompanhado de uma cinegrafista (vegana, veja só) do TV Folha, tinha duas missões.
A primeira: provar o máximo possível de coxinhas de frango, e frango apenas, na tentativa de encontrar um salgadinho tradicional de respeito.
A segunda missão era explorar os sabores e formatos inusitados de coxinha oferecidos no festival.
Claro que a missão número dois tem muito mais apelo midiático. É isso que o povo quer ver: o sujeito passando perrengue no vídeo ao experimentar algumas comidas, hum, diferentes.
Pelos cálculos que fiz antes de chegar lá, precisaria provar umas 30 coxinhas. Tolinho, eu.
A ideia era dar uma mordida só em cada exemplar. Mas aí me pega de surpresa –eu, um cara do jornalismo impresso– uma peculiaridade do telejornalismo: a primeira tomada nunca está boa o bastante.
Assim, precisei morder repetidamente as coxinhas até satisfazer minha colega cinegrafista. Devo ter traçado umas 12 coxinhas ou 15. Não recomendo. Mesmo. Aliás, me dá azia só em pensar que “recomendo” pode ser interpretado como o gerúndio de “recomer”, “comer de novo”.
Ao ver que a estrada seria pedregosa, desisti das coxinhas tradicionais e foquei no show biz, nas criações criativas dos expositores.
Tinha de tudo: coxinha sem massa (um croquete cônico e nada mais), coxinhas com massas coloridas por vegetais (couve, beterraba, cenoura), hambúrguer entre duas coxinhas de frango com catupiry (!!!!), buquê de coxinhas.
Uma barraca vendia coxinha de mortadela, que eu apelidei de isentão. E vendia também um híbrido de coxinha com churro, chamado “coxurro” (prefixo “cox”) ou “cochurro” (sufixo “churro”).
No cimento escaldante do Memorial, havia também tendas de waffles –monstruosos, cheios de sorvete e confeitos coloridos–, cervejas de mil tipos, hambúrguer e um fascinante mecanismo giratório com dezenas de joelhos de porco.
Tinha ainda um lugar que servia um sanduíche de pernil sem pão: em seu lugar havia dois retângulos de massa de pastel fritos. Mas não era a minha pauta. Ainda bem.
Coincidência (ou não?), a melhor coxinha do dia estava na primeira barraca em que paramos. A Machu Picchu, do peruano Jorge Díaz. Croquetão, sem massa, tempero diferente, úmido, quente por dentro –uma das maiores decepções coxinhísticas é o miolo gelado.
Mas vamos combinar que o ser humano tem um limite bem estreito para a ingestão de coxinhas.
Eu planejava tomar uma cerveja no lugar depois do trabalho. Nem cogitei a hipótese ao fim da gravação.
Tomei foi um sal de fruta. Recurso de comédia pastelão para o vídeo, é claro. Mas, que caiu bem, caiu.