Cardápio infantil não precisa ser infantiloide
Sou pai de dois.
A filha mais velha está encaminhada, já virou uma jornalista (apesar das minhas tentativas de dissuadi-la) bem mais séria do que eu.
O caçula tem 5 anos. Está naquela fase em que as influências externas podem consolidar manias alimentares sem nenhum sentido lógico. Minha obrigação de pai é lutar contra essas forças do mal.
Sei o caminho. Simplesmente faço o oposto daquilo que meus pais fizeram comigo. Ofereço de tudo e não cedo às birras do moleque.
Deu certo com a Angela e está dando certo com o Pedro. As respectivas mães têm responsabilidade igual ou maior pelo sucesso da tática –não vou me alongar demais aqui, eu sou o autor do texto e não quero estragar meu próprio argumento.
Enfim…
O mundo não colabora demais com esse esforço de educação alimentar. Veja, como exemplo, os menus infantis dos restaurantes.
Tudo bem que os restaurantes não têm nenhum compromisso pedagógico com nossas crianças. Mas não precisavam exagerar.
Os cardápios infantis são um monumento à preguiça intelectual.
Hamburguinho, massinha, filezinho, franguinho, peixinho, batatinha, arroz. Não sai disso. Não importa a categoria e a especialidade da casa.
Estive nos EUA com o Pedro e encontrei a mesma coisa, só que em inglês: chicken fingers, mac’n’cheese e por aí vai. Não que a gringaiada prime pela alimentação equilibrada… apenas que lá existem trocentas leis para controlar o que é servido nos restaurantes. Restrições ao sódio e ao açúcar, proibição de gordura trans, alertas aqui e ali. Ainda assim, ninguém dá palpite no menu infantil infantiloide.
Sei bem que essa oferta pífia atende à demanda da clientela. Tudo o que 90% dos pais desejam no restaurante é um filho silencioso, estático, distraído com o tablet e com um prato de macarrão mole e filé bem-passado.
É fácil satisfazer os 10% restantes sem deixar a maioria ignara na mão: basta oferecer porções reduzidas dos pratos do menu adulto.
Quando levo meu filho a um restaurante de cozinha criativa, quero apresentar-lhe essa comida –não dar espaguete ao sugo para o pirralho. Quero fazê-lo sem pagar o preço cheio de uma refeição de adulto, porque a peste ainda não encara um pratão.
A solução precária que eu e minha mulher encontramos foi: caprichar nas entradas e dividir nossa comida com o pivete. Por enquanto tem funcionado. Em breve, ele estará comendo por nós dois.