Restaurante no topo de arranha-céu é bom para brincar de turista

“Só o cume fascina”, diz uma piadinha escatológica em que a frase é atribuída a um montanhista.

É fato que nossa espécie, por alguma programação ancestral do sistema límbico, adora lugares altos. O topo, de onde se pode avistar o território da ralé terrestre.

Assim, mirantes viram atrações turísticas. Empire State. Corcovado. London Eye.

Alguns desses pontos têm restaurantes. A torre Eiffel abriga o Jules Verne, de Alain Ducasse. Prédios nem tão altos assim alugam o último andar por pequenas fortunas, prontamente repassadas ao cliente da casa. É a vida.

São lugares para turistas. Raramente frequentadas por nativos, pois a fatura não corresponde à qualidade entregue.

Mas o segmento de restaurantes turísticos não é tão uniforme quanto possa parecer.

Os mais descarados assumem a alcunha de arapucas turísticas. Aquele lugar caro, sujo, com serviço rude e comida ruim –porém com localização excelente.

Choperias na Avenida Atlântica, por exemplo.

“Dane-se que o café custa oito euros, estou na Piazza Navona.”

Outros lugares se esforçam para atender bem a clientela –embora a continha nunca deixe de ser a dolorosa.

É o caso do Seen, no vigésimo-terceiro andar do Hotel Tivoli Mofarrej.

Relaxe e curta a vista. Você será esfolado(a). Dói menos se você aceitar.

Também, o sujeito ao seu lado no bar é um príncipe saudita que compra single malt pela garrafa.

O topo do Mofarrej, até recentemente, era ocupado pelo restaurante de alta cozinha espanhola Arola Vintetres. Um lugar sisudo e pretensioso. Na única vez em que lá estive como pessoa física, pedi uma água mineral: trouxeram-me Acqua Panna. Ao recusar a garrafa, ouvi que deveria ter paciência. Só o bar do térreo tinha água não-importada. Ah, VTNC.

O Seen quebra a sisudez com um bar retangular instalado bem no centro do ambiente, operado por uma equipe bem-treinada para tratar a freguesia com informalidade.

O bar atrai os hóspedes do hotel –gente de vários países que pode ter contas bancárias de dez dígitos, mas sai do quarto de chinelo para tomar uma dose.

Por 36 mangos, você toma o instigante Martini Seen, em que o gim é aromatizado –e dá-lhe aroma– com pimenta-de-cheiro.

Tem comida, também. Para petiscar, rolinhos de linguiça caseira com massa folhada, saborosíssimos.

Desacompanhado, escolhi jantar –o Seen funciona somente à noite durante a semana– um hambúrguer no balcão. Justo, exceto pelos 58 reais que me custou.

Só que a vida é assim (acho que alguém já disse isso).

No Seen, você bebe bem, come razoavelmente bem e deixa muitos tostões na saída. A música de balada irrita, assim como os grupos de playboys alto-falantes. O saldo é positivo, pois a vista é linda e todos ao seu redor parecem estar se divertindo.

Por que não você? Pode ser legal bancar o turista na própria cidade.

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No Guia desta sexta-feira (18/5) avaliei o Seen com três estrelas (bom)