Tempero de churrasco pode ir além do sal grosso
Já li e vi mil reportagens que ensinam a fazer o churrasco perfeito – escrevi um par delas também, mas é outro assunto.
Quando uma dessas aparece na minha frente, fico só à espera do momento em que o especialista consultado assume pose de sábio e sentencia: “O único tempero do churrasco é o sal grosso”.
Quem disse? E por quê?
A justificativa de tão radical imposição se baseia numa falácia retórica. Ervas e condimentos, dizem, interferem no sabor da carne bovina.
Evidente que interferem. É para isso que existe o tempero. Ele interfere também no sabor de todos os demais alimentos. O sal, aliás, conspurca a pureza da carne à sua maneira.
O argumento capenga não avança em uma questão crucial: por que se pode temperar tudo, menos picanha, costela et caterva?
Por que a linguiça vem com alho e provolone? Por que a asinha de frango ficou marinando de véspera? Por que aquele molho doce e enjoativo na costela de porco?
E, com mil trovões, por que usar apenas sal naquilo que se vai comer com molho vinagrete?
A treta é cultural, como quase todas as tretas gastronômicas e além.
O churrasco brasileiro é coisa de vaqueiro –imagino que seja assim em muitas partes do mundo. Boiadeiro não carrega um farnel com tomilho, louro, alecrim, pimenta-do-reino e azeite extravirgem.
Comida de vaqueiro leva o mesmo sal que ele dá para as vacas.
Quando a carne é ótima, fica ótima grelhada no sal grosso. Vale para porco, para cordeiro, para peixe.
Mas não existe nenhuma lei divina que nos obrigue a temperar a carne assim. Cozinhar é misturar e desenvolver novos sabores.
Moral da história: dê uma banana para os sabichões. A tradição, muito importante na cozinha, vira um estorvo quando bitola nossas mentalidades.
Confie no seu taco e experimente. Tempere o churrasco como bem entender.