Saber cozinhar é uma vantagem evolutiva

Caos. Desolação. Guerra civil. A julgar pela gritaria nas redes sociais, o país está a caminho do armagedon.
Num cenário assim crítico, quem sabe cozinhar tem mais chances de sobreviver. Porque cozinheiros são indispensáveis em qualquer situação, inclusive na guerra. Prisioneiros com dotes culinários têm tratamento diferenciado.
Não chegaremos a tanto, presumo. Espero. Tracemos, portanto, prognóstico ligeiramente mais benigno. Desabastecimento geral.
Sem combustível para motos, suspendem-se as entregas de pizza. Restaurantes fecham por falta de funcionários. Nos mercados, o estoque de lasanha congelada desaparece em um átimo. Por fim, acabam todas as bolachas água e sal. Nas gôndolas, sobram só as latas de salsicha vegetal.
Será preciso se virar com um punhado de arroz e verduras murchas. Coisas sem valor para os analfabetos do fogão. Nas mãos de quem sabe cozinhar, pode ser a chave da sobrevivência.
Estou exagerando, é óbvio. A situação deve voltar ao normal —seja isso o que for— em questão de dias. Usei as alegorias para frisar a importância de saber cozinhar. Mais que um dom, é uma vantagem evolutiva.
Somos autossuficientes. Melhor ainda, somos capazes de comer exatamente aquilo que desejamos —já que nós mesmos preparamos a comida.
Nas festas familiares, quem cozinha está isento de ouvir o papo da sala, onde está o tio reaça que já tomou oito taças de lambrusco. Nos churrascos, quem controla o fogo tem o poder de saciar os convidados com linguiça e coraçãozinho —e guardar a picanha para ele(a) próprio(a) comer no final.
Saber cozinhar é ferramenta útil no acasalamento. Aquele negócio de “pegar pelo estômago” funciona. Vale para homens, mulheres, cis, trans, homo, hétero e o que houver no balaio.
Por último, mas não menos importante: cozinhar costuma ser salvo-conduto, que exime o portador da tarefa de lavar louça. Aqui em casa não funciona assim, mas ouvi dizer que é o padrão.
Pense nisso. Aprenda a cozinha antes que o mundo acabe.