Por um Brasil com menos requeijão
O brasileiro tem uma tara inexplicável por requeijão cremoso, em especial aquela marca cujo nome começa com “catu” e termina com “piry”.
Põem-no na pizza, na borda da pizza, no pão de batata, no pão na chapa, no quibe, na esfiha, na lasanha e, se der bobeira, até no sushi. Virou ingrediente fixo nas receitas de coxinha –um contraponto ao peito de frango saariano do recheio.
Por que, meu povo, por quê?
O requeijão, em sua origem, era um subproduto do leite desnatado para a fabricação de manteiga. Tornou-se um grande negócio. A receita padrão leva sólidos de leite (em jargão técnico, massa coalhada), creme de leite, sal e aditivos.
Até alguns anos atrás, o setor de laticínios, vendia uma pasta engrossada com amido sob o nome de requeijão. A legislação mudou para acabar com a farra.
O requeijão, assim com seu primo cream cheese, é uma isca irresistível para paladares infantis –mesmo aqueles que habitam corpos adultos.
De textura aveludada e paladar quase neutro, torna tragável quase qualquer porcaria. É por isso que o requeijão tem tanto moral no ramo dos salgadinhos de terminal rodoviário.
Não sou totalmente avesso ao requeijão. Ele cai bem em algumas preparações, quando usado com algum discernimento. O bolinho frito de camarão com requeijão do bar Bracarense, do Rio, é de comer rezando. Gosto também da esfiha de frango com requeijão da pastelaria Yokoyama, no Cambuci. Ou gostava. É uma lembrança nostálgica da adolescência.
Em doces, com goiabada, também pode combinar.
Mas há poucas surpresas gastronômicas tão desagradáveis quanto pedir um pedaço de pizza na padaria e descobrir que a borda está cheia de requeijão.
O problema do requeijão, do cream cheese, do queijo fundido, da matéria pastosa sabor cheddar é: como quase todos os adoram, acham que podem acrescentá-los sem avisar o cliente. Em quantidades colossais.
Esses subqueijos roubam todo o sabor da comida, que se transforma em uma maçaroca enjoativa.
Menos, minha gente. Vamos fazer um Brasil com menos requeijão na comida.