Restaurante da Chapada Diamantina em SP peca pelo tempero suave demais

A Casa de Ieda tem quase tudo o que eu aprecio em um restaurante. É informal, porém não tosca. Aborda uma culinária original e desconhecida da maioria dos paulistanos: a comida da Chapada Diamantina, no interior da Bahia, de onde vêm a dona e boa parte da equipe. Fica em um bairro que eu acho simpático –a várzea de Pinheiros, também conhecida como Baixo Batata (mentira, esse nome é invenção minha).

Eu adoraria recomendar o lugar. Se eu estivesse escrevendo para os meus amigos, diria: “Vão lá, é barato, tem cerveja gelada e umas cachaças diferentes”.

A coisa é que escrevo para o maior jornal do país, então preciso adotar alguns critérios técnicos. Detalhes que me fazem soar antipático. Ser antipático. Ainda mais depois que os perfis de Instagram da Casa de Ieda curtiram e compartilharam minhas publicações.

Mas é a vida. Não é mole ser o crítico gastronômico mais picareta deste país.

A Casa de Ieda tem alguns problemas estruturais sérios.

O serviço, apesar de simpaticíssimo e esforçado, é insuficiente e despreparado. Há poucos braços para atender a demanda de um almoço de sábado. Serve “cerveja de garrafa” –em cascos de 600 mililitros–, mas não dispõe de “camisinhas” (capas térmicas) nem baldes de gelo.

O ambiente interno, sem janelas, comporta pouquíssimas mesas, o que empurra a clientela para a rua. Sentei em uma mesa na calçada, ao lado de um pé de ora-pró-nobis que Ieda de Matos usa em suas receitas.

Idílico, não fosse a localização do restaurante: uma esquina na área do largo da Batata pouco arborizada, em que passa um ônibus a cada dois minutos. O bairro é legal; o ponto é um tanto inóspito.

Relevaria tudo se a comida fosse sensa. Só que não é. Digo isso com dor no coração, pois fui muito bem recebido.

O cardápio, bastante sucinto (são dois petiscos, quatro principais e uma sobremesa), promete.

Nunca fui à Chapada Diamantina. É uma região montanhosa e verdejante no meio do sertão, cujo nome já indica que foi ocupada por garimpeiros. É também uma área muito extensa, que exige caminhadas sofridas para a visita de suas belezas naturais. Por isso nunca fui. Fonte: Wikipédia. Brincadeira.

Como em quase todo o miolo do Brasil, a alimentação da Chapada se calca na carne salgada, no arroz, no feijão e na farinha de mandioca.

Os petiscos, frituras de pirão de queijo e de tapioca, agradam muito.

Os principais decepcionam. Provei duas das três opções: ficou de fora apenas a roupa velha, feita com carne-de-sol desfiada.

O baião-de-dois leva arroz vermelho, feijão-fradinho, queijo de coalho e carne-de-sol. O godó de banana verde, grande promessa do cardápio, tem base de arroz e um guisado de banana, tomate e carne-de-sol.

Em ambos, falta tempero. O sabor é por demais delicado. Sobra arroz e falta carne –não sei se isso é uma demanda urbana demais, mas penso que comida de garimpeiro deveria ser adaptada de alguma forma para atender aos hipsters de Pinheiros. Quero dizer, além dos brotos de beterraba que enfeitam as refeições servidas em marmitas esmaltadas.

Se você não consegue imaginar o gosto do guisado de banana verde, mato sua curiosidade: neste estágio de maturação, ela ainda não é doce… funciona como a batata ou a mandioca. Amido.

Quanto à sobremesa, que não comi, o folclore: ela se chama punhetinha. Um bolinho frito de tapioca que pode vir molhado (com açúcar e canela) ou seco (puro).

A única sobremesa disponível na Casa de Ieda (foto: Marcos Nogueira)

Piada sem graça, mas irresistível para o meu nível de debilidade mental.

Enfim, eu recomendo a Casa de Ieda para quem não se incomode com todos os senões listados acima.

Eu mesmo voltaria. Devo ser persona non grata lá agora, temo. É a vida.

Minha avaliação da Casa de Ieda para o Guia Folha: duas estrelas (regular)