Bourdain matou o tédio na crônica de gastronomia

A crônica de gastronomia era um aborrecimento sem fim até o ano 2000, quando Anthony Bourdain publicou “Cozinha Confidencial”, seu primeiro livro.

Pouquíssimos foram os que conheceram o Tony cozinheiro. Dizem, inclusive, que o cara era bem medíocre. Naquele ano, entretanto, nascia o mais talentoso escritor especializado em comida que o mundo já conhecera. Isso não é exagero.

Bourdain foi o primeiro autor a despir o assunto de suas pompas corporativas e penduricalhos inúteis.

Quando “Cozinha Confidencial” saiu, as críticas davam conta de que o livro entregava segredos inconfessáveis dos bastidores dos restaurantes. Pura balela, puro marketing dos editores e do próprio Tony.

O encanto do livro estava no estilo, no humor cáustico e na força das imagens que Bourdain criava com as palavras. O leitor arguto era capaz de identificar a melancolia disfarçada de fanfarronice grosseira.

Coincidentemente, 2000 também foi o ano em que comecei a escrever sobre culinária. Gostava de cozinhar e de comer, mas nunca havia “frequentado o meio”. Não gostei nem um pouco do que vim a conhecer.

Graças a Bourdain, tive ânimo para continuar. Havia esperança além da soberba reinante no ambiente da gastronomia.

Sou um sujeito besta que adora se declarar cético e rejeitar ídolos. Mas Bourdain, cara, era o cara.

Não conte para ninguém, mas eu sonhava em conhecê-lo numa de suas viagens ao Brasil.

Não vai rolar.