Pizza de São Paulo já não é referência nacional
Paulistano é um bicho chato, pensa que é o melhor em tudo. Se você não nasceu nesta cidade e quer discutir pizza com um de nós, melhor nem começar. O paulistano não admite que possa haver pizza tão boa ou melhor que a de São Paulo. Em nenhum lugar do mundo. Do Brasil, então…
Venho falar de pizza porque hoje (10/7) se “comemora” um certo Dia da Pizza. Detesto esse tipo de data. É só um pretexto para vendedores venderem e jornalistas terem assunto. Mas, como o assunto é pizza –e pizza muito me interessa–, resolvi embarcar este ano.
São Paulo sempre teve a reputação de fazer a melhor pizza do Brasil. Era verdade e ainda é. A cidade criou uma tradição própria em torno da pizza. Tinha os imigrantes e o cenário urbano que favorece esse tipo de comida rápida e barata.
Até os anos 1980, o Brasil era encapsulado em uma redoma e se alimentava das próprias ideias. O intercâmbio de informação com outros países era complicado e demorado. Assim, o parâmetro de comparação da comida paulistana (e da pizza em particular) eram o Rio de Janeiro, Salvador, Goiânia, Governador Valadares. Na pizza, era muito fácil ganhar de lugares assim. Em qualquer lugar do Brasil, a melhor pizzaria era aquela aberta por um expatriado paulista.
Acontece que o mundo mudou muito desde então. Informação é a coisa mais fácil de se conseguir. Se antes o menino de Santarém precisava da ajuda de um paulista para fazer pizza, hoje ele pode assistir a incontáveis tutoriais de mestres pizzaiolos no mundo inteiro.
A pizza paulistana deixou de ser referência. E isso é bom.
É bom porque a informação abundante elevou o nível da pizza em outras cidades brasileiras.
Também é bom porque, aos poucos, vai fazendo o paulistano descer das tamancas.
Duas décadas atrás, qualquer estilo de pizza que não fosse da Mooca ou do Bixiga era repudiado e repelido em São Paulo. Agora temos a pizza napolitana verdadeira –não mais aquele tijolo de massa que o Micheluccio fazia. Deixamos de bobagem e comemos pizza no almoço. As tradicionais, como Castelões, Monte Verde, Camelo e Speranza, sobrevivem.
Mais variedade é sempre melhor. Mesmo quando a gente é obrigada a admitir que hoje se faz pizza decente no Rio.