O Doutor Bumbum e os foodies do Instagram

Marcos Nogueira

Que raios o Doutor Bumbum tem a ver com gastronomia?

O médico Denis Cesar Barros Furtado é um espécime do tal influenciador digital. Tinha 647 mil seguidores no Instagram. Conseguia clientes por ser “bombado” nas redes sociais, onde a mentira tem pernas longas.

E o universo da gastronomia está coalhado de influenciadores digitais. Gente que é famosa porque é popular e vice-versa. E as manadas os seguem. Uns poucos até trabalham direitinho, mas o grosso dessa gente é uma massa de picaretas. Nenhum deles representa risco de morte, como el Doctor Culo. A informação compartilhada em seus perfis, porém, tem valor nulo.

O foodie das redes sociais se vende por um pote de maionese. Por um rodízio de sushi. Quando ganha alguma popularidade, passa a receber em casa eletrodomésticos, panelas caras, convites para viagens. Elogia tudo, do salgadinho podreira ao fabricante da batedeira milionária.

Ele nunca, em hipótese alguma, informa o seguidor de que seus posts são publicidade. Pelo contrário, esforça-se ao máximo para parecer que é realmente fã do produto anunciado. Isso faz parte da infame “parceria”, o acordo entre o influenciador e as marcas. Para elas, é fundamental que esses anúncios tenham a aparência de opinião desinteressada.

Para confundir com  jornalismo, talvez?

Existem maus jornalistas aos montes, inclusive aqueles que vendem a alma por uma garrafa de catuaba. Mas o jornalismo e o feed do Instagram são ecossistemas muito distintos.

Um jornalista é treinado para reconhecer e respeitar parâmetros éticos. Aquilo que se chama, nas redações, de separação entre Igreja e Estado. Em outras palavras, não vender publicidade como se fosse notícia. Esse é o pior pecado do nosso meio.

Os influenciadores atropelam essa regra porque a desconhecem. As redes sociais são Velho Oeste da comunicação. Terra sem lei. Take the money and run.

O mesmo faroeste que o Doutor Bumbum habitava antes de ser transferido para uma cela.