O abacate dos hipsters causa desastre ambiental e financia o narcotráfico
Por algum motivo que escapa à minha compreensão, o abacate se tornou objeto de desejo dos hipsters do mundo inteiro – de Portland à rua dos Pinheiros.
Caso você habite uma bolha diferente da minha, uma certa avocado toast (torrada com abacate) passou a integrar a cesta básica de todo mundo que é descolex, modernex e prafrentex.
Nada contra a comida em si. Só acho meio sem graça.
A tara pelo abacate acarretou um enorme impacto ambiental, econômico e social nos países produtores. O irônico disso tudo é que os responsáveis pela demanda descomunal são justamente os vegetarianos, veganos, consumidores “conscientes”, defensores das causas justas e que não hesitam em enfiar o dedo na fuça dos alienados ambientais.
Sem entrar nas tecnicidades botânicas, acontece o seguinte: o abacateiro é uma planta que precisa de muita água para frutificar. Dois mil litros para cada quilo de fruta da variedade avocado – “abacate” em inglês e o nome adotado aqui para o abacate pequeno e de casca rugosa.
As plantações gigantescas que abastecem mercados como os EUA e o Reino Unido provocaram colapso hídrico nas comunidades ao seu redor.
Na região chilena de Petorca, a seca é resultado de canais de irrigação e poços ilegais cavados pelos agricultores, segundo esta reportagem do jornal inglês “The Independent”.
De acordo com este texto do (também jornal, também inglês) The Guardian, a exportação do abacate causou a escassez da fruta no Quênia, na Austrália e no México. Escasso significa caro – para algumas populações da África e da América Latina, caro significa inacessível.
No México, o comércio de abacate se tornou tão lucrativo que foi sequestrado pelos cartéis do narcotráfico. Aquela gente simpática que espalha corpos esquartejados pelo passeio público.
“Ah, mas o abacate que eu compro é produzido no Brasil.” Verdade. Também é verdade que você só entrou nessa onda por causa das tendências (trends?) internacionais. Ou seja, chancela toda a lambança.