Na churrascaria rodízio, o cliente sempre perde
Almocei em uma churrascaria rodízio, coisa que eu não fazia há muito tempo. Lembrei-me por que eu passo anos a fio sem colocar os pés nesse tipo de restaurante.
Não vou dizer onde foi para não parecer injusto. A rigor, foi tudo ótimo. A casa, uma das melhores do país, merece a fama que tem. Boas carnes, serviço idem. O problema é o esquema em si.
Toda vez que eu vou a um rodízio, como até o limite de passar mal. Admito que boa parte da culpa é minha. Não tenho maturidade para encarar a oferta ilimitada de alimentos. Tampouco tenho os 16 anos da época em que ia com os colegas de escola ao rodízio de pizza do Grupo Sergio, com o deliberado propósito de quebrar a banca.
Aí mora o truque do rodízio: ao fixar um preço (alto) para o consumo desenfreado, ele faz uma aposta com o cliente. Se você quiser ganhar (ou pelo menos empatar), precisará se empanturrar.
Assim como ocorre com os cassinos, a aposta dos rodízios de comida é calculada. O risco para a banca é zero. Consta nos cálculos do restaurante uma parcela de indivíduos sem juízo (como os adolescentes) ou compulsivos (como eu) que podem se aproximar de uma relação custo-benefício boa na refeição.
A maior parte das pessoas, no entanto, desencana da aposta rapidamente. E a churrascaria (japonês, pizzaria etc.) lucra.
Tudo é feito para cansar rapidamente o consumidor. Já na espera, ele é bombardeado com pão de queijo, pastel, polenta frita. O serviço de carnes não começa antes que os ocupantes da mesa estejam servidos do bufê de saladas – sempre muito farto, variado e tentador.
Quando baixa a blitzkrieg de espetos, a artilharia ataca com frango, coração do dito-cujo, linguiça, pão de alho, queijo de coalho, mussarela bolinha, cupim. Outra falange de garçons cobre a mesa com arroz-de-carreteiro, batata frita, banana à milanesa, cebola à doré e, nas batalhas mais sangrentas, até feijão.
Tudo tão gostoso quanto barato. E rápido. Já atiçados pela caipirinha e pelos petiscos do bar, os comensais devoram tudo até se saciar. Então a brigada da picanha desfila lenta e calmamente.
Comigo não funciona, mas eu sou um caso excepcional. Percebo a asneira que fiz algumas horas depois, quando a azia chega impiedosa.
Perde dinheiro quem se entope de asinha de frango. Eu equilibro a grana, mas também perco: comer demais é uma estupidez. Ganharia quem usasse o cérebro racional para manter tudo sob controle – comedimento nas preliminares e paciência com o vagaroso serviço das carnes nobre. Esses até existem, mas são muito raros.
Na churrascaria rodízio, o cliente sempre perde. Perde o dinheiro ou perde a dignidade. Ou ambos, como sói acontecer nos rodízios baratos – e ruins.
Assim, como nos cassinos, existem os viciados no jogo. Os que adoram o esquema. Eu me incluo fora desse grupo.