Mortandela com chucrute faz a cabeça dos italianos

Você não leu errado. Este texto não é sobre mortadela. É sobre mortandela, mesmo.

Vou falar da mortandela –raios!, o meu corretor ortográfico não aceita essa palavra– como um exemplo da precariedade das nossas certezas.

Conheci a mortandela outro dia, pelas redes sociais. Um amigo fez um post bobo sobre palavras que as pessoas pronunciam errado: cocrete, vrido, sombrancelha.

Aí outro amigo comentou: mortandela. Foi quando um terceiro amigo, italiano residente em São Paulo, entrou na conversa. Ele postou um link da Wikipedia (em italiano, scusami) que descrevia a tal da mortandela. Ela não só existe como está listada na Arca do Gosto do Projeto Slow Food, um catálogo de iguarias raras.

A mortandela é uma carne curada e defumada da região Trentino-Alto Ádige, no norte da Itália. Ela não pode ser chamada de embutido porque não vem ensacada em tripa ou outra membrana.

Como se pode perceber pela foto, ele se parece com uma almôndega achatada ou um salame. É feita com carnes de porco como a copa e o pernil – mais raramente, entram pulmão e coração.

Os habitantes do Trentino comem a mortandela na sopa de cevada ou com chucrute. Explica-se: a região é fronteiriça com a Áustria. A cultura germânica se mistura com os costumes italianos mais conhecidos.

Apesar de serem dois alimentos à base de carne de porco, a montandela e a mortadela não têm parentesco entre si. Até as palavras têm origens distintas. “Mortadela” vem de murta, uma planta que era usada para temperar o embutido. Já “mortandela” deriva de mortaio –morteiro ou pilão–, instrumento usado para triturar a carne.