7 lições para criar uma criança chata à mesa

Eu fui uma criança chata para comer. Em determinada fase da infância, eu podia contar nos dedos os alimentos da minha dieta: arroz, feijão, frango, macarrão com molho de tomate, pizza de mussarela, chocolate e não muito mais.
O medo da exclusão social me fez ampliar o horizonte alimentar. Aos poucos, fui percebendo que é muito mais fácil viver com menos restrições à mesa. Minha limitação foi, aos poucos, se transformando em curiosidade.
Depois tive filhos.
Não quis repetir os erros de meus pais –não os amo menos por isso, mas eles mandaram bem mal na minha educação alimentar–, pois eu sei o que passei como um moleque fresco à mesa. Se os pais sofrem com a chatice da criança, a criança chata sofre mais ainda.
É um sofrimento fútil e desnecessário, o que acrescenta uma carga de culpa. E essa culpa aumenta um pouco mais o sofrimento. Não se deve tratar o assunto com leviandade.
Minha filha adulta come de tudo –menos queijo queimado, vá entender. Pedro, de 6 anos, está num momento decisivo. Nunca teve restrições antes. Ele simplesmente adora brócolis. Mexilhões também.
Agora o Pedro está sendo bombardeado por estímulos externos e pela necessidade de autoafirmação. Espero que atravesse essa fase da forma mais suave possível… se é que qualquer suavidade é possível no crescimento.
Sempre tive de lidar com a questão das restrições alimentares, por isso acho que tenho alguma autoridade para falar do assunto. Optei por abordar as atitudes erradas por uma simples constatação: eu não tenho uma fórmula que funcione em todos os casos. Duvido que alguém a tenha. Espero, sinceramente, que o meu relato tenha alguma utilidade.
- Ceder aos caprichos da criança
Esse foi o maior erro da minha mãe. Lá em casa, cada filho tinha um capricho, e esse capricho era atendido prontamente. Houve um tempo em que as refeições em família eram surreais: um não queria cebola, outro torcia o nariz para a salsinha… E minha mãe preparava uma versão diferente do mesmo prato para cada rebento.
Adotei a política do “é o que temos para hoje”. A criança come o mesmo que os pais. Se reclamar, pode optar por não comer –uma hora a fome vai falar mais alto.
Tem funcionado.
- Ignorar esses caprichos
Quando a recusa se torna persistente, dar murro em ponta de faca não resolve. É mais esperto dar uma de detetive para descobrir a raiz da implicância.
Foi o que a minha mulher me ensinou quando o Pedro começou a dizer que tinha nojo de frango. Com o jeitinho que eu não tenho, ela conversou com o cara: soube que toda a turma da classe dele ficou muito impressionada com uma aula em que um frango foi eviscerado, desmembrado e cozido.
Com o tato que também me falta, ela convenceu o rapaz a comer o frango que estava no prato.
- Dar mau exemplo
Taí algo que eu tenho dificuldade para não fazer. Eu adoro comida gorda, calórica, sem fibras, pouco saudável. Não deveria adotar esse estilo de vida em casa. A culpa me consome, mas eu não consigo evitar.
- Servir só aquilo que você gosta de comer
Meus pais detestavam miúdos. Fígado, moela, dobradinha e entranhas afins nunca frequentaram a mesa lá em casa. Eu ainda tenho dificuldade enorme para comer esses alimentos. A questão é: quanto mais velha a pessoa, mais consolidadas as suas preferências e idiossincrasias. É de pequenino que se torce o pepino.
- Servir refeições especiais
Fazer um cardápio à parte para os pequenos é pedir para que eles desenvolvam restrições alimentares. É por isso que eu tenho um bode atroz do chamado “menu kids” – já desenvolvi o assunto num post anterior. Sirva o mesmo tipo de comida que está no seu prato… desde que você tente comer como um adulto, combinado? Ou você quer um filho que só coma hambúrguer e batata frita?
- Deixar-se seduzir pela publicidade
Outro dia o Pedro e um amiguinho torraram o pacová para que nós os levássemos a um fast-food no shopping. Estávamos cedendo quando soubemos que a motivação dos dois não era a comida, mas o brinquedo colorido que vinha de brinde. Não sugiro um isolamento total da sociedade de consumo, apenas bom senso para não transformar a criança numa usina de processamento de comida lixo.
- Tratar a criança como imbecil
“Ah, ele não vai gostar de almeirão.” “Imagina… isso é comida de adulto.” Reforçar a noção de que a criança é imatura para provar este ou aquele alimento inibe a curiosidade. Dê coisas amargas, ácidas e picantes. Mostre que a experiência é divertida, que o elemento novo só é estranho até se tornar familiar. Cercar os filhos de cuidado excessivo para mantê-lo numa zona de segurança vai resultar em adultos com paladar infantil.