Tapioca, nutella e mais 10 comidas meia-boca que as pessoas amam de paixão
- Tapioca
Amo o Nordeste e a comida nordestina, mas não consigo entender o auê em torno da tapioca. Fui apresentado a ela umas duas décadas atrás, quando a tapioca ainda era uma iguaria exótica para os nativos do Sudeste.
Em Jericoacoara, na pousada de um argentino, tinha tapioca no café da manhã. Era bom porque tinha um pote de doce de leite argentino ao lado.
Tapioca tem o gosto do recheio que você coloca nela. A massa, em si, parece uma bala de goma sem sabor. É goma sem sabor.
E convenhamos: a falta que um pouquinho de glúten faz…
- Nutella
Os dois ingredientes principais do creme de avelã e chocolate são açúcar e óleo vegetal. Precisa dizer mais?
- Burrata
É pesada e enjoativa. Minha argumentação longa está aqui.
- Azeite trufado
Trufas são raras e caras. Como satisfazer a enorme demanda por elas? Com uma imitação xexelenta. Se você comprar um prato de qualquer coisa trufada sem pagar uma fortuna, ele é feito com óleo aromatizado artificialmente.
Não é possível extrair o aroma natural da trufa branca, a mais valiosa e cobiçada. Assim, os perfumistas entram em ação.
O óleo trufado é feito com uma base de azeite de oliva ou óleo de semente de uva, mais substâncias sintetizadas em laboratório. Em especial o 2,4-ditiapentano – uma molécula que contém enxofre. Eis a origem do cheiro nauseabundo do óleo.
- Sal rosa
Pura empulhação. Leia mais aqui.
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- Cheddar
O cheddar é o queijo mais querido pelos ingleses. Lá, ele é feito como se deve: é um queijo de sabor forte e marcante, que pode ser maturado por um período muito longo. Os exemplares mais velhos adquirem um tom amarelo-alaranjado.
A tradição viajou para quase todos os países de língua inglesa, inclusive os EUA. Lá, alguns produtores passaram a usar urucum para tingir queijos jovens, dando-lhes a aparência laranja que a clientela preferia. Depois, inventaram-se o queijo processado e a pasta, ambos de coloração berrante, que mantiveram a denominação genérica “cheddar”.
São esses subprodutos de qualidade sofrível que chegou às redes de fast-food. É isso que o brasileiro consome, uma gosma tipo requeijão cheia de corantes e aromatizantes. Só chega ao país uma marca inglesa de queijo cheddar legítimo.
Uma curiosidade: na Grã-Bretanha, o cheddar é quase sempre de um amarelo bem clarinho. Laranja é outro queijo, o red leicester. O produtor que exporta para o Brasil tinge os lotes que vêm para cá – se não o fizesse, ninguém iria acreditar que é cheddar. Pode conferir no site do cara.
- Leite em pó
Meu pai, um visionário, um dia inventou de comer morangos “empanados” com leite em pó. Se você levar em conta outras criações culinárias dele –a banana assada no micro-ondas e o molho de morango para o macarrão, por exemplo– perceberá que o velho não era exatamente um Alex Atala.
O leite em pó é um substituto muito prático para o leite natural. Assim deveria continuar a ser. Não é um ingrediente de doces.
- Vinagre balsâmico
Na região de Módena, norte da Itália, o aceto balsâmico é um condimento feito com o mosto (suco cozido) da uva. Pode envelhecer por muitos anos, perdendo volume e ganhando valor agregado. Existe também a versão barata, feita com o mosto jovem misturado a vinagre comum. É esse o vinagre balsâmico que a gente usa.
Vinagre balsâmico tem um gosto intenso, característico, que combina com algumas coisas (parmesão e rúcula, por exemplo), mas não com tudo. Não é um substituto do vinagre de vinho. Não é para ser despejado aos litros na salada do quilão.
- Salmão
Fulaninho e fulaninha vão jantar no rodízio japa e se entopem de: temaki de salmão, sashimi de salmão, teppan de salmão, hot roll de pele de salmão. Quanta criatividade, mamãezinha do céu.
No Brasil, ficou combinado que salmão é um peixe nobre e acessível.
Ele já foi um produto de luxo, antes que se descobrisse a possibilidade de criar o peixe em monstruosas fazendas marinhas.
O salmão de maricultura só tem a carne alaranjada devido aos pigmentos adicionados à ração. Ele adoece muito facilmente nos tanques superpovoados: por isso, recebe doses cavalares de medicamentos preventivos. E seu gosto não é páreo para o salmão selvagem, pescado em mar aberto, caro e difícil de se encontrar.
Na próxima vez que for ao japa, está liberado pedir outra coisa.
- Pimenta biquinho
O gosto da pimenta biquinho é tão forte que fulmina todos os outros componentes de uma receita. E ela não arde. Para que serve uma pimenta que não arde?
- Costela ao molho barbecue
Tem gente que adooooora esse trem. Calma, é só uma costela de porco assada e coberta com um molho industrial cheio de aditivos, adocicado e enjoativo.
- Alho negro
Sou louco por alho. Quando apareceu esse tal de alho negro –uma versão fermentada e concentrada do alho–, eu não sosseguei até experimentar.
A expectativa é a mãe da decepção.
O alho negro é um condimento que rouba a cena só para ele, como a pimenta biquinho. Mil vezes melhor o alho natural. Vamos deixar o alho em paz, por favor.