Comida e cerveja na barbearia: uma ideia de jerico
Algumas coisas definitivamente não combinam.
Sunga com sapato social. Açaí com vinho tinto. Camisa branca com restaurante japonês.
Fico aqui matutando por que diabos alguém achou que seria legal combinar comida e bebida com barbearia.
O pior é que as massas adoram. Não que isso conte pontos para a “bar-bearia”: o Brasil tem vocação inequívoca para abraçar ideias de jerico.
Existe um motivo para que cozinheiros sempre usem o cabelo curtinho – ou touca, turbante, boné… qualquer coisa que cubra a cabeça. Fios de cabelo caem, voam e vão parar no prato do cliente.
Numa barbearia, a atmosfera é cheia de fragmentos de cabelo, de barba e de outros pelos. Eles estão pelo chão, no ar, nos móveis, nas roupas dos profissionais. Por que comer em um lugar assim?
As operações são separadas, alguém pode argumentar. Beleza: salão de barbeiro no térreo e restaurante na sobreloja. Os bastidores estão fora do campo de visão do cliente, esse é o ponto.
Mesmo que não haja contaminação, a ideia é bizarra por si. Você dormiria num hotel que também é funerária? “Nenhum defunto deitou nesta cama, posso lhe garantir.”
Há a questão da bebida também. O conceito de barbearia hipster e gourmet envolve sempre uma cervejinha grátis. Além de rock, objetos que remetem ao motociclismo, às vezes até um hambúrguer com muito bacon. Tudo para fazer o freguês levitar de tanta virilidade.
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Você já tentou beber enquanto alguém lhe faz a barba?
Para os seres humanos de ambos os sexos que nunca sentaram na cadeira de barbeiro, vou explicar como a coisa funciona.
O sujeito põe um babador em você e reclina o encosto até quase deitar. Aí cobre seus olhos com uma toalha, pois vai voar barba para todo lado. Com uma tesoura ou com a máquina elétrica, vai aparando os pelos. A boca fica cheia de fiapos.
Imagine tomar um bom drink nessa situação.
Eu já passei por isso. Fui a um evento de coquetelaria que presenteava os convidados com um tapa na barba. Pão-duro que sou, aceitei e levei meu gim tônica comigo.
Precisava pedir para o chefia interromper o trabalho sempre que eu queria dar um gole. Engoli cabelo até dizer chega.
Como último argumento, tente enxergar a cena pelo outro lado: o do barbeiro.
Uma vez, o cara que fazia a minha barba reclamou que a freguesia arrota na cara dele quando toma cerveja. É natural. Você engole uma bebida gasosa e deita de barriga para cima. O gás tende a sair.
Você não quer arrotar na cara do seu barbeiro, quer? Por mais chato que seja o papo do cara, é muita sacanagem. Ou não?