Gente que não gosta de comer

Notícia menos relevante e mais curiosa da semana: o café da manhã do presidente eleito Jair Bolsonaro é pão com leite condensado.

Juízo político à parte, isso é tacanho. E releva um traço peculiar da personalidade do capitão: ele não dá importância para a comida. Ninguém minimamente preocupado em comer bem faz um desjejum tão surreal. E exibido no “Jornal Nacional”, como se fosse uma demonstração de que Bolsonaro é um homem comum.

O desinteresse pelo prazer mundano denota ambição desmedida, competitividade compulsiva e fome por poder e influência. É um comportamento frequente nos políticos em ascensão, não importa o pendor ideológico.

O sujeito sempre tem muito a fazer, muito a conquistar. Refeições são uma necessidade incômoda, como fazer xixi ou resolver assuntos bancários.

Pegue outro vitorioso das últimas eleições, o futuro governador João Dória. Quando prefeito de São Paulo, planejou dar ração às crianças da rede pública de ensino. Um negócio sem gosto e sem cheiro para misturar no mingau dos alunos.

A repercussão das intenções do prefeito foi péssima. Dória, candidamente, não entendeu o repúdio. Aparentemente, ele vê a comida como combustível.

Não é preciso ser político para tratar a comida com desdém. Quem nunca teve um colega que sempre recusou os convites de almoço para mandar um sanduíche de atum na mesa do escritório? Quem não conhece uma pessoa que janta lasanha congelada, resignadamente e todas as noites, porque não teve iniciativa de montar uma cozinha?

Vide a praga da tal alimentação funcional.

Levada ao pé da letra, a expressão indica que o alimento em questão deve desempenhar uma função específica no organismo de quem o ingere.

Tomate contra câncer de próstata. Alho para regular a pressão. Soja para baixar o colesterol. Tem ainda a comida de marombeiro, que está de fora do conceito clássico de alimentação funcional: omelete de claras para ganhar massa muscular.

Quando a alimentação é um meio de obter algo –e não um fim em si–, o sabor e o prazer ficam em segundo plano.

Existem pessoas que acumulam coisas e pessoas que desfrutam dessas coisas. Sobre o primeiro grupo, escapa à minha compreensão aonde ele quer chegar. Juntar dinheiro e prestígio, que maravilha. Vai fazer o que com isso?

De que adianta ter 1 bilhão na conta se o jantar vai ser peito de frango seco com batata-doce cozida? De que vale o poder quando um pão com leite condensado o aguarda na manhã seguinte? De que vale ser belo e sarado se o preço é viver à base de barrinha de whey? Acho triste.

Quanto a mim, eu só acumulo tecido adiposo.