Por que pagamos pau para restaurantes gringos que abrem aqui?
Num sábado de 1981, meus pais me levaram a uma lanchonete que acabara de abrir na avenida Paulista: um certo McDonald’s, que eles conheceram no ano em que moraram nos Estados Unidos. Era a segunda loja da rede no Brasil, a primeira em São Paulo.
Minha mãe falava entusiasmada dos arcos enormes que faziam a letra M sobre o imóvel em que ficava a bodega. Isso em 1956, num buraco qualquer do meio-oeste norte-americano. No Brasil de 1981, o Mac já tinha mais ou menos a mesma aparência de hoje.
Ela não admitiu, mas ficou decepcionada. Quando chegou a comida, então, cruz credo. Aos 11 anos de idade, saí de lá sem entender por que meus pais tinham essa estranha nostalgia. A batatinha era boa, mas e daí? A das Lojas Americanas também era.
Os anos passam, e o brasileiro continua o mesmo paga-pau de qualquer coisa que venha do exterior. Se vier dos EUA, não precisa nem de resenha positiva no Tripadvisor.
Tivemos Pizza Hut, KFC, Domino’s, Subway, Burger King, Wendy’s, Outback Steakhouse, Olive Garden, TGI Friday, Applebee’s, Serafina, Taco Bell, Benihana. Cada qual com um grau diferente de auê na estreia brasileira.
Mais recentemente, dois casos que beiraram a histeria: as inaugurações do Jamie’s Italian e da Carlo’s Bakery. O primeiro, do chef inglês Jamie Oliver, no Itaim; o segundo, do confeiteiro americano Buddy Valastro, famoso por fazer esculturas com bolo na TV, nos Jardins. Ambos tiveram filas por semanas. Ambos fazem comida bem medíocre.
PAUSA PARA O MERCHAN: agora você tem receitas exclusivas da Cozinha Bruta no Instagram. Acompanhe também os posts do Facebook e do Twitter.
O caso da vez é o Nobu, cadeia de restaurantes japoneses com origem norte-americana, que abriu esta semana sua primeira casa no Brasil. Nos Jardins, evidentemente.
Impulsionado pelo prestígio do amigo e sócio Robert De Niro, o japonês Nobu Matsuhisa é o responsável por uma série de inovações no serviço da gastronomia nipônica: ambiente ocidentalizado e meio de “buatch”, com luz baixa e música alta, comida com concessões à cultura alimentar ocidental, horários flexíveis e clima festeiro amauryjunioriano.
Tem seus méritos? Claro.
Mas o modelo foi replicado e imitado e reinterpretado à exaustão em todo o mundo, durante todos esses 25 anos – o Nobu original, de Nova York, abriu em 1993.
Quando o original chegou ao Brasil, já estava envelhecido e ultrapassado.
Não questiono a qualidade da comida do Nobu. Nunca comi lá, mas imagino que o nível seja bem alto.
Meu ponto é: o que o Nobu acrescenta à cena gastronômica paulistana? Na minha opinião, nada além de mais um lugar para torrar dinheiro em status e ostentação.
A gastronomia japonesa é muito bem representada em São Paulo. Assim, a chegada do Nobu significa muito menos do que, por exemplo, a inauguração do La Mar –que ocorreu quando conhecíamos muito pouco da comida peruana. Arrisco dizer que até o Coco Bambu tem mais peso. Ainda que um tanto brega, é representante solo da culinária litorânea cearense.
Para uma refeição japonesa internacional boa de verdade, sem afetação, sem hype e com preço justo, eu indico o Ikkousha. A primeira filial brasileira de uma cadeia de restaurantes de lámen com sede no Japão. Mas você é incapaz de dizer: o clima é igualzinho ao dos vizinhos “japas” da Liberdade.