Alimento artesanal brasileiro precisa ficar barato para sobreviver
Uma das coisas que mais me incomodam na militância foodie é o dedão na fuça de quem consome produtos convencionais. Como se fosse uma obrigação moral do indivíduo comprar somente alimentos artesanais, de pequenos produtores e/ou, não menos importante, produzidos localmente.
Eu procuro adquirir comida que atenda a esses critérios. Mas não vou comprar toda a minha cesta básica de produtos assim – não sobraria dinheiro para a escola do meu filho.
Os ativistas gastronômicos deveriam entender que o consumidor obedece a uma lista de prioridades. Comida de qualidade é uma prioridade altíssima para eles; para a população em geral, não é. E os preços praticados pelos produtores de elite não ajudam a popularizar sua mercadoria.
Podem alegar que a escala, a tributação, o custo da matéria-prima e o trabalho envolvido aumentam o custo do produto. Podem ter razão nesse argumento. Importa muito pouco para quem precisa organizar um orçamento doméstico.
O consumidor faz sempre um cálculo mental de custo e benefício antes de levar este ou aquele item. Eu faço. Por que pagar o dobro por algo que dá exatamente o mesmo prazer? Desculpem-me, eu não tenho o dever de alavancar a produção brasileira.
O ativismo de supermercado simplesmente não funciona.
Um exemplo com que me deparo quase todos os dias: no supermercado em frente à minha casa, o queijo grana padano legítimo é vendido pelo mesmo valor do similar nacional. Quando não está mais barato. O queijo brasileiro é bem bom, só que é mais caro que a sua referência. Quero um motivo plausível para não meter o queijo italiano no carrinho.
E olha que o parmesão em questão é fabricado por um industrial de porte grande. Os queijos artesanais de verdade, feitos pela aristocracia rural em fazendas centenárias, são mais proibitivos ainda.
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Agora o Brasil produz azeites. São bons azeites. O problema é que uma garrafinha de azeite nacional custa cerca de R$ 60. Por esse preço, compra-se um azeite português ou chileno de melhor qualidade.
A lógica vale para o vinho, a cerveja, os embutidos, os condimentos, as massas, os molhos, o chocolate, o café, qualquer alimento considerado “fino”.
O produto nacional precisa ficar mais barato. Só vai sobreviver quem for competitivo. Caso contrário, essas comidas bacanas à beça estarão condenadas eternamente à condição de curiosidade. Aquele “negocinho especial” que você compra quando vai receber amigos em casa.
Como tornar competitiva produção artesanal brasileira? Não sei. Não é problema meu. Nem problema do contribuinte – salvaguardas e taxação são armas sujas do protecionismo. Se um negócio não é viável, a solução é mudar de ramo.