Black Frauday, aqui vamos nós!
Aleluia, chegou a Black Friday! Ou seria Black Frauday?
Já não aguentava mais o “esquenta”. Desde agosto venho recebendo spams com promoções maravilhosamente imperdíveis.
Teve black week toda semana. Black November. Que tal black year? “Ano negro”, faz bastante sentido. Exceto pelo fato de que 2019 promete ser bem pior. Vamos nessa toada desde 2013.
Logo que essa história começou, fiquei deslumbradão. Não amanheci na calçada do Magazine Luiza, mas cometi o desatino de comprar uma máquina de lavar, online, antes de o galo cantar. A loja não quis honrar o preço anunciado. Precisei gastar muito verbo e muita bile para fazer valer meus direitos.
Hoje fico de olho apenas nas promoções de comida e bebida. Em vez de uma smartTV, um vinhão; no lugar de uma adega climatizada para acomodar o vinhão, um salame para matar tudo em um só jantar.
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É muito difícil avaliar quais ofertas valem a pena. Como já cunhou a sabedoria popular, a Black Friday é aquela ocasião em que tudo custa a metade do dobro.
Moro em frente a um supermercado há quase 20 anos. Vou lá quase todos os dias –basicamente porque, bem, tenho minha própria dose de manias e compulsões. Enfim, acompanho bem de perto a flutuação dos preços dos alimentos.
Um produto –azeite, digamos– é vendido a R$ 20. Um dia, do nada, o mesmo azeite surge com uma etiqueta de R$ 30. Aí vem uma promoção daquelas “o turco ficou louco”. Desconto de 50% na segunda unidade. Na ponta do lápis, R$ 17,50 por azeite. Ou, em comparação com o preço lá de trás, um desconto de 12,5%. Mas só se levar dois. Tem também aquele café que sempre foi vendido com 25% de desconto – hoje mudou o esquema, é “leve 4, pague 3”.
Essa malandragem é apenas um dos problemas de ações como a Black Friday.
Outra maracutaia é o uso da data para dar uma limpa nos estoques indesejáveis. Mercadoria próxima do vencimento. Ou que não vende porque é xexelenta.
Esse ardil é particularmente comum no comércio de cerveja.
Cerveja, para quem não conhece bem, costuma ser altamente perecível. Uma garrafa próxima da data de validade não vai fazer mal à saúde de ninguém. O gosto da dita-cuja, no entanto, está muito distante do auge. Comprar cerveja em promoção é fria.
O pior aspecto da Black Friday é a anulação, por 24 horas, dos ensinamentos de 5 mil anos de civilização. O supermercado se torna zona de guerra.
Senhoras de cabelo roxo se unham por um filé com preço de acém. O padre compra todo o estoque de picles, como se fosse rezar a missa do Apocalipse. O carrinho cheio não pode ficar sem vigilância por um segundo. Vacilou, passam a mão. E o sistema sempre se esquece de computar os descontos no caixa.
Vou resumir a Black Friday em uma palavra: não. Mas espere, o aplicativo do celular apitou. Cara, isso parece bom!
É mais forte do que eu. E não custa atravessar a rua para o mercado.
*Post adaptado do texto “Black Friday: antes nunca do que tarde”, publicado originalmente em 17/11/2018