Por que não frequento restaurantes no Itaim
O problema sou eu, não é o Itaim.
Imagino que muitos paulistanos, nativos ou de adoção, sintam algo parecido. Mudam os bairros, mas a sensação é a mesma.
De forasteiros, já ouvi incontáveis vezes: “como você consegue morar em São Paulo?”. Eu mesmo me pergunto isso quando a cidade fica particularmente infernal.
São Paulo é grande demais. Tem gente demais. O traçado das ruas não obedece a nenhuma lógica rastreável. Tem muito barulho, muita sujeira. O transporte público empaca, o individual também. Cai um pontilhão na Vila Leopoldina, trava tudo nos arredores de Congonhas. Não dá para viver bem num lugar assim.
Para não enlouquecer, os habitantes daqui criam defesas. Dão um jeito de neutralizar um ou outro aborrecimento que São Paulo lhes impinge.
A solução que encontrei foi delimitar a minha área de trânsito.
Pouco saio dos limites imaginários da minha São Paulo particular. Ela é uma cidade de 617.792 habitantes. Algo entre a população de Cuiabá e a de Feira de Santana, na Bahia. Não é um vilarejo empoeirado.
Nasci em moro em essepê desde sempre –com a exceção de alguns meses no exterior e 40 dias no Rio.
Minha terra natal é a esquina da Basílio da Cunha com a Paulo Orozimbo –zona chamada por nós de Aclimação, de Cambuci pelos Correios e de Vila Mariana pelo cemitério a cem metros dali.
A vida me empurrou para o oeste. Faculdade, amigos, trabalho, tudo começou a se concentrar no lado ocidental da cidade. Moro em Perdizes há quase 20 anos e cada vez menos sinto vontade de ir muito longe daqui.
Quando deixei de ser um cara CLT e passei a trabalhar em casa, descobri o maravilhoso mundo do bairro. O carro quase não sai da garagem. Meu passatempo favorito virou buscar serviços a menos de três quadras de casa.
Com menos compromissos fora, não sobra muito o que fazer extramuros. Quando saio para comer, gosto de ficar na minha São Paulinho –ela engloba o centro e seus apêndices (Liberdade, Bom Retiro), os dois lados da avenida Paulista, Higienópolis, Pinheiros e Lapa. Também Perdizes, é claro.
A cidade ficou muito mais simpática e acolhedora. Porque não perco tempo no trânsito, basicamente.
Não saio para comer no Itaim porque não me interessa visitar o Itaim. A divisa do meu território, a sudoeste, é a avenida Brasil.
Tampouco vou almoçar ou jantar em Moema, na Vila Nova Conceição, na Vila Olímpia, no Brooklin. Morumbi, nem nos piores pesadelos. Atravessar rios em SP, só em situações muito excepcionais. Isso me torna cidadão estrangeiro nas zonas norte e leste da cidade. Ao bairro onde cresci, vou para visitar minha mãe. Quando ela morrer, não terei razões para voltar.
Nada contra esses lugares todos. Quanto ao Itaim, confesso que sinto alguma antipatia àquilo que ele representa para mim: um espírito playboy típico das piores elites paulistanas. Algo que abunda também nos Jardins e contamina até a Vila Madalena.
Mas que, para mim, é simbolizado principalmente pelo Itaim. Sei que perco boa comida, mas é a vida: não se pode ter tudo. Sei também que a minha generalização põe no mesmo balaio um monte de lugares com perfis distintos.
Como eu disse lá em cima, o problema sou eu.