7 vezes em que o Brasil bajulou a cozinha dos EUA sem entender nada

Bater continência para americanos está na moda. Assim, faço uma pequena compilação de episódios em que cozinheiros e consumidores brasileiros, no afã de afagar os americanos, não entenderam coisa nenhuma. Não que o original seja essa maravilha toda…

 

Casual dining

Brasileiros acham o máximo levar a petizada, cada infante com seu iPad, a redes como Applebee’s e Outback. Quando viaja aos EUA, só come nesse tipo de restaurante porque, afinal, existe algo mais americano? “Miga, lá é muito melhor do que aqui, muito top!”

A minoria pensante americana abomina esses lugares. Para eles, equivalem ao Frango Assado ou ao Giraffa’s –cadeias de restaurantes para quem não pode pagar por algo mais digno.

Mas, é forçoso admitir, não há nada mais americano do que uma costelinha ao molho doce com maçã assada.

 

Salsicha no café da manhã

O café da manhã é um momento de vergonha alheia em qualquer hotel brasileiro que se julgue “internacional”.

Ao lado dos ovos mexidos queimados, sempre há um réchaud com salsicha em molho de tomate com a plaquinha em inglês: “sausage”.

Queridos hoteleiros, a “sausage” que os americanos comem no “breakfast” é linguiça. Salsicha, por sinal, eles chamam de “hot-dog”, esteja ou não dentro de um pão comprido.

 

Brunch

O brunch –misturas das palavras em inglês para “café da manhã” e “almoço” – é um conceito muito peculiar dos Estados Unidos. Não faz sentido algum nos países de cultura latina. É o café da manhã do domingo, quando as pessoas se permitem acordar um pouco mais tarde e beber enquanto comem frango com waffles.

Lá funciona porque os americanos jantam às cinco da tarde. Com o brunch, fazem a primeira refeição às 11h e à tardinha pedem comida chinesa para dormir na frente da TV.

Aqui, o brunch vai tarde adentro. Ou então a pessoa toma um café da manhã pantagruélico e vai almoçar na hora do jantar americano. De uma forma ou de outra, bagunça totalmente o fuso horário brasileiro.

Ressalva importante: a bloody mary é uma grande aquisição cultural.

 

Cheddar

É um queijo inglês –o mais tradicional dos queijos ingleses– que foi transmitido a todas as colônias. O que chegou aqui foi uma corruptela da acochambração feita pelas redes de fast food: uma pasta alaranjada como Donald Trump, um processado de quinta categoria.

 

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Food trucks

Eles são a expressão americana da comida de rua. Em cidades como Nova York e Los Angeles, estacionam a cada dia nos cantos em que acham vaga. Atendem os passantes e eventuais seguidores das redes sociais, usadas para divulgar a localização momentânea.

Aqui, food truck deveria ser a tia do dog. O pastel de feira. O china do yakissoba. A baiana do acarajé. Essa é a nossa cultura de comida pedestre.

No Brasil, food truck é um serviço de catering sobre rodas para eventos.

Fuó.

 

 

Hamburguerias

Isso é algo que não existe nos Estados Unidos. Eles têm os diners, que servem um cardápio extenso de sanduíches e várias outras coisas. Têm as lanchonetes fast food, assim como nós as temos. E têm restaurantes das mais diversas especialidades. Uma peculiaridade: metade desses restaurantes tem pelo menos um hambúrguer no cardápio. Custa menos do que a média dos pratos e costuma ser sensacional. A hamburgueria, com serviço completo, prato único e preços de restaurante, é típica do Brasil.

 

Comida mexicana

Cerca de um quarto da área dos Estados Unidos já foi México um dia. Isso inclui a Califórnia e o Texas, os dois maiores estados norte-americanos.

Os gringos –apelido pouco lisonjeiro que lhes foi dado pelos latinos– convivem com os mexicanos há séculos, literalmente. Toda a cultura do oeste dos EUA é meio mexicana. E aí houve o refluxo migratório.

Assim, toda cidade americana tem um restaurante mexicano em cada esquina, fora os cozinheiros mexicanos que trabalham em  casas de outras tipicidades. O mexicano é o nordestino dos Estados Unidos. Sem ele, não tem construção e não tem cozinha.

Tudo isso significa que os americanos estão muito bem familiarizados com a comida mexicana verdadeira e todas as suas variações regionais. E também que eles tiveram tempo o bastante para fazer a versão Disney, toda fake, da comida mexicana.

É dessa que os brasileiros gostam, porque a maior parte dos nossos não explora sozinho um palmo de lugar nenhum quando viaja ao exterior.

E aí montam, no Brasil, restaurantes “mexicanos” que são a cópia desbotada de uma visão preconceituosa. Péssimo.