Como alguém consegue gostar de açaí?
Acho que era junho.
Estava em Belém pela primeira (e, até agora, última) vez na vida. Nunca havia passado tanto calor –Manaus era uma etapa seguinte na viagem. Suava tanto que cheguei a entrar na Loja Marisa só para filar um pouco de ar-condicionado.
Levei indicações da “Veja” regional, algo muito respeitado na época.
Certa manhã, eu e minha mulher saímos às 7h e pouco para provar o suposto melhor açaí da capital mundial do açaí.
Fuén!
A revista não dizia, mas o tal lugar não funcionava naquele determinado dia da semana.
Calma. Levava comigo os endereços do segundo e do terceiro colocados.
O vice-campeão ficava a umas dez quadras dali. Tranquilo. Ainda era cedo, clima ameno. Sei.
Você não deve saber o que é caminhar um quilômetro em Belém sob o sol das oito e meia da manhã. Chegamos desidratados.
“Dois açaís, por favor”.
“Aqui é só para levar”.
Fuén 2 (A Missão)!
Pegamos um táxi de volta para o hotel e também um saco plástico com o segundo melhor açaí da Via Láctea, para não admitir a derrota. Deixei o saco no frigobar e finalmente tomei café da manhã.
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Juro que não é má vontade. Juro que me esforcei para gostar de açaí.
A raspadinha roxa que fazem aqui no Sudeste, com xarope disso e daquilo, numa barca cheia de chocolate granulado e leite condensado, é indecente. Meu filho de 6 anos adora.
Dizem que no Norte é que é bom. Com peixe frito e farinha.
Lá em Belém, no mercado do Ver-o-Peso, nenhum restaurante me falou ao estômago. Era muito calor, muita luz, muito barulho e um cheiro forte demais de óleo com sovaco de urubu. Eu ainda não tinha esta ocupação. Caso já a tivesse, encararia o desafio por amor ao ofício.
De volta ao hotel, resolvemos almoçar nosso açaí à beira da piscina, geladinho, com farinha flocada de tapioca.
Não colocaria açúcar. Sal? Creio que não. Aquilo tinha um gosto telúrico, metálico, longe de ser agradável. O solo amazônico em forma de purê.
Gente demais gosta de açaí para que eu diga: “não é bom”. Mas a verdade é que perdi qualquer curiosidade em relação ao açaí.
Espero que alguém me demonstre que eu estou errado.