O Natal da treta e do climão
Dormiu no ponto quem não brigou com a própria família em 2018. O racha familiar foi o must da primavera-verão e deve ditar as tendências da moda pelo menos até o próximo inverno.
Entre um pega e outro, existe algo chamado Natal. Aquela reunião de parentes que já traz constrangimento em tempos de paz –e que vem com um tempero todo especial este ano.
Até onde sei, ninguém ainda propôs cancelar o Natal. Seria o mais sensato. As grandes bolhas inimigas das redes sociais vão se encontrar dentro de cada lar brasileiro, no seio de cada família deste país. Vai dar caca. Na hipótese mais branda, vai assustar as crianças.
Mas o assunto é comida. Vamos pensar num cardápio adequado para o Natal de 2018.
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Antes, umas pinceladas de etiqueta. Vista-se adequadamente. Verde, amarelo e azul podem ultrajar alguns convidados. O mesmo para o vermelho. Como todos já usam branco no réveillon, sugiro trajes pretos. Ou roxos, para alegrar um pouco o ambiente.
A cozinha, idealmente, deveria ser operada por observadores internacionais. Muito fogo e muitas facas que podem cair em mãos erradas.
Comece servindo as bebidas. Neste calor, é fundamental se hidratar. Mágoa com gás e mágoa sem gás não podem faltar na festa. Para um pouco mais de cor e sabor, ofereça também alguns socos de frutas frescas.
O álcool entra para tornar a convivência suportável. Serve também como bode expiatório para as brigas que fatalmente virão. “Mal aí, primão, eu tinha bebido demais”, dirá você candidamente no ano que vem. Abasteça os copos com cerveja Drahma, espumante bruto e batidas sortidas. Evite rum venezuelano e conhaque Presidente.
Para petiscar, faça como os espanhóis: distribua tapas para todo mundo. Mexilhão ao alho e ódio, camarão pistola, batatas bravas. Se alguém pedir lula, desconverse.
E segue a festa: contra à cubana, porco à brasileira, patos com laranja.
Se estiver na praia, invista em pratos de peixe para brigar com classe. Treta à belle meunière. Arraiva com beurre noisette.
Bacalhau assado com batatas ao murro é um prato tradicional da consoada portuguesa. Suspeito que, neste Natal, vão faltar o bacalhau e as batatas: o murro vai ter de sobra. A família toda vai levar quentinha cheia de murro.
Adoce as bocas amargas com torta de climão. E pavê. O clássico pavê natalino. Pode ser de creme, pode ser de pêssego em calda, pode ser de nozes. Porque o tio do pavê é o único que pode salvar o natal da família. E a família é nozes. (Algo especialmente verdadeiro no meu caso.)
Bom Natal para todos. E vamos que vamos porque 2019 promete ser ó… uma trolha!