São Paulo maltrata o turista que vem conhecer nossa gastronomia
São Paulo não tem mar.
São Paulo é uma cidade de escassas belezas, naturais ou construídas pelo homem. O patrimônio histórico foi demolido para a construção da metrópole do café.
Por que raios alguém viria fazer turismo em São Paulo? Há algumas razões.
Alguns vêm fazer compras. Há os que vêm para ver peças musicais. Existem certos malucos do Brasil profundo que querem ter um gostinho do caos urbano.
E tem aqueles que vêm comer. Gente que viaja a São Paulo para desfrutar de nossos restaurantes.
São Paulo tem a melhor e mais variada cena gastronômica do Brasil. Inegável.
Mas a gastronomia paulistana tem muitos, muitos, muitos problemas.
Um deles é deixar ao léu o forasteiro que chega cheio de expectativas.
Além de tudo o que eu falei lá em cima, São Paulo é uma cidade grande demais, confusa, difícil.
Por comodidade e falta de conhecimento, a turistada termina comendo sempre nos mesmos lugares. A ver:
- Mercadão
- Arapucas pós-teatro: rua Avanhandava e complexo Paris 6
- Arapucas étnicas: cantinas do Bixiga e feira da Liberdade
- Restaurantes famosos: Mocotó S.A., Fasano & Cia, casas de Alex Atala e da família Rueda
- Restaurantes de chefs celebridades: jurados do MasterChef et caterva
Digamos que a oferta ainda está superior à de Arapiraca, mas São Paulo poderia fazer melhor.
Precisaria, claro, tirar a bunda da cadeira. Coisa para a prefeitura, para o governo estadual, para os sindicatos patronais ou uma associação dessas entidades, de preferência com patrocínio privado.
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Guias, tours gastronômicos, aplicativos, festivais… há tanto a fazer para promover a comida paulistana. Algumas atrações que, na minha opinião, são subestimadas:
A cena botequeira paulistana: Luiz Fernandes, Frangó, Academia da Gula, Valadares e tantos outros. O Rio já promoveu os seus bares e BH se diz a capital brasileira dos botecos. Os nossos não ficam nada a dever aos cariocas e mineiros. Falta dar um gás na divulgação.
A comida dos novos imigrantes: restaurantes peruanos, feira dos bolivianos, casas palestinas, sírias e africanas. Coisas que não se encontram em outras partes do Brasil.
Os japoneses underground: São Paulo é um dos melhores lugares no mundo para conhecer a culinária japonesa, mas as massas (humanas) só querem saber de sushi. Temos a comida de Okinawa do Deigo, a espantosa variedade de udon do Meu Udon, o ambiente caseiro do Kidoairaku, o lámen perfeito do Ikkousha e do JoJo, a cozinha criativa de Telma Shiraishi, do Aizomê. Sem falar nos muitos izakayas, botecões orientais. Matsu, Bueno, Toki, Kintaro, Issa. A São Paulo japa é demais.
O roteiro da pizza: todos os tipos e estilos de pizza de São Paulo. Napolitana (Leggera, Napoli Centrale), tradicional paulistana (Castelões, Speranza), moderna (Bráz Elettrica, Carlos, Divina Increnca) e por aí vai.
A Ásia paulistana: restaurantes chineses, coreanos, taiwaneses, vietnamitas, tailandeses. Outra variedade étnica que só São Paulo tem no Brasil.
Tem mais coisa, com certeza. Mas eu cansei e não quero te cansar também.
O turismo de gastronomia, em São Paulo, está na primeira infância. Ainda é tudo mato.