Quando vamos jantar na Cracolândia?

sUm ano atrás, uma notícia me empolgou: o edifício Altino Arantes, mais conhecido pelos paulistanos como Banespão, seria aberto ao público pelo novo proprietário, o banco Santander.

Melhor do que isso: o novo Farol Santander teria um café no topo. Com bar completo. Finalmente traríamos gente de volta para o centro antigo à noite. Mas o bar só funcionava na happy hour. Fechava cedo. Deixei o assunto de canto.

Retomo agora, novamente no aniversário da cidade, por causa do Bar do Cofre, no subsolo do mesmo prédio.

Não posso dizer se o bar é bom ou não –ele só deve ser inaugurado em fevereiro. Posso, sim, afirmar que ele é uma importante demarcação territorial. Vai servir coquetéis até a madrugada numa área que vira cidade-fantasma quando os corretores da bolsa vão beber no Itaim.

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O centro tem sido reconquistado aos poucos. Lentamente demais para o meu gosto.

Temos a região da Consolação, o chamado “Baixo Augusta” –detesto esse carioquismo sem propósito. O corredor de putas mais famoso de São Paulo virou zona hipster. Há quem goste, há quem deplore. Não dá para negar que ficou mais seguro.

Um pouco abaixo, as cercanias da República, da Vila Buarque e de Santa Cecília também foram reocupadas por gente que anda à noite e bebe à noite e come à noite na rua. Ponto para São Paulo.

Nos arredores do Paiçandu, o Bar dos Arcos levou movimento de gente comum ao Theatro Municipal (o agá fóssil é culpa do nome oficial do teatro). Outro ponto.

São apenas as primeiras batalhas vitoriosas da reconquista. Falta muito, muito a retomar. A maior parte da região central é inóspita depois do escurecer.

Na Liberdade, a atividade é toda indoor –as ruas não despertam confiança. O Bom Retiro tem uma vida noturna subutilizada: só coreanos frequentam o bairro quando as tecelagens fecham. O Brás, à noite, é um cemitério.

E há o pior dos problemas: as áreas da Luz e de Santa Ifigênia. A infame cracolândia.

Todas as cidades legais do mundo têm trânsito de pedestres e segurança (no sentido de tranquilidade) nas ruas de seus centros históricos. São Paulo não tem.

A abertura de um bar de coquetéis a poucos metros do Páteo do Colégio significa muito. É um reforço de peso à Casa de Francisca, restaurante/bar/casa de shows instalada nos arredores da Sé.

Mas São Paulo só vai ser uma cidade bacana de verdade quando pudermos jantar sem preocupações na Cracolândia. Ou melhor: quando aquele apocalipse zumbi voltar a ser Santa Ifigênia.

Estou esperando o metrô na porta de casa há 20 anos. Não tenho a esperança de viver para ver tamanha maravilha.