Brasil vai acabar com a melhor linguiça do mundo
Escrevo da praia.
Praia é sinônimo de churrasco. Churrasco é indissociável de linguiça.
Logo, você deve presumir que eu saí à caça de uma boa linguiça.
Estou mal-acostumado com a “butique de carnes” ao lado de casa. Nos comércios praianos, voltados para a churrascada, é impossível encontrar uma boa linguiça sem aditivos bizarros.
Provolone, gorgonzola, nozes, tomate seco, rúcula, azeitona, queijo de coalho, bacon, passas. Cuiabana (com leite) de boi e de carneiro. Limão-siciliano. Pimenta biquinho (eca). Frutas cristalizadas.
Tudo isso dentro das pobres linguiças.
Não dá para comprar a reles calabresa. Nem a toscana. Só a toscona. A linguiça feita com o rebotalho dos grandes frigoríficos.
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Um dos males do Brasil é a criatividade à toda e sem nenhum critério. Estamos fazendo com a linguiça o mesmo que foi feito com a pizza, o pastel, a tapioca, o hambúrguer, isso, aquilo e mais aquilo. Enfiando ingredientes aleatórios para ter um, aham, diferencial.
É claro que a linguiça permite brincadeiras com carnes e temperos e tais. Vamos lembrar o que é uma linguiça. Não estou brincando.
A linguiça existe porque, não muito tempo atrás, era a geladeira que não existia.
A família matava o porco. Comia fresca, em um ou dois dias, uma pequena parcela da carne. O resto virava presunto, copa, lombinho, bacon. Os pedaços pequenos, as aparas, eram salgadas e temperadas para não estragar. E ensacadas nas tripas do próprio porco. E postas para secar ou defumar.
É uma ideia tão bacana que existe em quase todas as culturas. Tem linguiça na Grécia, na Coreia, na Inglaterra, nos países muçulmanos (de cordeiro), na África do Sul.
Cada uma tem um tempero. Alho, erva-doce, sálvia, noz-moscada, pimenta, coentro em grão.
Amigos gringos que moram no Brasil simplesmente amam a nossa linguiça. Verdade. As linguiças inglesas e americanas não são páreo para as daqui.
O Brasil faz a melhor linguiça do mundo.
Mas corre o risco de estragá-la com frutas cristalizadas e outras bizarrices.