Você acredita em alimentos orgânicos?

 

“O Brasil falsifica roupa, bebida, azeite e até remédio, mas tem gente que acredita em produtos orgânicos.”

A provocação foi feita nas redes sociais pela pesquisadora culinária Marisa Ono, uma das raras vozes críticas e sensatas no mundo encantado da gastronomia.

Você acredita em orgânicos?

Enquanto Europa e Estados Unidos discutem se os alimentos orgânicos são melhores do que os convencionais, aqui o debate está alguns patamares abaixo. Lá o orgânico é homeopatia e acupuntura; cá ele é fada e duende. Especula-se sobre sua mera existência.

Não tenho motivo nem repertório para contestar os métodos e a idoneidade das certificações orgânicas no Brasil. Resta-me tomar por verdadeiros os produtos que vêm com o selinho.

Estes são, via de regra, industrializados. Café, azeite, molho de tomate, cerveja. Ou pelo menos estão embalados nos padrões exigidos por lei. Arroz, feijão, milho para pipoca, frango.

É implausível supor que empresas do porte da Unilever ou da Nestlé queiram arriscar a reputação com fraudes tacanhas.

No que diz respeito à certificação, já ouvi relatos de rigor excessivo. Muitos produtores (no Brasil e fora dele) simplesmente a dispensam. Praticam agricultura sustentável, mas consideram exagerados os requisitos para obter o selo.

O principal obstáculo, na maioria dos casos, é o veto ao uso de defensivos agrícolas em casos extremos –como uma praga que ameace destruir toda a colheita. O agricultor evita o seguinte dilema: perder a safra ou perder o status de orgânico.

Perder, como todos sabemos, é bem pior do que nunca ter ganho.

O problema dos orgânicos está nos pontos cegos. Naquilo que não se pode verificar.

Como saber se a cenoura vendida a granel é mesmo orgânica? Por que acreditar que o restaurante do rapaz tatuado usa mesmo ingredientes orgânicos?

Uma reportagem do “Fantástico”, exibida alguns anos atrás, mostrava um feirante de Recife que comprava vegetais comuns e os revendia como se fossem orgânicos – por um preço substancialmente maior, é claro.

O vídeo soprou uma nuvem de incerteza sobre minhas manhãs idílicas de sábado, quando exercito o bom-mocismo de paulistano zona oeste, na feira orgânica do Parque da Água Branca.

Esses ripongos estão me fazendo de otário? Por que estou pagando dez paus por um quilo de tomate?

Depois relaxei. Sei lá se o cara segue religiosamente todos os mandamentos da agricultura orgânica, mas o tomate que eu compro dele é indiscutivelmente gostoso. Muito mais gostoso do que o tomate do supermercado.

Acreditar nos orgânicos não tem nada a ver com fé. É uma questão de confiança. Confiar no vendedor? Nem a pau: confie no próprio paladar. Se o gosto for bom, vá em frente.

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