Bebidas coloridas e doces são o veneno do Carnaval

foto: Reprodução/UOL
Marcos Nogueira

As pessoas bebem no Carnaval porque, bem, de cara limpa não dá para suportar o Carnaval.

Faz muitos anos que não cometo a insensatez de correr atrás de um bloquinho. Naqueles tempos, a gente levava pra folia uma garrafa de uísque roubada do pai de algum dos moleques em questão.

Teve uma vez em que acampamos em Laguna, Santa Catarina, e fomos morro abaixo para o Carnaval com o uiscão de um amigo. Abrimos a garrafa, provamos e demos o veridicto quase unânime: aquela joça era falsificada. A fraude era tão óbvia que até pirralhos de 19 anos a detectavam.

O único que não percebeu a origem paraguaia do goró foi o amigo que havia levado o uísque. Ofendido, ele bebeu a garrafa inteira naquela noite. No dia seguinte, vegetou. E precisou tomar algum tipo de injeção aplicada por um farmacêutico que deixava o copo de pinga na mesinha ao lado.

Foi lindo.

Conto a história porque a TV UOL me convidou, este ano, a provar algumas bebidas populares entre a garotada dos bloquinhos. Eu sabia que eles bebiam mal, mas não imaginava que fosse TÃO mal. Assista aqui ao vídeo.

O repertório da degustação era uma paleta de cores que vai do amarelo-ouro ao violeta, passando pelo azul-cobalto leitoso.

Eu tomei:

  • Curaçao blue, licor de laranja tingido de azul. É algo que se usa para dar uma cor engraçadinha em coquetéis, mas o pessoal mama no bico da garrafa, purinha. Perto das outras coisas, era quase tragável.
  • Catuaba Selvagem na versão “piña colada” (aromas artificiais de coco e abacaxi). Ácida como o vômito que fatamente virá.
  • Askov sabor “frutas roxas”, um coquetel alcoólico com gosto de Ki-Suco de uva.
  • Um genérico de corote verde-escuro e com gosto de chiclete de menta.
  • Pedacinho do Céu, algo de coloração azul leitosa como amaciante de roupa, com gosto de bala de leite. Absolutamente nojento.
  • Batida de amendoim Baianinha. Perto da concorrência, um show de ingredientes naturais. Mas que não dá para beber mais do que uma bicada.

Qualquer uma dessas biritas é veneno puro. O doce e os aromas artificiais enganam o paladar adolescente (mesmo que o indivíduo em quest~]ao seja um pouco mais velho), que bebe litros de álcool de péssima procedência.

A consequência inevitável é uma ressaca destruidora e/ou a perda total antes de a folia terminar. Não descarto a hipótese de um pronto-socorro de leve…

O que beber no Carnaval, então?

É difícil dizer. O risco pode ser ainda maior nos carrinhos de ambulantes que servem drinques igualmente repulsivos. E a cerveja do tio do isopor fica banhada num caldo de coliformes fecais e gelo.

Ainda assim, eu ficaria com a cerveja. Um piriri é coisa suave perto daquilo que pode causar o arco-íris que eu provei.

 

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