Festa permanente é só um sintoma do nosso tédio infinito

O Carnaval já não tem hora para começar –muito menos para acabar.

No meio da folia, começo a receber e-mails de bares que querem vender cerveja tingida de verde sob o pretexto de celebrar um santo irlandês. Por sinal, o St. Patrick’s Day já deu lugar à St. Patrick’s Week.

Agora temos dois dias dos namorados. O brasileiro, inventado pelo pai do governador paulista para agradar ao comércio, e o gringo – o tal dia de São Valentim.

Crianças comemoram o Halloween, o Dia do Saci e o Día de los Muertos, tudo ao mesmo tempo, junto e misturado.

Quem precisa vender inventa o dia da pipoca, o dia do malbec, a semana da tapioca com brigadeiro, o dia da feijoada low fat.

Vivemos em festa permanente.

O negócio é comer, beber, comprar, ficar alegrão e celebrar. Celebrar o quê, mesmo? Sei lá, não quero bancar o mala.

Nós –refiro-me aos bem-nascidos do mundo– já não sabemos lidar com o tédio. E a má notícia é que nunca estivemos tão entediados quanto agora.

Tenho um exemplo cristalino aqui dentro de casa. Meu moleque de 6 anos não pode parar um segundo e já vem chiando. “Não estou me divertindo.” “O que eu faço agora?”

A festa que não para é só um sintoma do tédio que não tem fim.

Antigamente, ralávamos o lombo o tempo todo e não questionávamos a monotonia. A festa era catarse. A válvula de escape para um cotidiano ingrato que aceitávamos resignadamente.

Passamos a rejeitar essa rotina. A exigir diversão. O tempo todo.

Como tudo tem seu preço, um naco considerável do prazer de celebrar vai-se embora com essa banalização. Festejamos qualquer coisa sem nem saber direito o que é.

Como consertar isso? Cético e materialista que sou, não faço a menor ideia.

Vou tomar umas cervejas verdes para ver se tenho um insight.

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