Religião do deus Bacon só converte cabecinhas fracas
O setor da alimentação vive de modinhas para atrair clientes: fábricas de bolo caseiro, brigadeiro gourmet, barca de açaí, pizza no cone, panqueca de batata e por aí vai.
O destino dessas ondas é quase certo: o esquecimento. Caso mais notável de vagalhão efêmero foi a invasão das paleterias mexicanas. Multidões de empreendedores, iludidos por consultores picaretas, embarcaram e naufragaram.
Espantosa também é a exceção da turma: o bacon. Há mais de uma década vende-se bacon como se fosse o maná do deserto do Sinai.
Ontem mesmo eu passei por uma esquina aqui do bairro e notei que um boteco antigo havia mudado de nome. Agora chama-se Let it Bacon. Não é sequer um trocadilho eficiente, como o desgastado “de bacon a vida”.
Por sinal, outro clichê recorrente é dizer que “bacon é vida”.
Menos, meu povo da hispterlândia paulistana. Bacon é muito gostoso. Mas não passa de porco defumado. Porco bem morto, diga-se.
Como gosta de alertar o chef Raphael Despirite no Facebook: “Calma… é só bacon.”
O culto ao deus Bacon surgiu mais de uma década atrás nos Estados Unidos. Sorvete com bacon, curativo em forma de tira de bacon, vodca sabor bacon… puseram bacon até na mãe.
O entusiasmo arrefeceu, mas não morreu. No Brasil, apenas recentemente se tornou possível comprar bacon de qualidade, feito em escala pequena e com respeito ao tempo de defumação e cura. Ótimo. Eu mesmo já brinquei de fazer bacon –e meu site antigo, pré-Folha, tinha esse bacon como tela de fundo.
Tratam o bacon como se ele sempre fosse maravilhoso e pudesse deixar qualquer lixo gostoso.
Exemplo recente: o McDonald’s lançou um sanduíche cujo anúncio gritava, em letras garrafais, que tinha DEZ FATIAS DE BACON.
Crianças, desde quando isso é um atributo positivo? Ponha dez fatias muxibentas de bacon marromeno sobre um hambúrguer seco e… você sabe o resultado.
A adoração ao deus Bacon já foi longe demais. Só as cabecinhas ainda caem nela. Mas sua longevidade é um mistério para mim.
Coisas da religião.
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