Quem é você no almoço com o povo do escritório?

Segunda-feira. Chuva. Já me molhei para comprar sabão no supermercado.

Aturem meu mau humor.

Pelo menos não tenho que aparecer num escritório qualquer para trabalhar. Voltar à rotina de chegar, sorrir, pegar café, responder uns e-mails, atender uns malas no telefone, mandar uns outros e-mails e partir para o almoço. O famigerado almoço com o povo do escritório. Com a galera da firma.

Estou livre disso –ou você não sabia que o desemprego também tem suas vantagens? Mas as memórias de mais de 20 anos de almoço de crachá ainda são vívidas na minha mente.

O almoço com os colegas de trabalho é um teatrinho em que cada um desempenha um papel bem definido. Saiba a seguir qual é o seu:

 

O agitador

Às dez da manhã, ele começa a mandar mensagens para os colegas para combinar o almoço. Às 11h30, ele já não consegue ficar sentado e se concentrar no trabalho. Ao meio-dia e meia, ele dispara o alarme de incêndio para arrancar as pessoas das mesas. Esse era eu.

 

O recluso

Sempre leva alguma coisa para comer na própria mesa. Sempre alguma coisa muito sem graça. Iogurte com granola. Sanduíche natural. Salada de atum. As pessoas pensam que ele tem problemas financeiros e não pode gastar com almoços fora. A verdade é que ele é antissocial.

 

O sequestrador

Aquela pessoa que aparece toda semana com um programa de almoço para resolver seus próprios problemas. “Meu celular morreu, vamos almoçar no shopping?” “Preciso dar um pulinho rápido no Detran, que tal comer praqueles lados?”

Invariavelmente, esse indivíduo vai atrasar a sua vida. No mínimo, vai atrasar bastante a sua volta para o trabalho.

 

O aventureiro

Está sempre descobrindo lugares para experimentar. Uma temakeria nova. Uma filial do Outback recém-aberta. O quilo mais barato de todos os tempos. Todas as novidades, invariavelmente, serão um fiasco. Mas o aventureiro é brasileiro e não desiste nunca. E seus colegas, não muito espertos, vão atrás dele nas roubadas.

 

A âncora

“Mais 5 minutos” é a frase que define esse tipo. Ele sempre tem algo muito urgente para resolver antes de descer para o almoço. E segura o grupo, ao garantir que será muito rápido. Nunca é.

 

O casal secreto

Nenhum dos dois pode se juntar ao grupo, pois ambos têm coisas a resolver. Coisas diferentes, cada um numa parte diferente da cidade. Quando o primeiro sai do escritório, você pode cronometrar: o outro não demora mais dois minutos para sair. Chegam juntos de volta, dizendo que se encontraram por acaso no elevador. Estão de banho tomado. E pedem um sanduíche cada um às 14h30. Ninguém desconfia que eles estão saindo juntos.

 

O do contra

Todos querem japonês, ele quer feijoada. O grupo decide comer churrasco, ele tenta levar todos à feira para comer pastel. Ele é sempre voto vencido. Seu mau humor destrói o clima do almoço.

 

O vegetariano na churrascaria

É a versão light do personagem anterior. Ele não reclama, apenas acompanha silenciosamente. Ante à falta de opções no cardápio, ele escolhe comer farofa com vinagrete. Todos ficam tristes. Tristes por não poder zombar do amigo. Personagens similares são o “não come peixe no sushi bar” e o “em dieta no rodízio de pizza”.

 

O bicho-preguiça

Come devagar. Conta as mastigações. E fala, como fala o bichinho! Geralmente ele ocorre em grupos grandes, no refeitório da firma. Apenas ele continua a comer, enquanto o resto fica constrangido com a presença de pessoas em pé esperando a desocupação da mesa.

 

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O estagiário duro

Não tem dinheiro para acompanhar o grupo. As pessoas ficam com pena dele e o carregam para o almoço especial da sexta-feira, no restaurante de frutos do mar. O desgraçado pede lagosta com vieiras, e a galera precisa rachar o prejuízo.

 

O patrão

Encontra os funcionários no elevador e se sente obrigado a conversar com eles. Aí alguém o convida para almoçar. Ele não consegue recusar. As cenas a seguir demonstram que o sujeito nunca na vida havia posto os pés num restaurante por quilo.

 

O auditor

Quando chega a conta, ele se julga injustiçado na divisão em partes iguais. Exige a contabilidade discriminada de cada gasto individual. O processo atrasa em meia hora a saída do restaurante. Mas, para o gozo geral, o sujeito que pediu a auditoria paga mais do que o resto –culpa daquela taça de vinho que ele pediu sem olhar o preço.

 

O esquecido

Descobre, apenas no fim da refeição, que se esqueceu de levar a carteira. Sujeito vil e desprezível.

 

O maníaco monotemático

Come sempre a mesma coisa, em geral algo bem estranho. Na última empresa em que trabalhei, havia uma cara que almoçava todos os dias o seguinte: duas porções de batata frita com muito queijo ralado e um six-pack de refrigerante dietético. Como ele é meu amigo no Facebook, posso garantir que a dieta não o fulminou.